Leonardo Valle

Nome importante do feminismo negro e símbolo da luta antirracista e contra o encarceramento, a filósofa Angela Davis reuniu milhares de pessoas na palestra pública “A liberdade é uma luta constante”, que aconteceu no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo (SP), nesta segunda-feira (21/10). Em sua fala, ela destacou a importância do protagonismo da mulher negra na sociedade.

“Não há democracia sem a participação dessa população. Quando essa mulher se movimenta e se engaja em prol da liberdade, não representa apenas a si mesma, mas toda a sua comunidade. Seja ela negra, indígena LGBTQ, quilombola, com deficiência, ou vítima de violência de gênero e racial”, ressaltou. “Quando a mulher negra se levanta, o mundo inteiro se ergue com ela.”

O aumento da violência policial racista, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, foi lembrado pela ativista, que se posicionou contra uma reforma carcerária e, sim, a favor da abolição do sistema de encarceramento.

“Se alguma pessoa negra é acusada de ser traficante, praticamente todas as pessoas negras passam a ser consideradas suspeitas, especialmente aquelas que vivem em determinados bairros da cidade”, explicou. “Esse é o pilar do racismo: se não dá para atirar em um, atire no outro. Se não dá para encarcerar um, encarcere o outro.”

Davis ainda relacionou o encarceramento em massa e a morte de pessoas negras a uma justificativa de “guerra contra as drogas”. “Vocês, no Brasil, sabem melhor que ninguém que violência policial racista pode devastar nossas comunidades. O nome da criança de oito anos assassinada por uma arma da polícia deveria reverberar em todo o mundo: Ágatha Vitória Sales Félix”, afirmou.

Ágatha foi morta com um tiro nas costas quando voltava de um passeio com sua mãe, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), em 20 de setembro de 2019. “O Brasil precisa aprender com os Estados Unidos que quando a guerra contra as drogas é evocada, serve de pretexto para matar mais negros e acelera o processo de encarceramento em massa também”, apontou.

Em 1970, aos 26 anos, Angela Davis foi perseguida pela polícia estadunidense e acusada por supostos crimes de conspiração, sequestro e homicídio. Permaneceu 18 meses encarcerada e seu julgamento levantou uma série de discussões sobre justiça racial nos Estados Unidos.  Após ser inocentada e liberta, tornou-se uma das principais vozes a favor da abolição do sistema carcerário.

Marielle Franco

Em sua fala, a filósofa lembrou a importância da socióloga negra e defensora dos direitos humanos Marielle Franco, assassinada em 2018. “O espírito dela nos deixa seu legado e nosso dever em prol da luta por justiça racial, LGBTQ e sem teto. Juntos nos comprometermos em dar continuidade ao mundo de liberdade, justiça e igualdade, para todas e todos, que ela idealizou”, apontou.

Davis também denunciou a criminalização dos movimentos sociais e lideranças pelo estado brasileiro, exaltando a libertação temporária da cantora e produtora cultural Preta Ferreira. Liderança do movimento de moradia popular no centro de São Paulo, Preta permaneceu 109 dias encarcerada, após ser acusada de organização criminosa. No momento, aguarda o julgamento em liberdade. “Liberdade não apenas para Preta, mas para todas as pretas”, ressaltou.

A recente contaminação das praias do nordeste brasileiro pelo vazamento de petróleo e as queimadas criminosas na Amazônia também foram criticados. “Os povos indígenas em toda a extensão da América tem nos lembrados por séculos sobre o que estamos fazendo com o planeta. Nós falhamos em não ouvi-los”, disse.

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Crédito da imagem: Leonardo Valle

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