Muitos alunos conseguem resolver cálculos físicos utilizando fórmulas, mas sem compreender os conceitos envolvidos no assunto estudado. Foi ao perceber esse problema que o professor da Universidade de Harvard (Estados Unidos), Eric Mazur, desenvolveu uma metodologia ativa de ensino chamada peer instruction, ou aprendizagem entre pares.

O método é uma espécie de sala de aula invertida, na qual os alunos estudam os tópicos apontados pelo professor antes do encontro. Em aula, o docente dedica aproximadamente dez minutos para explicar o tema e os pontos não compreendidos pela classe.

“Após a miniaula, perguntas e testes de múltipla escolha são feitos para que a turma responda com cartões ou por algum método de coleta automática de respostas. Se 30% a 70% dos alunos divergirem nas respostas, eles são colocados para trocar ideias com colegas de argumentos diferentes”, resume o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), Rogério Wanis.

Leis de Newton

Os professores de física Douglas Rosa Grillo e Adriano de Sousa Sá utilizaram a metodologia para explicar as três leis de Newton às classes do ensino médio da Escola Estadual Padre Franscisco Rey, em Arantina (MG). Para eles, o objetivo principal da técnica é fazer com que a turma se envolva com o conteúdo e construa o conhecimento de forma colaborativa.

“O peer instruction pode dar ao aluno uma aula mais dinâmica, onde ele tem um papel ativo. A passividade é deixada de lado e a motivação renasce. Sem um professor que entrega o conteúdo mastigado, o estudante persegue o conhecimento. Isso corta a ‘decoreba'”, defende Sá.

O conteúdo foi lecionado em sete aulas, divididas entre o teste inicial, a discussão das três leis, a revisão do conteúdo e o teste final. “Optamos por destinar duas aulas, e não uma, à segunda lei. Nela trabalhamos cálculos matemáticos, o que não foi contemplado no conteúdo das demais”, justifica.

Para inovar, eles gravaram as pré-aulas e as disponibilizaram via YouTube. Além disso, questionários foram criados no Google Forms onde estudantes resolviam exercícios do conteúdo semanal e relatavam dúvidas e dicas para os docentes melhorarem as videoaulas.

“Essas perguntas nos ajudavam a identificar os principais pontos a serem trabalhados na aula presencial”, explica.

Em sala, os professores fizeram uma breve explicação da matéria e apresentaram à classe um problema, com alternativas de A a D. As respostas eram coletadas por meio do aplicativo Plicker.

“A vantagem é que esse app já mostra ao professor o percentual de alunos que escolheram cada alternativa. Sendo assim, tive facilidade em saber se a questão tratada deveria ser discutida novamente ou não”, assinala.

Ação complementar

Rogério Wanis estudou o método durante o seu mestrado profissional de ensino de física. Para ele, a técnica é benéfica por permitir que os alunos expressem suas opiniões. “Eles sustentam ideias, ainda que inicialmente equivocadas”, analisa.

O docente aplicou o peer instruction para consolidar temas como movimento, leis de Newton e conservação de energia. “Em geral presumimos que matéria dada é matéria assimilada, o que é um grande equívoco. Dessa forma era possível tocar naqueles pontos nevrálgicos: as dificuldades persistentes dos estudantes”, pontua.

Contudo, para ele, a metodologia deve ser usada pelos professores de forma complementar, em conjunto com métodos diversificados. “É um instrumento que ajuda na autonomia dos alunos, mas não se deve criar uma dependência dele”, aponta.

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Crédito da imagem: Ridofranz – iStock

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