Leonardo Valle

O planeta possui 11 mil espécies de aves conhecidas. Apesar disso, a estimativa é que uma em cada oito esteja ameaçada de extinção, segundo a organização não governamental (ONG) BirdLife Internacional. Seu relatório, intitulado “O Estado das Aves no Mundo – 2018”, adverte que, sem a intervenção de entidades de proteção, pelo menos 25 espécies desses animais já teriam desaparecido na última década.

O desconhecimento sobre os pássaros, contudo, pode agravar o problema. Moradores da Reserva Rio de Furnas (SC) durante nove anos, os fotógrafos de aves Renato Rizzaro e Gabriela Giovanka perceberam que as visitas, exposições e encontros envolvendo alunos e professores do município tinham carência de informações sobre o tema. Para solucionar o problema, eles desenvolveram, em 2003, um projeto de sensibilização chamado “Roda de Passarinho”.

“O foco da atividade está em aprender a observar, reconhecer e investigar as aves”, afirma Renato Rizzaro

 

“Notamos que os participantes comentavam sobre o comportamento de elefantes, girafas e tigres, apresentados em programas de TV, mais do que sobre animais da fauna brasileira, particularmente aqueles que os circundavam”, relembra Rizzaro.

Assim, por meio de experiências lúdicas, eles passaram a transmitir o conhecimento sobre as aves que habitavam o entorno das comunidades e de outras espécies curiosas que viviam em localidades distantes, e que os moradores não teriam contato pelos meios de comunicação.

“O foco da atividade está em aprender a observar, reconhecer e investigar esses animais”, resume. “O projeto foi primeiro idealizado para a comunidade onde a Reserva Rio das Furnas está inserida, principalmente com os alunos da Escola Municipal de São Leonardo”, relembra o fotógrafo. Como o casal viajava para outras localidades para registrar espécies de aves, não demorou muito para eles levarem a iniciativa para outras crianças e, na sequência, para adultos também.

Sementes e sons

Para a Roda de Passarinho acontecer, o primeiro passo é a escolha do local, que pode ser numa sala de aula ou à sombra de uma árvore. “Formamos um círculo com um grupo de 15 a 20 participantes, entre sete a 12 anos, um ou mais professores e, quando possível, alguém da comunidade que se interesse pelo tema. O tempo é de aproximadamente duas horas”, conta Rizzaro.

São distribuídas fotos e imagens que incluem paisagens e exemplares da fauna e da flora, seguida de alongamento, movimentos inspirados nos animais e também um jogo cooperativo chamado tarrafa de bola, que desenvolve a sincronicidade e a colaboração.

Crianças da aldeia Tritopá durante a tarrafa de bola, jogo que ajuda a desenvolver a sincronicidade e a cooperação

 

“Depois, escutamos sons da natureza e gravações com o canto das aves. A adivinhação e identificação das espécies é estimulada”, relata. “Sementes secas, frutas e flores dos diversos biomas também são utilizadas, além de brinquedos feitos com esses materiais, como o pião de tucumã que é sempre festejado, assim como as flautas de taquara e bambu”, pontua

Segundo o fotógrafo, após a atividade, os participantes se sentem mais próximos dos pássaros. “As aves sempre foram cultuadas pelo homem, seja como símbolo de guerra ou imagens gravadas em túmulos de faraós, passando pela utilização de suas penas nos cocares dos nativos brasileiros”, conta.

Além disso, as curiosidades sobre as espécies costumam encantar os participantes da roda. “A andorinha, por exemplo, come cerca de 2.500 insetos por dia. E os urubus são extremamente importantes para o equilíbrio ecológico, pois evitam a disseminação de doenças. Sem contar que esses animais também são dispersores de sementes, bioindicadores e polinizadores potenciais, como é o caso do beija-flor”, lista.

Liberdade às aves

Por fim, a iniciativa tenta transmitir uma mensagem de não aprisionamento de pássaros. “O homem precisa aprender que a beleza, a delicadeza e o canto não podem ser capturados, somente apreciados”.

Ainda de acordo com o especialista, o cidadão pode colaborar com a preservação dessas espécies, plantando mais árvores e flores. “É preciso pensar na natureza como um organismo vivo e as aves como seres essenciais para a sobrevivência do nosso planeta”, finaliza.

Para saber mais sobre o projeto, Renato Rizzaro e Gabriela Giovanka disponibilizam materiais e relatos de participantes no blog Roda de Passarinho.

Crédito das imagens: Renato Rizzaro

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