As mulheres negras são o grupo com menor representatividade na indústria audiovisual, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine). A pesquisa “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos de 2016” apontou que profissionais negras não dirigiram ou roteirizaram nenhuma das produções computadas no ano. Foram analisados 142 longas-metragens lançados em 2016, nas categorias ficção, documentário e animação.
A direção e roteiro são ocupadas majoritariamente por homens brancos. Apenas 2% das produções tiveram homens negros nas duas áreas. As mulheres brancas dirigiram 19% dos lançamentos, possuindo maior presença na direção de documentários: dirigiram 29% e roteirizaram 25% dos filmes neste formato.
Reflexo da sociedade
Para a idealizadora do site Mulheres Negras no Audiovisual, diretora e roteirista Carol Rodrigues, a exclusão de mulheres negras no audiovisual é reflexo do machismo e do racismo estrutural e institucionalizado na sociedade brasileira. “No mercado de trabalho em geral, os cargos mais precarizados, os menos valorizados e os subempregos ainda são ocupados pelas mulheres negras. A produção audiovisual acaba sendo emblemática dessa desigualdade estrutural”, explica.
“Nesse sentido, para mudar o cenário nessa área específica, também são necessárias transformações sociais profundas e o combate ao machismo e o racismo”, aponta. Segundo a diretora, estimular a inclusão das mulheres negras no segmento passa por frentes de incentivo e políticas públicas. “Temos hoje o cinema chamado de guerrilha, que é quando profissionais negras se juntam para produzir um filme coletivamente e da forma que der. Via financiamento coletivo e com ajuda das suas colegas”, conta. “Contudo, essas profissionais também precisam de trabalho remunerado. Assim, são necessários mais editais afirmativos, que garantam a permanência delas no mercado”, destaca.
No âmbito privado, as produtoras devem fazer uma análise do seu quadro de funcionários. “A diversidade não pode ficar apenas na teoria. É preciso que cada empresa olhe para dentro “, recomenda. Por fim, também pode ser necessário ao empregador flexibilizar os pré-requisitos de contratação para que a profissional negra possa concorrer com o homem branco. “Estamos falando de uma desigualdade que existe há décadas e que lutamos para que deixe de existir”, finaliza.