O desmatamento pode intensificar ainda mais o processo de aquecimento global. O estudo realizado por um grupo internacional de cientistas foi publicado na revista Nature Communications. A pesquisa contou com a presença de dois brasileiros: o professor do Instituto de Física, da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo; e a professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luciana Varanda Rizzo.
“A maioria dos artigos científicos anteriores estudou os efeitos do desmatamento sobre as emissões de CO2 para a atmosfera. O diferencial desta pesquisa foi a investigação da influência do desflorestamento sobre a concentração de outras substâncias, como os compostos orgânicos voláteis (COV) biogênicos e os aerossóis atmosféricos”, diferencia Rizzo.
Os COVs biogênicos são naturalmente emitidos pela vegetação. O cheiro de uma flor, por exemplo, é um tipo de COV. As matas tropicais emitem quase 90% do COV biogênico do planeta. “Na floresta, esses COVs sofrem reações químicas na atmosfera que levam à formação dos chamados aerossóis atmosféricos, que são pequenas partículas que ficam suspensas na camada de ar que envolve a Terra. Essas partículas podem ser mais de 20 vezes menores do que o diâmetro de um fio de cabelo”, esclarece a autora.
“Essas partículas interagem com a luz do sol, refletindo parte da luz de volta para o espaço e, portanto, ajudando a resfriar a superfície. Além disso, essas pequenas partes são nucleadoras de gotas de nuvens, que também fazem sombra no solo e ajudam a resfriar o clima”, relata.
O desmatamento das florestas causa uma forte diminuição na emissão dos COVs para a atmosfera, que, por sua vez, reduz a concentração de partículas (aerossóis), deixando de resfriar o clima. “Este artigo quantificou qual seria o aumento da temperatura global se todas as florestas do mundo fossem removidas. Esse aumento seria de 0,8 oC, considerando somente o efeito da diminuição desses compostos naturais resfriadores, os COVs e os aerossóis”, destaca.
Gás carbônico
Além das matas emitirem compostos naturais que resfriam o clima, elas também combatem o acúmulo de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera, uma das principais causas do aquecimento global. A floresta ajuda a remover CO2 da atmosfera, por meio da fotossíntese das plantas.
“Estima-se que a Amazônia retire, anualmente, cerca de 400 milhões de toneladas de carbono da atmosfera. Assim, o fato de ter menos selvas implica em menos CO2 retirado do ar”, revela.
Para completar, há a questão do desmatamento, que ocorre frequentemente por meio de queimadas. “Elas fazem o efeito contrário: convertem a biomassa vegetal em CO2 e em outros compostos, e os emitem para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global”, denuncia.