Conteúdos
Este roteiro de estudos analisa uma redação nota 1000 do ENEM 2020, versa sobre sua adequação às competências avaliadas pelo ENEM e expõe os aspectos que contribuem para que uma redação do ENEM seja bem avaliada.
● A proposta de redação do ENEM 2020;
● Redação nota 1000;
● Analisando a estrutura da redação: introdução, desenvolvimento e conclusão; e
● Competências avaliadas – análise detalhada.
Objetivos
● Compreender os aspectos que contribuem para que uma redação do ENEM seja bem avaliada; e
● Estudar a adequação de uma redação às competências avaliadas pelo ENEM.
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Palavras-Chave:
Língua portuguesa. Redação. ENEM. Redação nota 1000. Competências.
Proposta de Trabalho:
Este roteiro traz uma das redações que recebeu nota máxima no ENEM 2020, acompanhada de uma análise detalhada, que te ajudará a avaliar suas próprias construções textuais, aprimorando-as.
Bons estudos!
1ª Etapa: A proposta de redação do ENEM 2020
Para que possamos analisar uma produção textual, é necessário que, antes de mais nada, tenhamos conhecimento do que foi solicitado. Vejamos, portanto, a proposta da redação do ENEM 2020:
2ª Etapa: Redação nota 1000
Considerando os textos motivadores e a proposta de redação acima, que traz o tema “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, vamos agora ler uma das 28 redações que receberam nota máxima no ENEM 2020, de autoria de Adrielly Clara Enriques.
Transcrição:
“No filme estadunidense “Joker”, estrelado por Joaquim Phoenix, é retratado a vida de Arthur Fleck, um homem que, em virtude de sua doença mental, é esquecido e discriminado pela sociedade, acarretando, inclusive, piora no seu quadro clínico. Assim como na obra cinematográfica abordada, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, devido a conceitos preconceituosos perpetuados ao longo da história humana, há um estigma relacionado aos transtornos mentais, uma vez que os indivíduos que sofrem dessas condições são marginalizados. Ademais, é preciso salientar, ainda, que a sociedade atual carece de informações a respeito de tal assunto, o que gera um estranhamento em torno da questão.
Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar o período da Idade Média, na Europa, em que os doentes mentais eram vistos como seres demoníacos, já que, naquela época, não havia estudos acerca dessa temática e, consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades. É perceptível, então, que existe uma raiz histórica para o estigma atual vivenciado por pessoas que têm transtornos mentais, ocasionando um intenso preconceito e exclusão. Outrossim, não se pode esquecer de que, graças aos fatos supracitados, tais indivíduos recebem rótulos mentirosos, como, por exemplo, o estereótipo de que todos que possuem problemas psicológicos são incapazes de manter relacionamentos saudáveis, ou seja, não conseguem interagir com outros seres humanos de forma plena. Fica claro, pois, que as doenças mentais são tratadas de forma equivocada, ferindo a dignidade de toda a população.
Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil, uma evidente falta de informações sobre os transtornos mentais, fomentando grande preconceito e estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o filósofo grego Platão, que, em sua obra “A República”, narrou o intitulado “Mito da Caverna”, no qual homens, acorrentados em uma caverna, viam somente sombras na parede, acreditando, portanto, que aquilo era a realidade das coisas. Dessa forma, é notório que, em situação análoga à metáfora abordada, os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca dos transtornos mentais, vivem na escuridão, isto é, ignorância, disseminando atitudes preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância das informações, haja vista que a falta delas aumenta o estigma relacionado às doenças mentais, prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem com tais transtornos.
Destarte, medidas são necessárias para resolver os problemas discutidos. Isto posto, cabe à escola, forte ferramenta de formação de opinião, realizar rodas de conversas com os alunos sobre a problemática do preconceito com os transtornos mentais, além de trazer informações científicas sobre tal questão. Essa ação pode se concretizar por meio da atuação de psiquiatras e professores de sociologia, estes irão desconstruir a visão discriminatória dos estudantes, enquanto que aqueles irão mostrar dados/informações relevantes sobre as doenças psiquiátricas. Espera-se com essa medida, que o estigma associado às doenças mentais seja paulatinamente erradicado.”
3ª Etapa: Analisando a estrutura da redação - introdução, desenvolvimento e conclusão
Depois de ler a redação acima, a que foi atribuída nota 1000 no ENEM 2020, vamos olhar juntos para as questões estruturais do texto:
a) Introdução
No primeiro parágrafo, a autora do texto cumpriu as duas funções essenciais da introdução da redação do ENEM: em primeiro lugar, foi feita uma contextualização do tema, não deixando dúvidas de que o assunto abordado ao longo do texto será “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Além disso, foi feita uma breve indicação do ponto de vista da aluna sobre o tema, com uma pista sobre a tese que será apresentada (o uso da expressão “conceitos preconceituosos”, bem como a menção à falta de informações que permeia a relação da sociedade com as questões de saúde mental, cumprem esse papel).
b) Desenvolvimento
Formado pelos segundo e terceiro parágrafos da redação, o desenvolvimento atendeu o objetivo central, que é apresentar as ideias, acompanhadas de seus fundamentos, de forma a demonstrar a relevância da tese apresentada. Para isso, a aluna trouxe uma referência histórica que demonstra uma hipótese acerca da origem da estigmatização das questões que dizem respeito à saúde mental, e depois fala especificamente do Brasil, explicando a maneira como o assunto é tratado no país com o uso de uma referência literário-filosófica (Mito da caverna, de Platão). Por meio dessa construção, a autora do texto reforça e estrutura a ideia de que a falta de informação é o problema central, de acordo com a sua tese.
c) Conclusão
Na conclusão, a aluna tomou o cuidado de retomar a tese, direcionando-a à solução proposta: trabalhar em resolver a questão da falta de informação. Por fim, a autora do texto apresentou propostas viáveis e completas, tomando o cuidado de trazer todas as questões centrais:
– Quem atuará para a resolução – escolas;
– Como atuará – rodas de conversa e atuação para fornecer informações técnicas, por meio do trabalho conjunto de professores de sociologia e psiquiatras; e
– Com quais propósitos – erradicar a estigmatização que existe acerca das doenças mentais, por meio da informação, atacando o ponto que se identificou ao longo do texto, como principal responsável pelo problema.
4ª Etapa: Competências avaliadas - análise detalhada
Para garantir uma análise completa da redação, vamos agora analisar o texto pensando em cada uma das competências avaliadas na redação do ENEM:
• Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Ao longo da redação, foi demonstrado o domínio da norma culta escrita. Cabe aqui, no entanto, uma observação: pequenos erros ou problemas, desde que não se repitam e não afetem a compreensão do texto, costumam ser relevados, não sendo levados em consideração para a correção.
• Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
O texto abordou muito bem o tema, mobilizando as áreas do conhecimento e articulando-as à discussão proposta, respeitando a estrutura do texto dissertativo-argumentativo.
No segundo parágrafo, houve uma retomada histórica, citando a Idade Média. Essa é uma ótima estratégia para a contextualização do assunto, especialmente quando bem explorada. A aluna utilizou essa retomada para relacionar com o que vemos no presente e estabelecer a tese que será defendida, demonstrando que se trata de algo nascido há muito tempo. Sobre a tese do texto, ela deixa claro que tratará do impacto da falta de informação sobre a forma como a saúde mental é tratada pela sociedade atual.
No terceiro parágrafo, ao fazer um paralelo da sociedade brasileira com uma referência literário-filosófica, a aluna finaliza a construção da discussão que pretende trazer em seu texto, fundamentando as suas ideias de forma muito adequada.
• Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Por meio da amarração de conceitos e informações, bem como da construção de relações de causa e consequência, a aluna traz uma boa seleção de argumentos, relacionando-os entre si.
O uso dos textos motivadores também se mostra correta, à medida em que, sem transcrevê-los, a aluna soube extrair deles as informações relevantes para a construção do seu raciocínio.
• Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Ao longo do texto, a aluna faz um excelente uso dos recursos coesivos, o que garante uma boa fluidez. O uso de recursos como: “ademais”, “outrossim” e “destarte” faz com que a redação fique muito bem articulada, conectando suas ideias e parágrafos.
• Competência 5: elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
A proposta de intervenção foi apresentada de forma bem detalhada, trazendo os agentes responsáveis, o que precisa ser feito, como fazer e a finalidade.
Além disso, a aluna tomou o cuidado de propor uma solução possível e respeitou integralmente os preceitos dos direitos humanos, cumprindo todos os requisitos avaliados pela banca.
5ª Etapa: Materiais complementares
Cartilha do participante – ENEM 2020
Acesso em: 20 de junho de 2021.
Especialistas analisam sete redações nota mil do Enem – Portal MEC
Acesso em: 20 de junho de 2021.
Roteiro de Estudos elaborado pela Professora Daniela Leite Nunes.