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Qual o potencial para a agricultura urbana e periurbana abastecerem a população da região metropolitana de São Paulo? A resposta a essa pergunta está no estudo “Mais perto do que se imagina: a produção de alimentos na metrópole de São Paulo”, realizado pelo Instituto Escolhas e divulgado no final de 2020.

“Geralmente no nosso imaginário a gente pensa agricultura longe, nas zonas rurais, mas a agricultura pode estar mais perto do que se imagina. Então a gente chama de agricultura urbana aquela produzida, praticada dentro da área urbanizada. E a agricultura periurbana é aquela da borda, que está na transição entre as áreas bem urbanizadas e as áreas rurais”, contextualiza a doutora em ciências sociais e coordenadora da pesquisa Jaqueline Luz Ferreira.

Entrevistada neste podcast, ela aponta que seria possível abastecer quase toda a população de 22 milhões de habitantes da Grande São Paulo, que correspondem a 10% da população brasileira, com legumes e verduras plantados nessas áreas. Atualmente, a região depende de produtos que rodam o país inteiro. “A gente encontra um potencial de abastecer 20 milhões de pessoas na metrópole de São Paulo. Isso significa cultivar 60 mil hectares. Chega a ser quase toda a população da metrópole”, pontua.

Outro dado do levantamento é a geração de emprego e renda: “A expansão da produção periurbana abrangeria 60 mil hectares. Estamos falando de 180 mil novos postos de trabalho. E nesses 200 hectares cultivados das áreas urbanas da metrópole, a gente está falando de mais mil trabalhadores envolvidos”. A pesquisadora cita ainda a redução de desperdício de alimentos, principalmente perecíveis, em função de se encurtar circuitos de comercialização entre produtor e consumidor. “Você também tem questões mais relacionadas ao capital cultural mesmo da cidade, porque está estimulando paisagens diferenciadas na metrópole”, conclui.

Veja mais:

Versão interativa do estudo

Publicação reúne informações sobre agricultura urbana

E-book ensina passos para a criação de horta na cidade

Transcrição do Áudio

Música “Here I Come”, de Mikos da Gaud, de fundo

Jaqueline Ferreira:
No mundo todo quando se fala de sistema alimentar está discutindo rastreabilidade, que é você saber da onde que vem o seu alimento. E quando você traz essa produção pra perto, você está de alguma forma sabendo mais da onde vem seu alimento; você tem maior capacidade de tornar essa cadeia mais justa; aumentar a remuneração do agricultor e diminuir o preço para o consumidor; e isso pode ser feito desde por supermercados, com o poder público e também pelo consumidor final, eu e você.
Meu nome é Jaqueline Ferreira, eu sou gerente de projetos e produtos do Instituto Escolhas; nosso trabalho aqui é pensar soluções para o desenvolvimento sustentável.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
A Grande São Paulo concentra 22 milhões de habitantes e, atualmente, depende de produtos que rodam o país inteiro para ser abastecida.
O Estudo “Mais perto do que se imagina: a produção de alimentos na metrópole de São Paulo”, realizado pelo Instituto Escolhas, aponta que poderíamos abastecer praticamente todo esse contingente de pessoas, com legumes e verduras plantados na própria Grande São Paulo.
A doutora em ciências sociais e coordenadora da pesquisa, Jaqueline Luz Ferreira, explica que isto seria possível a partir da expansão da agricultura urbana e periurbana.

Jaqueline Ferreira:
Geralmente no nosso imaginário a gente pensa agricultura longe, nas zonas rurais, distante, mas a agricultura pode estar mais perto do que se imagina. Então a gente chama de agricultura urbana aquela produzida, praticada dentro da mancha urbana, ou seja, dentro da área urbanizada. E a agricultura periurbana é aquela da borda, que não chega a estar tão distante, né, que está naquela área de transição entre as áreas bem urbanizadas e as áreas rurais. E o recorte você dá é a partir de um centro urbano, como São Paulo, mas poderia ser qualquer outra cidade com comércio, infraestrutura, lojas, instituições administrativas e tal; você poderia pensar qual é a relação da agricultura com aquele centro urbano usando essas categorias, né, urbano dentro dessa macha urbana; e perto, na área de transição, essa periurbana.

Marcelo Abud:
O estudo aponta que já há cerca de 5 mil estabelecimentos agrícolas urbanos e periurbanos em São Paulo.

Jaqueline Ferreira:
Se a gente pensar hoje no que já está estabelecido e pensar o que pode vir a ser, a gente encontra um potencial de abastecer 20 milhões de pessoas na metrópole de São Paulo. Isso significa cultivar 60 mil hectares. Chega a ser quase toda a população da metrópole, que é 22 milhões de pessoas. Isso a gente está falando abastecer com verduras e legumes, que são os produtos mais produzidos hoje, já na metrópole. São Paulo tem uma tradição de produzir nessa área periurbana, tem o chamado cinturão verde, que tem uma relação muito grande com produtores de mais de 40/50/60 anos, que já produzem na região e isso pode ser ampliado com políticas públicas específicas…

Música: “Agricultura Urbana”, com Zafenate
Plante uma alface, plante uma cebola
Plante misturado, anarquize sua horta
Uoho, ehe, aha agricultura…. urbana
Aha, a gente vai cantar.

Jaqueline Ferreira:
Se a gente olhar para o munícipio de São Paulo ele tem um mapa de terrenos vazios na cidade de São Paulo. Nossa simulação para o modelo de expansão da agricultura urbana foi feita pensando 200 hectares disponíveis, que é mais ou menos o que tem de área vaga no bairro de Sapopemba aqui no munícipio de São Paulo. Então se você for pensar que é um bairro que, enfim, de alguma forma pode estimular esse tipo de agricultura nesses terrenos; às vezes também pode abaixar o preço desses alimentos localmente, gerar emprego e garantir também segurança alimentar pras escolas, unidades de saúde, gerar uma economia bem localizada. Então existe esse mapeamento de terrenos vazios.
É importante que os governantes considerem a agricultura dentro do planejamento urbano, ou seja, tem a política de planejamento, de zoneamento da cidade, tem que considerar que agricultura é uma atividade importante, que ela deve permanecer naquele espaço e que não deve ser um espaço de expansão urbana. Até porque a gente sabe que quando expande as cidades trazem milhões de problemas, né?

Marcelo Abud:
As simulações do estudo demonstram o potencial da produção local para abastecer a metrópole com alimentos saudáveis. Além disso, a agricultura urbana também ajuda a colher mais emprego e renda.

Jaqueline Ferreira:
Pra produção periurbana se expande esses 60 mil hectares, a gente está falando de 180 mil novos postos de trabalho (isso é bastante significativo); e nesses 200 hectares cultivados das áreas urbanas da metrópole a gente está falando de mais mil trabalhadores envolvidos, então está falando de geração de renda. Você fomentar esse tipo de atividade econômica pode gerar bastante benefícios pra cidade: então gera alimentos, gera emprego, reduz desperdício, porque você está, de alguma forma, estimulando a produzir próximo, então você pode encurtar circuitos de comercialização entre produtor e consumidor e isso é muito significativo, especialmente quando você está falando de verduras e legumes, que são alimentos perecíveis, né? Além disso, você também tem questões mais relacionadas ao capital cultural mesmo da cidade, porque você está estimulando paisagens diferenciadas na cidade; você pode também estimular a redução de calor, porque você está preservando esse cinturão verde ou então até próprias áreas verdes dentro da macha urbana. O interessante é entender que uma atividade agrícola pode fazer parte do rol de atividades econômicas que são desenvolvidas na metrópole.

Música: “O Cio da Terra” (Milton Nascimento e Chico Buarque), com Pena Branca e Xavantinho
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão

Marcelo Abud:

O levantamento aconteceu em 2020, já sob efeito da pandemia do novo coronavírus. Para Jaqueline Ferreira, há aprendizados que reforçam o valor da agricultura urbana.

Jaqueline Ferreira:

A pandemia mostrou que os agricultores que dependem de uma cadeia muito longa de comercialização, com vários intermediários, quando tiveram a quebra da compra, né, que era constante ali, principalmente por conta dos restaurantes, dos serviços, tiveram que desperdiçar alimento justamente porque depende de uma cadeia muito longa de intermediários até seu consumidor final. Por outro lado, um aumento exponencial de compras diretas, seja por meio de cestas entregues por agricultores orgânicos, como também locais de comercialização que compram direto dos produtores. E isso teve muita relação com o fato dos moradores da metrópole terem que ficar em casa e ter que, né, cozinhar, têm que se virar ali pra cozinhar. Então quando você prepara o seu alimento você costuma pensar mais da onde ele vem.

Música: “Preciso – Melô do Mundiko” (Emicida)
Solo bom, pra se cultivar alegria
Vai dar pra fazer um jardim ali do jeito que ‘oce queria
Pendurar samambaia, umas flor em botão
Perto da porta fazer uma horta com coentro e manjericão

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:

A conclusão do estudo “Mais perto do que se imagina: a produção de alimentos na metrópole de São Paulo” demonstra a importância para um planejamento da agricultura com políticas voltadas aos alimentos nas áreas urbanas. Você pode acompanhar os detalhes no link que está no final do texto que acompanha esse áudio.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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