Leonardo Valle

Carla* tem 27 anos e já vivia com HIV há dez quando se viu em um contexto de bastante desesperança. Encontrou ajuda em uma roda de acolhimento para pessoas com o vírus e menos de 29 anos: o Viver Jovem, da organização não governamental (ONG) Grupo de Incentivo à Vida (GIV).

“Fui lá em um momento do meu tratamento em que estava desacreditada no que a medicina poderia fazer por mim. E cansada, porque já tomava a medicação há uma década. Pessoas que eu nunca vi na vida me acolheram e me ajudaram a encarar aquilo sem julgamentos. Isso me fortaleceu”, explica ela, que frequenta o grupo há um ano e dois meses.

A história dela é semelhante à de Gerson*, de 28 anos, que participa das atividades há quatro. Infectado por transmissão vertical (quando a mãe transmite o vírus ao filho no momento do nascimento), ele não teve a oportunidade de conhecer pessoas em situação parecida até frequentar a ONG. “Me achava um extraterrestre, o único no universo com isso”, revela.

As rodas de acolhimento são espaços onde quem vive com HIV pode expressar seus sentimentos, ouvir e ser ouvido e encontrar apoio. Apesar de muitas possuírem a figura de um mediador ou coordenador – como um psicólogo ou assistente social – os grupos são autônomos. No caso do Viver Jovem, a iniciativa existe desde 2010 e é voltada exclusivamente aos jovens.

“O projeto vem do grupo Viver Criança e Adolescente, que era voltado para crianças soropositivas ou filhos de soropositivos e seus familiares e ocorria desde os anos 90. Com o tempo, como eles cresceram, e não nascem mais crianças com HIV, o programa mudou”, conta a coordenadora Andrea Ferrara.

Ajuda mútua

No Viver Jovem, os encontros acontecem no primeiro sábado do mês (exceto feriados). “Basicamente, os participantes chegam, se apresentam e contam como chegaram lá. Às vezes, nós propomos uma atividade”, descreve Ferrara.

“Cada um compartilha muito do que vive. São pessoas que não se encontrariam em outro lugar se não fosse o diagnóstico. Cada um tem a sua realidade, sua vivência com o HIV e uma capacidade de se reinventar”, analisa Carla.

“Geralmente, alguém começa a falar e o encontro vai se desenvolvendo. Percebemos que naquele dia um ou outro precisa falar e ser ouvido, isso traz fortalecimento”, complementa Gerson.

A dinâmica serve como um espelho. “Cria-se empatia, pois são histórias diferentes. Os desafios do outro te tocam. Ao mesmo tempo, todos têm o fator HIV em comum e vivenciam situações parecidas, como tomar o remédio todos os dias e o acompanhamento médico”, acrescenta ele.

Segundo Ferrara, a própria diversidade do grupo é benéfica. “Há jovens de transmissão sexual, vertical, sanguínea, de diferentes gêneros e orientações sexuais. Quando há mais de um membro de cada grupo, facilita a identificação. Um se enxerga no outro”, analisa.

Para a coordenadora, o espaço ajuda na adesão ao tratamento e no aceite do diagnóstico. “Dizemos que a Aids é uma doença social, no sentido que atinge grupos mais vulneráveis. Para o jovem negro, pobre e que vive na periferia, isso vai além do medicamento. Se ele não tem trabalho, como se manter, perspectivas de futuro, o HIV é apenas uma das suas muitas preocupações”, contextualiza.

Tanto para recém-diagnosticados com o vírus HIV quanto pessoas que já vivem com ele, Gerson recomenda a participação em grupos de apoio. “Infelizmente, ao longo da vida, amigos que sabiam do meu diagnóstico se infectaram e eu os estimulei a procurarem rodas de acolhimento. Elas fazem você perceber que não está sozinho e deixam a caminhada mais tranquila”, assinala.

*Os nomes dos entrevistados foram alterados para preservar suas identidades.

Veja mais:
Site apresenta informações para jovens recém-diagnosticados com HIV
Coletivo Amem promove festas para debater HIV, gênero e negritude
ONU orienta sobre discriminação de pessoas vivendo com HIV

Crédito da imagem: Milkos – iStock

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