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As mulheres compõem um dos grupos mais afetados pela atual crise econômica, segundo a economista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e fundadora do No Front – Empoderamento Financeiro, Gabriela Chaves. Ela aponta o aumento das responsabilidades atribuídas às mulheres, por exemplo, com o fechamento das escolas no período agudo da pandemia de covid-19. Como consequência, muitas têm buscado novas alternativas de geração de renda.

Mulheres à margem

“Quando falamos de empreendedorismo – de inovação —, a gente está falando de todo um ecossistema que investe. Vemos que as mulheres ainda estão bastante à margem, batalhando muito pra conseguir se manter e conseguir manter o mínimo de dignidade pra si e para as suas famílias, diante da crise econômica que a gente está vivendo”, avalia.

Para a especialista, o machismo estrutural da sociedade brasileira faz com que haja maior dificuldade de acesso a investimentos e estímulos para que mulheres possam empreender: “Você vai ter desde essa tendência da sociedade a responsabilizar as mulheres exclusivamente pelas tarefas do cuidado a uma diferença sistêmica de remuneração entre homens e mulheres, mesmo nos postos de trabalho formalizados”.

Para mudar esse quadro, Chaves se empenha em cursos de educação financeira e, no áudio, traz três pontos que podem transformar ações de geração de renda em empreendedorismo. Para ela, trabalhar por conta própria não é sinônimo de empreender. É preciso trazer inovação.

Veja mais:

Maria Homem fala sobre as múltiplas jornadas da mulher durante a pandemia

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Gabriela Chaves:
As mulheres compõem um dos grupos mais afetados pelo desemprego; tiveram aí o aumento da dupla jornada de trabalho com o fechamento das escolas nos últimos anos… Como a gente não tem políticas sociais que deem conta da demanda de sustento dessas mulheres, muitas estão trabalhando por conta própria.
Quando a gente fala de empreendedorismo – e a gente está falando de inovação, a gente está falando de todo um ecossistema que investe – a gente vê que as mulheres ainda estão bastante à margem, batalhando muito pra conseguir se manter e conseguir manter o mínimo de dignidade pra si e pras suas famílias, diante da crise econômica que a gente está vivendo.
Eu sou Gabriela Chaves, sou economista pela PUC-São Paulo, tenho mestrado em economia política mundial pela UFABC e sou fundadora da No Front – Empoderamento Financeiro, que é uma plataforma de educação financeira que nasceu para democratizar o universo da economia.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Desde o início da pandemia, a responsabilização pelos cuidados da casa, a atividade profissional e o auxílio a crianças que não puderam ir à escola ficaram sobrecarregaram as mulheres. Com a crise econômica e o aumento do desemprego, houve ainda uma busca maior por geração de renda. No final deste áudio, Gabriela Chaves aponta três pilares que podem transformar essa geração de renda em empreendedorismo. Antes, a economista e educadora financeira explica que trabalhar por conta própria não é sinônimo de empreender.

Gabriela Chaves:
Nesse momento de crise econômica, onde muitas pessoas estão desempregadas, a gente vê que tem se popularizado o termo empreendedorismo, mas é importante a gente se atentar que ele não se aplica à realidade de todas as pessoas que trabalham por conta própria. Muitas mulheres estão trabalhando muito na prestação de serviços e no comércio, né, na venda ou revenda de determinados produtos.
Quando a gente fala de empreendedorismo, quando a gente olha, por exemplo, para startups que recebem grandes investimentos, as mulheres elas estão aí sub-representadas dentro desses grupos. É importante a gente entender esse conceito para gente poder classificar adequadamente a realidade das pessoas no Brasil.

Música: “Eu sou Mulher” (Julia Branco)
Eu quero mais do que uma casa, uma criança
Outra ideia de esperança
Eu quero mais continuar minha dança
Um passo aqui, um passo ali
Não ser uma promessa
Eu sou mulher

Gabriela Chaves:
O empreendedorismo não vai resolver todos os problemas do Brasil e é fundamental que a gente recupere o ritmo da economia e consiga ampliar o número de postos de trabalho para que o empreendedorismo assuma o seu papel social de produzir inovação e melhorar a competitividade dentro do segmento privado. E você não faz isso quando você tem um exercito de pessoas vendendo o almoço pra pagar a janta, mas sim quando você tem pessoas que estão sendo preparadas, que estão recebendo suporte, que estão recebendo investimento para poder trilhar esse tipo de caminho.
Ao mesmo tempo em que a gente precisa investir em inovação, investir no apoio de empreendedores, a gente também precisa pensar em como retomar o crescimento da economia, em como ampliar o número de postos de trabalho disponíveis para que se dedique ao empreendedorismo quem, de fato, tem paixão por inovar e não as pessoas serem obrigadas a empreender porque não tem trabalho disponível, sabe?

Marcelo Abud:
As mulheres têm mais dificuldade do que os homens, mesmo quando optam pelo empreendedorismo conscientemente.

Gabriela Chaves:
O machismo estrutural ele vai se apresentar na sociedade brasileira de diversas formas. Você vai ter desde essa tendência da sociedade a responsabilizar as mulheres exclusivamente pelas tarefas do cuidado a uma diferença sistêmica de remuneração entre homens e mulheres, mesmo nos postos de trabalho formalizados.
Então, quando a gente fala de mulheres e empreendedorismo, a gente tem um cenário de muito pouco investimento, de muito pouco capital inicial e condições que vão dificultar a vida dessa mulher na hora de empreender. Então, pensar o cuidado com as crianças, a alimentação, todo esse trabalho ele é socialmente transferido para as mulheres, de forma que as mulheres que empreendem elas estão sobrecarregadas com o acúmulo das jornadas.

Música: “Triste, Louca ou Má” (Andrei Martinez Kozyreff / Juliana Strassacapa / Mateo Piracés-Ugarte / Rafael Gomes / Sebastián Piracés-Ugarte), Francisco, el Hombre
E a vida reinventar
Ela desatinou, desatou nós (e um homem não me define)
Vai viver (minha carne não me define)
Eu sou meu próprio lar

Gabriela Chaves:
E outra questão é que, do ponto de vista do conhecimento, historicamente as mulheres nunca foram ensinadas, sabe? A gente tem sim um histórico, sobretudo no Brasil e quando a gente fala de mulheres negras, de mulheres que empreendem há anos, desde o pós-abolição, como forma de garantir a sua dignidade, de comprar alforrias para outras pessoas. E um exemplo disso são as ganhadeiras, as quituteiras, as baianas de acarajé, mas o que a gente vê é que para que esses negócios ganhem escala e consigam aí subir um patamar para além do patamar de subsistência, isso tudo é um processo que requer investimento, né, e o investimento no Brasil, hoje, ele é restrito a poucos e grandes empreendimentos.

Marcelo Abud:
Gabriela Chaves oferece cursos de planejamento e educação financeira. Aqui, ela indica três aspectos que não podem faltar para transformar geração de renda em verdadeiro empreendedorismo.

Gabriela Chaves:
Primeiro é entender ao máximo do seu negócio: o que que você faz? O que que você oferece de valor agregado? Quem são seus clientes? Onde você vende? Qual é o seu serviço? Então, acho que é muito importante ter uma dedicação aí constante em entender e definir qual que é o empreendimento e o negócio.

Marcelo Abud:
O segundo passo é separar as contas pessoais das despesas profissionais.

Gabriela Chaves:
Muitas pessoas que trabalham por conta própria elas acabam misturando seus gastos pessoais com os gastos do empreendimento. Um exemplo clássico são as doceiras, as pessoas que fazem bolo dentro de casa, que acabam comprando os ingredientes em conjunto com a compra do mês e, no final, as pessoas perdem aí uma noção de qual que é esse custo do empreendimento e quanto que você está se pagando. É muito importante que essas contas sejam separadas e você direcione uma conta para as suas despesas pessoais e uma conta para as despesas do seu negócio.

Marcelo Abud:
O terceiro e importantíssimo lembrete de Gabriela Chaves para que o empreendedorismo dê bons resultados é que a pessoa não esqueça de considerar o pagamento que vai receber.

Gabriela Chaves:
Muitas pessoas que trabalham por conta própria esquecem de colocar o seu custo, o valor da sua hora, na precificação do seu produto ou serviço. Então, é muito importante que as pessoas primeiro entendam qual que é o valor da hora de trabalho delas e incorporem esse valor no preço final do seu produto ou serviço, porque só assim você consegue garantir uma remuneração para si mesma.
Esses são os três pontos principais e inegociáveis para todo mundo que quer entrar nesse universo do empreendedorismo.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
A democratização do conhecimento sobre economia e finanças é importante para que todas as pessoas que queiram possam transformar geração de renda em empreendedorismo. Para Gabriela Chaves, a educação é a maneira de empoderar mulheres e pessoas em vulnerabilidade social.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

 

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