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Diante da atual crise climática, a sigla ESG entrou em evidência. Mas o que exatamente essas três letras traduzem na diminuição dos impactos sociais e ambientais de uma empresa? “ ‘E’, que tem a ver com uma palavra no inglês que significa meio ambiente; o ‘S’, que aí é fácil, é social; e o ‘G’, que quer dizer governança, faz parte de uma conceituação que hoje está super forte sobre critérios, exatamente, de respeito ao meio ambiente, preocupação com o social e de uma boa gestão”, explica o ambientalista e diretor do Instituto Escolhas, Sergio Leitão.

A primeira vez que a sigla ESG apareceu oficialmente foi em 2005, no relatório Who Cares Wins (em português, “ganha quem se importa”), resultado de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU). “Não adianta só você dizer que tem critérios ESG. (…) A pergunta é: como é que eu posso saber que uma empresa que está lá dizendo ‘eu tenho uma preocupação com esses critérios’, realmente está fazendo a diferença na prática?”, questiona Leitão.
No áudio, o ambientalista elenca as perguntas que devem ser respondidas para uma empresa estar alinhada ao conceito ESG; e afirma que as pessoas têm começado a se preocupar mais com o envolvimento das empresas em relação a essas práticas.

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Transcrição do Áudio

Música: “O Futuro”, de Reynaldo Bessa, em versão instrumental, fica de fundo

Sergio Leitão:
Me diga aonde investes, me diga como investes, me diga o respeito às pessoas; me diga se você tem critérios para trazer pessoas negras para o seu quadro de direção, para o seu quadro de empregados; me diga como é que é o critério de transparência das suas atividades e eu te direi se tu és ESG mesmo ou é apenas um rótulo que usa sem que a verdade corresponda àquilo que você anuncia.
Meu nome é Sérgio Leitão, eu sou diretor do Instituto Escolhas, que faz estudos e propõe soluções na área da economia e do meio ambiente.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Provavelmente você já ouviu falar em E.S.G. ou ESG. A sigla entrou em pauta para expandir o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Mas você sabe o que, exatamente, ela significa?

Sergio Leitão:
Essa sopa de três letrinhas – que são iniciais no inglês “E”, que tem a ver com uma palavra no inglês que significa meio ambiente; o “S”, que aí é fácil, é social; e o “G”, também, que é fácil porque quer dizer governança – faz parte de uma conceituação que hoje está super forte sobre critérios, exatamente, de respeito ao meio ambiente, preocupação com o social e de uma boa gestão, né, que é o que a gente chama de governança, dos investimentos, da atuação das empresas, dos bancos, das instituições financeiras.

Marcelo Abud:
Apesar de estar em alta agora, a sigla E.S.G. ou ESG surgiu pela primeira vez há mais de 15 anos.

Sergio Leitão:
E essa conversa começou lá atrás, em 2005, quando a ONU, a Organização das Nações Unidas, fez um relatório que se a gente for aqui fazer a tradução pra facilitar a compreensão, se chamava “Ganha quem se Importa”, falando exatamente da necessidade de que naquele momento, em 2005, os bancos já se preocupassem com o destino dos seus investimentos, ou seja, quando um banco financia uma atividade agrícola ou a construção de um empreendimento ou apoia uma determinada fonte de energia, qual é a repercussão disso sobre o meio ambiente? Isso impacta pessoas que por acaso possam sofrer os efeitos da construção de uma estrada? E como é que é a questão da governança? As mulheres estão presentes nos conselhos dessas instituições, dos bancos? Existe transparência, ou seja, é possível você mandar uma carta ao banco e saber quem está fazendo parte daquele investimento, quem são os investidores? Então tudo isso, não é, resumindo nessas três letras, nessa sopa de letrinhas, quer dizer, ao final, qual é a sua preocupação com a questão dos critérios ambientais, sociais e de governança?

Música: “Hagua” (Gabriel De Moura Passos / Jorge Mario Da Silva / Joviniano Cesar Da Silva), com Seu Jorge
Poluição, devastação, queimadas
Desequilíbrio mental
Desequilíbrio do meio ambiente

Sergio Leitão:
Não adianta só você dizer que tem critérios ESG, porque como ficou uma coisa muito importante ainda mais depois dos relatórios daquele painel da ONU sobre a questão do clima, da mudança climática, dizendo exatamente que o mundo precisa prestar atenção. O Brasil está enfrentando agora uma ameaça gravíssima de um novo apagão e uma ameaça gravíssima também de ficarmos sem água. Todo o sudeste do Brasil está enfrentando uma seca muito forte. São Paulo de novo está como esteve em 2014, a Cantareira, a Guarapiranga, né, as nossas represas que abastecem a cidade e a região metropolitana, num nível muito crítico. Então como isso agora está muito relevante, a pergunta é: como é que eu posso saber que uma empresa, um banco, que está lá dizendo ‘eu tenho uma preocupação com esses critérios’, realmente está fazendo a diferença na prática? Senão, vira aquele rótulo que todo mundo usa e ao final e na prática mesmo a gente não sabe dizer quem é quem no jogo da verdade.

Marcelo Abud:
O que de fato caracteriza uma mudança de atitude no sentido de se atender às urgências ambientais, sociais e de governança?

Sergio Leitão:
E aí uma questão que é fundamental é a gente perguntar para os bancos, para as empresas: você é ESG por que mesmo? O que você faz na prática que te diferencia? Você recusa um investimento, se você tiver uma avaliação de que ele vai, por exemplo, afetar direitos de populações vulneráveis? Vai criar tensão junto a um povo indígena na Amazônia? Aquela estrada vai passar por dentro de uma comunidade, que se perder aquela terra não vai ter mais o que fazer, vai perder suas histórias, seus costumes e vai ficar jogada em alguma periferia de uma grande cidade, completamente fora do seu padrão, até então, existente, cultural? Então, essas questões é que precisam ser feitas pra que a gente possa apurar, de verdade, se quem diz que é ESG é ESG mesmo.

Música: “Mudança” (Gilberto Gil)
Sente-se algo diferente: a massa quer se levantar
Pra ver mu-dança
O time da mu-dança

Sergio Leitão:
No final, saber, você mudou que prática? Você perdeu um investimento, porque ele ia fazer mal a uma comunidade? Ou você está deixando de investir nas chamadas energias sujas, que são aquelas que provocam exatamente o drama da mudança climática ou poluem demais, e está indo para a energia do sol, que é a energia solar? A energia eólica, que é a energia dos ventos? Ou seja, investindo naquilo que o Brasil tem de sobra, mas que ainda não é o que faz o país se iluminar exatamente com elementos da natureza que não são poluidores, que não agravam o problema da mudança climática.

Marcelo Abud:
Algumas pessoas têm se preocupado mais com o que consomem. Elas começam a se mostrar dispostas a optar por produtos e serviços de empresas responsáveis com o meio ambiente, a sociedade e a própria gestão.

Sergio Leitão:
Então já tem muita gente, sim, que hoje procura fazer a simples pergunta: de onde vem o ouro que eu estou investindo? Será que esse ouro vem da Amazônia, vem de uma terra indígena, vem de uma unidade de conservação? De onde vem a carne que eu estou comprando, pra saber se ela não vem de um desmatamento na Amazônia, se não está afetando uma população que não tem nem como se defender? E como é que os meus critérios de compra ajudam a melhorar a vida das pessoas nas grandes cidades, nas cidades do Brasil? Critérios sociais, ambientais e de governança já começam, felizmente, a fazer parte da vida das pessoas. E é por isso mesmo e é um grande motivo, pra que ela seja, a sigla, absolutamente levada a sério. As empresas não podem maquiar, fazer de conta. Os bancos não podem dizer que têm sem ter, porque quem fizer isso vai perder o seu cliente, vai perder o seu consumidor.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
A sigla E.S.G. ou ESG ganha mais destaque à medida em que o mundo se vê diante de episódios que evidenciam a crise climática. Torna-se urgente que a sociedade como um todo esteja atenta e aja de forma a diminuir os impactos sociais e ambientais gerados pela ação humana.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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