Tornar-se diretor será o caminho de muitos educadores em algum momento da carreira. A função traz como desafio um olhar mais abrangente para as demandas da escola, incluindo questões pedagógicas, administrativas e relacionamento com equipe, pais e alunos. Para o Dia do Diretor Escolar, comemorado em 12 de novembro, a reportagem entrevistou três profissionais que atuam em diferentes contextos sobre os principais aprendizados no exercício desse ofício.

Segundo a diretora da rede municipal de São Paulo, Jane Reolo, gerir as relações interpessoais foi uma prática necessária nos anos em que atuou em instituições de ensino fundamental e educação infantil. Com 34 anos de magistério e atualmente em processo de aposentadoria, ela acredita que a maior parte do tempo do diretor é destinado, justamente, ao trato com o outro.


Em atividade na sua escola, a diretora Jane Reolo responde aos alunos perguntas sobre o trabalho de um diretor

 

“Gestão de sala de aula, administrativa, de pessoas ou de projetos são todos conceitos fundamentados nas relações humanas, então, é necessário compreender como se constrói relacionamentos saudáveis”, assinala a profissional, que decidiu cursar uma pós-graduação no assunto.

“Como diretor, todas as interações são baseadas em conhecimentos diferentes. Você trata desde uma criança pequena, passando por um adolescente, um integrante da família até outros educadores, que têm visões diversificadas sobre a educação. Além disso, há ainda a política educacional do local e do período em que você atua”, contextualiza.

Escola democrática

Para Reolo, construir relações saudáveis passa, necessariamente, pelo exercício da escuta e de rever conceitos de autonomia e autoritarismo.

“Uma ideia atual e equivocada é que as coisas só funcionam com ‘mão de ferro’. Algo que veio da fábrica e do exército e foi naturalizado pela instituição de ensino. O trabalho como diretor exige o contrário disso: como você troca informações, apresenta as questões ao seu grupo, exercita o processo de convencimento pelo argumento, influencia e se deixa influenciar”, analisa ela.

Opinião semelhante possui o ex-professor de química e diretor na rede estadual de São Paulo, Alessandro Pedro. Atualmente, ele trabalha em uma escola fundada em 1914 na cidade de Jaú, que atende, principalmente, alunos de áreas rurais.

“Não podemos ter mais a figura desse profissional como detentor de todas as decisões: tudo tem que ser compartilhado”, afirma Alessandro Pedro

 

“Não podemos ter mais a figura do diretor como detentor de todas as decisões: tudo tem que ser compartilhado, democrático. Isso vai impactar de forma positiva na aprendizagem do aluno”, opina. “Ciente disso, esse profissional deve estar disposto a abrir a escola para sua comunidade. Se conseguir uma gestão realmente democrática, formará estudantes mais capacitados a lidar em sociedade”, aposta.

Para ele, as relações pessoais também merecem destaque. “É necessário ‘jogo de cintura’. Cada pessoa é diferente, tem expectativas diversas em relação ao trabalho e problemas pessoais também. Afinal, somos todos humanos”, lembra.

Comunidade

Já a diretora na rede estadual do Paraná, Cláudia Regina de Oliveira, conta que conhecer a trajetória e a história da população local foi primordial para o exercício do cargo. Formada em pedagogia e atuando na área de educação indígena há uma década, ela é diretora na Escola Estadual Indígena Mbyja Porã.

“Fiz um mestrado na área. A formação me ajudou a conhecer, conviver, entender e respeitar a diversidade e a inclusão social”, assinala a diretora Cláudia Regina de Oliveira

 

“Comecei a trabalhar nas comunidades tradicionais guarani em 2008, onde não havia escola e as aulas eram dadas numa tapera ou embaixo de uma árvore”, relembra.

“Conhecer essa cultura foi importante. Quando notei que precisava disso para desenvolver melhor meu trabalho pedagógico e, posteriormente, o de gestora, fiz um mestrado na área. A formação aprimorou minhas habilidades e me ajudou a conhecer, conviver, entender e respeitar a diversidade e a inclusão social”, justifica.

Na rotina como gestora, Cláudia acredita que o principal aprendizado foi intermediar conflitos. “Nossa escola é bilíngue e existem professores indígenas e não indígenas. São culturas diferentes. Assim, temos que somar as diferenças e não repartir”, ensina.

Reolo também vê a aproximação com a comunidade escolar como fundamental para um bom trabalho à frente da direção. Atualmente trabalhando em uma escola no bairro do Bom Retiro, com forte presença de imigrantes bolivianos, ela passou a escrever todos os comunicados da escola também em espanhol para atingir todos os pais.

“Nos últimos onze anos, tenho estado na porta da escola para receber e me despedir das pessoas. Parece simples, mas nesses dez minutos que você deixa a sua mesa para cumprimentar alunos, responsáveis, professores e funcionários, vínculos são criados. E eles serão importantes para estabelecer debates argumentativos quando problemas surgirem, mesmo considerando todas as emoções que envolvem os conflitos dentro de uma escola”, recomenda.

Veja mais:
O papel do diretor da escola: educador ou gerente?

Crédito das imagens: arquivo pessoal

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