Níquel Náusea é uma tirinha do cartunista brasileiro Fernando Gonsales lançada no jornal Folha de S. Paulo em 1985. O nome faz referência ao personagem principal da história: um rato de esgoto que tem como melhor amigo a barata Fliti, que é viciada em inseticida. Níquel é perseguido pelo Rato Ruter e apaixonado pela rata Gatinha, que está constantemente gerando filhotes. A trupe é completada pelo rato ancião Sábio do Buraco, que alterna momento de lucidez e esclerose. A tirinha pode ser usada na escola para trabalhar conteúdos de biologia.

Com um enredo crítico e cômico, a história em quadrinhos (HQ) ganhou por 18 vezes o troféu HQ Mix de melhor tirinha nacional. “Ela é focada na vida de animais diversos e seus problemas: sobrevivência, relação com os humanos, vida moderna, sociedade cientifico-tecnológica etc.”, resume o professor do Laboratório de Genética Marinha e Evolução da Universidade Federal Fluminense (UFF) Edson Pereira Da Silva.

Veja também: Página do Facebook usa quadrinhos para divulgar biologia

Silva, junto aos professores da educação básica da rede pública Alan Bonner da Silva Costa (Macaé-RJ) e Felipe Barta Rodrigues (Maricá-RJ), pesquisou e aplicou as tirinhas no ensino de biologia. “Em uma linguagem simples, as tirinhas de Níquel Náusea descrevem fenômenos biológicos, avanços científicos, questões éticas e elucubrações filosóficas”, observa. Por ser focada nos animais, ele acredita que a HQ é um prato cheio para discussão de quase todos os conteúdos de biologia no ensino fundamental, médio e até no ensino superior.

Zoologia, ecologia e evolução

Conteúdos relativos à zoologia, ecologia e evolução podem ser trabalhados. “Em ecologia, diversas histórias tratam sobre a poluição”, explica. Porém, o foco do trio de docentes foi trabalhar em sala de aula como a teoria evolutiva se fazia presente nos quadrinhos do rato.

“Temos tirinhas que tratam de ancestralidade, adaptação, criacionismo e forças evolutivas – como seleção natural, migração, deriva genética e mutação”, lista. “Outras abordam aspectos da genética, como engenharia genética, herança mendeliana, clonagem etc.”.

Leitura exploratória

O docente da UFF aponta três formas de associar as aventuras de Níquel Náusea com o currículo escolar. A primeira delas é para ilustrar conteúdos da disciplina. “As situações que a ‘bicharada’ enfrenta na sua rotina podem ser usadas como exemplo de como os conceitos operam. Com a vantagem de acrescentarem humor, ironia e ludicidade, o que sempre facilita o aprendizado de crianças e adolescentes”, acredita. “Como uma HQ underground nacional, ela proporciona empatia e desperta a curiosidade dos alunos”, relata sobre o quadrinho ser menos conhecido.

A segunda forma de trabalhar esse conteúdo é usar as tirinhas para estimular discussões e análises críticas, já que o enredo também traz o questionamento de ideias, visões, paradigmas e preconceitos. “O tom crítico e satírico das tiras pode ajudar a mediar debates sobre temas como origem das espécies , engenharia genética, antropocentrismo e criacionismo”, elenca.

Para completar, o terceiro uso é a metalinguagem presente nas tirinhas. Essa pode ser explorada de forma interdisciplinar com Língua Portuguesa. “Há a interação direta das personagens com os elementos que constituem as HQs, como os balões e as onomatopeias. Outro exemplo de metalinguagem é a interlocução entre personagens e autor, com os primeiros discordando de situações em que foram colocados”, lembra Silva. “Outra característica interessante das tiras de Níquel Náusea é utilizar a linguagem dos quadrinhos para criticar outras tiras, cartoons, charges e graphic novels”, completa o professor.

Nas três possibilidades, Silva sugere aos professores de biologia e ciências lerem as histórias com o seu programa de ensino para o ano na cabeça. “Assim, é possível identificar e selecionar as tirinhas mais adequadas”, orienta. Exemplo de quais tirinhas podem ser trabalhadas com cada conteúdo específico são encontrados no artigo do trio “Histórias em Quadrinhos e o Ensino de Biologia: O caso Níquel Náusea no Ensino da Teoria Evolutiva (2015)”.

O docente ainda recomenda que os professores aprofundarem os conhecimentos sobre o uso pedagógico de Níquel Náusea em Biologia por meio dos textos: “Teoria evolutiva e quadrinhos: tiras da níquel náusea e a tematização da evolução biológica (2016)” e“Discurso e meta-discursos sobre a teoria evolutiva: a leitura da Níquel Náusea em um curso de ciências biológicas (2016)”.

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