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Marcelo Abud

O isolamento social dos idosos pode ser agravado por diversos fatores, como o distanciamento da família e a perda da sensação de utilidade. Diante dessa realidade, o Centro de Valorização da Vida (CVV), que tem feito ações para conscientizar todos os públicos em suas redes, também alerta para a necessidade de atenção para essa faixa etária.

A preocupação é anterior à disseminação do novo coronavírus (covid-19) e tem origem em uma pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, divulgada no final de 2017. O “Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil”, apontou que, enquanto a média nacional é de 5,5 mortes por 100 mil pessoas, entre idosos com mais de 70 anos a média é de 8,9.

“A família, os filhos, às vezes, já têm outras atividades. Com isso, os idosos acabam se sentindo mais sozinhos, e a gente busca acolher, entender que é um momento difícil”, afirma Adriana Rizzo, porta-voz do CVV.

Adriana Rizzo se dedica há mais de 20 anos como voluntária do CVV (crédito: arquivo pessoal)

 

O Ministério da Saúde, com base nos dados do boletim, lançou uma agenda estratégica para atingir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de redução de 10% dos óbitos por suicídio até o final deste ano.

Uma das medidas que já apresentam resultados positivos neste sentido é a mudança do número do CVV para 188 – possível por meio de uma parceria com o Ministério da Saúde – e o fato de o atendimento ter passado a ser gratuito durante 24 horas por dia, em todo o território brasileiro.

“A gente começou com esse número em 2015. Na época, a gente atendia 1 milhão de pessoas por ano. Em 2019, já com esse alcance no Brasil todo pelo 188, a gente fechou com mais de 3 milhões de contatos”.

CVV faz alerta sobre aumento do isolamento de idosos no período da pandemia (crédito: divulgação)

 

Outra ação envolve a situação gerada pelo covid-19. Como os idosos acabam ficando ainda mais confinados em casa, isso pode gerar comportamentos como depressão, ansiedade e falta de paciência. Por isso, o CVV tem atuado nas redes sociais desde o início de abril para conscientizar a todos sobre a saúde mental deste público durante o período de isolamento.

Na entrevista ao podcast do Instituto Claro, Rizzo explica de que forma o CVV atua na luta pela diminuição dos índices de suicídio no Brasil e orienta como as pessoas podem se tornar voluntárias para fazer atendimento por telefone ou também por chat ou e-mail, por meio de um cadastro no site da organização

Link:
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Atualizada em 6/5/2020 às 11h03.

Transcrição do áudio:

Música de Reynaldo Bessa de fundo

Adriana Rizzo:
A gente tem buscado se oferecer, oferecer nossa ajuda, estimular que as pessoas busquem ajuda de alguma maneira, mesmo que não seja do seu dever. Mas que entre as pessoas elas possam conversar e se dispor a ouvir, né, umas às outras. Porque, às vezes, a gente se sente sozinho mesmo estando cercado por várias pessoas.

Eu sou Adriana Rizzo e sou porta-voz do CVV.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Distanciamento da família e perda da sensação de utilidade agravam o isolamento social dos idosos. Esta é a mensagem que o Centro de Valorização da Vida tem transmitido desde o início de abril. A ideia é conscientizar a todos para a necessidade de dar atenção a pessoas com mais de 60 anos, especialmente nesse momento.

Esse é um dos assuntos desta edição, em que o Instituto Claro conversa com a porta-voz do CVV, Adriana Rizzo.

Adriana Rizzo:
O CVV surgiu em 1962, em São Paulo. Um grupo de jovens visitava hospitais. E nesses hospitais eles perceberam muita gente que tinha tentado contra a própria vida. Quando eles se aproximavam dessas pessoas, elas tinham grande vontade de conversar, de forma que não eram julgadas, não eram criticadas. E começaram a perceber que isso era uma necessidade das pessoas: sentir que alguém se importava com elas; que se elas se sentissem acolhidas de alguma maneira, elas não sentiriam que a vida delas não vale a pena. E assim começou o CVV. Na época, as pessoas procuravam ir mais pessoalmente ao local que existe até hoje, que fica em São Paulo, na rua da Abolição. Foi o primeiro posto do CVV e hoje a gente tem mais de 120 postos espalhados  no Brasil, buscando oferecer esse apoio 24 horas. Hoje por telefone, por e-mail, por chat e pessoalmente também.

Música: “Como vai você?” (Antônio Marcos e Mário Marcos), com Nando Reis
“Como vai você? / Eu preciso saber da sua vida”

Marcelo Abud:
Não é de hoje que o CVV dá atenção especial aos idosos. O alerta aumentou após pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, divulgada no final de 2017. Ela apontou que a taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos é mais alta do que nas outras faixas etárias.

Adriana Rizzo:
A gente ficou sabendo realmente que o índice entre essa faixa etária tinha crescido. A gente nota que muitos acabam buscando o CVV, né, falando um pouco sobre como se sentem… muitas vezes a família, os filhos muitas vezes já têm outras atividades, acabam se sentindo mais sozinhos muitas vezes e a gente busca acolher, entender, compreender que é um momento difícil.

Marcelo Abud:
Rizzo cita os motivos que mais levam as pessoas a procurar o CVV.

Adriana Rizzo:
De uma maneira, às vezes, explícita ou não, se fala muito em solidão, em mesmo estando cercado de gente se sentir só, não se sentir respeitado, muitas vezes; ouvir muita crítica, muito julgamento. Estes assuntos de alguma maneira sempre estão ligados às pessoas, no geral, que nos ligam.

Marcelo Abud:
Uma agenda estratégica foi lançada pelo Ministério da Saúde para atingir a meta da Organização Mundial da Saúde de redução de 10% dos óbitos por suicídio até este ano de 2020. Entre as ações, destacam-se a capacitação de profissionais que atuam na prevenção e a mudança de número do CVV.

Adriana Rizzo:
Desde que a gente implementou esse número 188, que é gratuito, em 2015, a gente ainda atendia 1 milhão de pessoas por ano. Em 2019, onde já o Brasil todo era atendido pelo 188, a gente fechou com mais de 3 milhões de contatos. Hoje a gente consegue abranger todo o território nacional mesmo estando com posto de atendimento em todas as cidades.

Música: “Me Liga” (Herbert Vianna), com Os Paralamas do Sucesso
“Me liga, me liga…”

Marcelo Abud:
A ampliação do alcance do telefone 188 veio a partir de uma parceria com o Ministério da Saúde, que reconhece o CVV como instituição de utilidade pública federal.

Adriana Rizzo:
A gente tem uma parceria com o Ministério da Saúde e Anatel na concessão do telefone 188. E daí veio a gratuidade das ligações.

A gente pode considerar que 90% dos atendimentos que a gente faz é por telefone, porque ele funciona 24 horas e é gratuita a ligação. Depois começa a crescer e-mail e chat também.

Música: “Me liga” (Herbert Vianna), com Os Paralamas do Sucesso
“Mas sei, que não se pode terminar assim / O jogo segue e nunca chega ao fim”

Adriana Rizzo:
A gente procura ouvir de verdade o que a pessoa está trazendo sem colocar as nossas opiniões, sem fazer críticas ao que ela está passando, por mais diferente que seja a vida da pessoa. Porque eu estou conversando com ela, né, que ela me procurou como voluntária e eu vou tentar entender o que está acontecendo com ela. Exercer da melhor forma possível a empatia que está tão em voga, que a gente fala de enxergar o mundo com os olhos do outro, tentar se colocar no lugar dele. Isso que a gente tem procurado fazer como voluntário do CVV.

E exercitando isso, pra que a gente possa no nosso dia a dia mesmo, independente do horário só que eu estou lá fazendo plantão, mas que eu possa conviver com as pessoas e ser assim também com elas. Porque isso é o que vai fazer a diferença entre a gente poder ajudar alguém ou não, porque mesmo antes do isolamento físico a gente acabava tendo um isolamento emocional, né, então de repente esse isolamento físico pode resgatar o nosso convívio emocional.

Marcelo Abud:
A porta-voz do CVV acredita que qualquer pessoa pode ajudar outra que esteja passando por dificuldade. Para isso, no site do Centro de Valorização da Vida há um conteúdo que orienta como deve ser feito esse tipo de auxílio.

Adriana Rizzo:
A gente tem um material produzido, pode ser usado por todos, consultado, baixado, divulgado do nosso site que fala sobre isso, né, como ajudar alguém que está pensando em suicídio. Ele pode ser encontrado… nosso site é o cvv.org.br e tem um item que chama “Conheça Mais”, lá a gente tem materiais que são pra livre uso, pode ser baixado, utilizado, tem alguns vídeos. E lá a gente procura abordar isso, da atenção que a gente pode dar para as pessoas: então o conversar, estar próximo de alguma maneira mesmo que não presencialmente nesse momento; mas se você sabe que alguém não está muito bem, de repente mandar uma mensagem, telefonar, a pessoa saber que ela pode contar com você, de alguma maneira.

E se alguém for conversar com você e falar que não está bem, pra gente realmente ouvir essa pessoa, sem críticas, sem julgamento, entender que ela está passando por um momento difícil e que a gente pode fazer a diferença na vida dela ouvindo-a com sinceridade, com realidade ali para o que ela está dizendo, com atenção. A gente sempre procura estimular isso nas pessoas, para que elas possam conversar mais, se aproximar mais. Agora, nesse momento, pode ser uma oportunidade pra gente fazer isso.

Marcelo Abud:
Para a pessoa se tornar voluntária do CVV é necessário ter mais de 18 anos e participar de um curso preparatório gratuito, que pode ser feito inclusive on-line.

Adriana Rizzo:
Ele está acontecendo uma vez por mês. É só se inscrever pelo site do CVV (cvv.org.br), no item “voluntários”. Deixe um e-mail para contato e a organização do curso entra em contato com você. E aí você vai desenvolver o curso online pra ser útil pra alguém, se você tiver vontade é uma oportunidade bacana.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
O Centro de Valorização da Vida se empenha para a diminuição dos índices de suicídio no Brasil e, além de atendimento pelo telefone 188, também faz isso por e-mail, chat ou em centenas de postos em todo o país.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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