Em 2001, o pensador americano Marc Prensky publicou um artigo intitulado “Digital Natives, Digital Immigrants”, em que descrevia pela primeira vez os “nativos digitais”. Desde então, o termo entrou para o vocabulário popular como sinônimo de uma geração que já nasceu conectada e tem intimidade com computadores, smartphonesgadgets e a internet.

A grande preocupação de Prensky, entretanto, é como educar essa nova geração. “Nossos alunos mudaram radicalmente. Os estudantes de hoje não são mais as pessoas para quem o nosso sistema educacional foi pensado”, diz. A revolução digital fez com que os alunos de hoje se tornassem completamente diferentes das gerações anteriores.

Os nativos digitais não somente sabem lidar com aparelhos e tecnologias avançadas, eles pensam de maneira diferente: processam informações com mais agilidade, conseguem aprender em hipertexto e em rede, além de serem capazes de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. “Essa diferença é maior do que os educadores supõem”, diz Prensky. “É provável que o cérebro dos nossos alunos seja fisicamente diferente do nosso”.

Uma nova maneira de pensar e aprender deve ser acompanhada por formas renovadas de ensinar. O maior problema da educação atual, segundo o especialista, é que o sistema e os modelos de ensino ainda são voltados para um mundo pré-digital, ao passo que a maioria dos alunos já não é capaz de imaginar a vida sem internet. Como lidar com esse descompasso continua sendo um dos maiores desafios do educador atual.

As crianças brasileiras são nativas digitais?

No Brasil, o cenário é agravado pela falta de estrutura. Como visto na primeira matéria da série “TIC na Educação”, embora 97% das escolas brasileiras tenham acesso à internet, 57% delas contam com conexões muito lentas (de até 2 Mbps de velocidade). Além disso, a formação dos professores para usar o computador e a internet nas aulas ainda deixa a desejar: menos de 40% das escolas têm um programa de capacitação para os docentes.

Outro fator importante é a desigualdade entre alunos da mesma faixa etária, mas de diferentes classes sociais. Ser ou não ser nativo digital está relacionado ao contato com as novas tecnologias, não só à idade da criança. Assim, ainda que jovens das classes média e alta do país lidem desde cedo com o mundo digital, estudantes de classes mais baixas têm menos oportunidades de acessar a internet ou de usar tablets e smartphones. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as crianças (que em tese deveriam ser todas nativas digitais) também se dividem em nativos e imigrantes, ou até mesmo em nativos e excluídos digitais.

Diante desse complicado panorama, tarefa de pais e professores é ainda mais difícil do que nos Estados Unidos ou na Europa, por exemplo. É preciso identificar e lidar adequadamente com as necessidades dos alunos hiperconectados, mas também ajudar os demais a se familiarizarem com o mundo da tecnologia.

Falando a mesma língua

“Imagine que você está assistindo a uma palestra proferida em sua língua materna. Todos da plateia entendem o que é dito e tudo corre muito bem. Mas, de repente, o palestrante começa a falar em outro idioma que não é compreendido por ninguém, sem legendas, sem tradutor…” É assim que os nativos digitais se sentem ao ouvir uma aula tradicional, segundo Moema Gomes Moraes, especialista em Informática e Educação (PUC-GO), co-autora de um estudo sobre jogos eletrônicos no processo de aprendizado de nativos digitais.

Quando não entendem ou não se sentem engajados pela aula, os alunos ficam distraídos e se voltam para os celulares, cuja linguagem eles compreendem perfeitamente. Marc Prensky, no livro Teaching Digital Natives (“O ensino para nativos digitais”, 2005, sem tradução no Brasil), nega que a capacidade de atenção dos alunos piorou. Na realidade, o que mudou foram as suas necessidades. “Muitos dos mesmos alunos que não se concentram em sala são capazes de passar horas vidrados em filmes ou videogames”, argumenta.

O que fazer, então, para que professores e alunos falem a mesma língua? O consenso entre especialistas é que é preciso reconhecer que os papéis mudaram. Se antes o professor transmitia informações para alunos “passivos”, hoje o conhecimento precisa ser construído em conjunto, com o aluno no centro do processo.

Ou seja, mais do que somente se acostumar a gadgets e apps, o professor deve repensar o seu papel como educador: ele é um mediador ou, mais do que mediador, um designereducacional.

Confira abaixo algumas dicas de como lidar com nativos digitais no aprendizado:

Ensinando e aprendendo com nativos digitais

1) Possibilite que o aluno aprenda ativamente: os estudantes aproveitam melhor as aulas quando participam da construção do conhecimento.

2) Estimule a cooperação: a cooperação entre os alunos é um fator importante para o bom desempenho escolar

3) Promova atividades com feedback rápido: quanto mais oportunidades os estudantes têm de aplicar as ideias aprendidas e checar seus erros e acertos, mais rápido aprendem.

4) Relacione o conteúdo ao mundo real: conecte o conteúdo dado em sala de aula com a realidade dos alunos, para despertar seu interesse.

Professor, para saber como as TIC podem ajudar a cumprir essas dicas: clique aquiComo você lida com os nativos digitais no dia a dia da sua escola? Tem boas dicas ou sugestões de leitura sobre o tema? Compartilhe com a gente! 
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