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Os profissionais de saúde já eram acometidos pela síndrome de burnout, mas o aumento exponencial de demanda nos hospitais com a pandemia de covid-19 provocou uma elevação dos casos. É isso que aponta a professora do departamento de psicologia da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto) Marina Greghi, que pesquisa o assunto. “Verificamos um aumento da incidência nesses profissionais da síndrome de burnout, mas também de outros problemas de saúde mental — como ansiedade, depressão, estresse — em um nível mais alto que na população de forma geral”, observa.

Sobrecarga e insegurança

“Como a gente tem um ambiente agora de muita sobrecarga, muitas pessoas para serem atendidas, esses fatores de riscos aumentam. Alguns apareceram com a pandemia: maior insegurança de se contaminar, de contaminar a família. E outros se acentuaram: a falta de condições de trabalho, falta de equipamentos de segurança, equipes reduzidas.”, lista a professora.

Este ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que a síndrome de Burnout seria classificada como doença crônica ligada ao trabalho. “Antes era colocado como uma responsabilidade do indivíduo, agora é compartilhada com a responsabilidade da empresa. Então essa nova classificação mostrou que as empresas também têm uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento da síndrome”, conclui a administradora e fundadora da página “Vencendo o Burnout”, Helloá Regina, também entrevistada neste podcast.

Veja mais:

Professores estão vulneráveis a síndrome de burnout

Transcrição do Áudio

Música: “O Futuro que me alcance” (Reynaldo Bessa), versão instrumental, fica de fundo

Marina Greghi:
As categorias de profissionais da educação e da saúde já vinham sendo acometidas pela síndrome de Burnout, eles tinham maior incidência. Com a pandemia, a gente verifica um aumento da incidência nesses profissionais da síndrome de Burnout, mas também de outros problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, estresse, num nível mais alto que a população de forma geral.
Eu sou professora, meu nome é Marina Greghi Sticca, departamento de psicologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto. Saúde do trabalhador e Burnout já é um tema que eu venho trabalhando a alguns anos dentro do meu grupo de pesquisa.

Helloá Regina:
O problema é quando a gente ignora esses sinais. Não é uma fraqueza, não é frescura, não é falta de vontade. Ela precisa e deve procurar ajuda, porque depois que ela iniciar o tratamento ela vai ver que vale a pena viver melhor. A síndrome de Burnout ela é um aviso, um freio que serve pra mostrar pra gente que a gente pode ter uma vida ainda melhor do que a gente tinha antes. Então, não desista do tratamento, porque vale a pena.
Meu nome é Helloá Regina, eu sou administradora, palestrante e fundadora da “Vencendo o Burnout”

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
O termo Burnout foi empregado pela primeira vez em meados dos anos 1970. Ele designa o esgotamento emocional de profissionais em que o trabalho implica em constante relacionamento humano.

Marina Greghi:
Síndrome de Burnout ela também é conhecida como síndrome do esgotamento profissional. A definição da Organização Mundial da Saúde é que ela é uma síndrome resultante de uma exposição ao estresse crônico no trabalho. Então, ela é caracterizada primeiro por uma exaustão emocional – o profissional ele tem uma perda de energia, uma falta de entusiasmo. Depois também pode acontecer o que a gente chama de despersonalização, que é uma insensibilidade emocional. Isso aparece como uma estratégia de proteção daquele profissional, então ele acaba sendo mais intolerante a situações, tendo atitudes frias no próprio atendimento e, por fim, aí uma questão de falta de realização no trabalho: uma baixa autoestima, né? Um aumento de erros, isso também pode ser consequência desse adoecimento.

Música: “Música e Trabalho” (Ed Motta e Rafael Denis), com Ed Motta
Eu não nasci pra sofrer
Eu percebi que a vida
É muito mais que vencer

Marcelo Abud:
Helloá tinha 21 anos quando conviveu com a síndrome. Durante o tratamento fez pesquisas e percebeu que havia pouca orientação sobre o tema. Desde 2016, ela está à frente da página “Vencendo o Burnout”, no Facebook. Com o início da pandemia de covid-19, percebe o aumento de acessos por parte de profissionais da saúde.

Helloá Regina:
Após a pandemia, isso ficou muito mais claro assim. A gente tem visto profissionais da saúde realmente sobrecarregados, eles têm estado realmente exaustos, eles chegam muitas vezes com relatos de que passaram o dia inteiro vendo cenas muito difíceis e, quando chegam em casa, não conseguem se desligar e eles precisariam de um descanso de um descanso maior, mas eles nem podem porque a pandemia ainda não acabou.

Marina Greghi:
E isso acaba aparecendo nas estatísticas, pelo aumento no número de afastamentos desses profissionais. E um outro fenômeno que acontece é que muitas vezes esses profissionais não se afastam, né, mas eles continuam trabalhando adoecidos, que é um fenômeno que a gente chama de presenteísmo, que é quando o indivíduo ele não está com sua capacidade para o trabalho, mas ele não se afasta. Isso acaba tendo impacto no desempenho. E como a gente tem um ambiente agora de muita sobrecarga, muitas pessoas para serem atendidas, esses fatores de riscos eles aumentam. Alguns apareceram com a pandemia, então, maior insegurança de se contaminar, de contaminar a família. E outros se acentuaram: a falta de condições de trabalho, falta de equipamentos de segurança, né, equipes reduzidas… tudo isso impacta diretamente no trabalho e acaba afetando a saúde mental desses profissionais.

Helloá Regina:
Mas outros fatores também contribuem. Quando este profissional não tem muita autonomia, por exemplo. Se ele percebe que ele não consegue definir nem, minimamente, quanto de liberdade pra decidir as demandas dele ele tem, a chance de desenvolver a síndrome de Burnout é muito maior, porque segue ordens, faz tarefas mesmo que elas não estejam em quantidade, nível e forma adequados pra ele. E quanto mais as pessoas deixam de se cuidar, quanto mais negligentes as pessoas são, mais o quadro da pandemia se agrava e menos autonomia, menos motivação esses funcionários, esses trabalhadores da área da saúde acabam tendo. Então fica um ciclo que parece infinito.
E eu fico muito preocupada, porque imagine como ficarão, em larga escala, lá no futuro, todos esses profissionais que agora estão se esgotando de tanto trabalhar.

Música: “Capitão de Indústria” (Marcos Valle / Paulo Sergio Kostenbader Valle), com Erasmo Carlos
Eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer

Marcelo Abud:
Desde janeiro deste ano de 2022, o Burnout está na lista de doenças da Organização Mundial da Saúde, OMS, como uma síndrome crônica ligada ao trabalho.

Marina Greghi:
É bem importante este reconhecimento com um fenômeno do trabalho, que isso vai refletir tanto no diagnóstico, né, da doença, que era muito confundido com a depressão e o próprio estresse em si. E, também, a questão do própria afastamento, porque antes era muito difícil você ter um afastamento por Burnout, porque ele não se caracterizava como uma doença do trabalho.

Helloá Regina:
Antes se tratava de uma reação ao estresse grave. O Burnout era uma reação do indivíduo ao estresse grave. Então, se tratava de uma questão individual. A diferença é de que agora a definição é de que há prejuízo ao indivíduo por má administração do estresse grave. Antes era colocado como uma responsabilidade do indivíduo, agora é compartilhada com a responsabilidade da empresa. Então essa nova classificação mostrou que as empresas, as organizações também têm uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento da síndrome.

Marina Greghi:
Com essa mudança, provavelmente a gente vai ter uma maior incidência e, com isso, a gente gera uma demanda pra que isso seja trabalhado no nível das políticas públicas, mas também dentro das organizações. Então, a gente tem intervenções que são individuais, como a psicoterapia, o acompanhamento, né, a estratégia de regulação emocional, técnicas de manejo de estresse, mas isso a literatura já mostra que, de forma isolada, tem um efeito menor, né? O que precisa ser feito são também intervenções dentro da organização pra poder melhorar essas condições de trabalho. Então, quando essas intervenções elas são unificadas – intervenções individuais com organizacionais – os resultados, tanto pra prevenção quanto pra promoção de saúde são muito melhores.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
A alta prevalência da síndrome de Burnout entre profissionais da saúde pode ser atenuada. Isso acontece quando o ambiente de trabalho tem boas relações entre a equipe, suporte social e organizacional e autonomia.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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