Reconhecida como um dos grandes nomes da literatura infanto-juvenil, a autora Sylvia Orthof pode ser trabalhada em sala de aula, principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental. Antes de publicar seu primeiro livro, em 1981, Orthof atuou como atriz e diretora teatral e, até seu falecimento, em 1997, foram mais de 120 títulos publicados.

Segundo a doutora em letras e pesquisadora de literatura infanto-juvenil, Maria Heloísa Melo de Moraes, a principal característica da sua obra é o humor.”Também aparecem, em seus escritos, a ironia, a comicidade, mas sempre colocadas de forma que podem ser facilmente captadas pelos pequenos leitores”, assinala. “O humor da linguagem já aparece a partir dos títulos, muitos deles indicando o clima bem-humorado que se encontra ao abrir o texto”, acrescenta.

“Ela se dizia uma inventadeira de besteiras. Mas, claro, besteiras no sentido da brincadeira”, revela o escritor e doutor em teoria da literatura Celso Sisto. “Tinha um jeito gostoso de escrever, valorizando a oralidade e as questões da língua viva e do jeito de contar, cheio de frescor, o que faz dela uma grande narradora”, acrescenta.

A rima, muitas vezes já presente no título da obra, foi um recurso usado por Sylvia Orthof para encantar as crianças. “Sempre ao lado de um toque de humor ou ironia, como na história ‘A cama cobertina’ e nos livros ‘Pirraça que passa, passa’, ‘A velhota cambalhota’ e ‘Dita-cuja, a coruja'”, exemplifica Moraes. “Sylvia tinha uma paixão especial pela poesia, pelo texto com uma musicalidade e um sentido rítmico”, complementa Sisto.

Assunto de criança

De acordo com Moraes, Orthof abordou, em sua obra, temas considerados por muitos como inadequados para crianças, mas apresentados a elas camuflados em um humor inteligente. “Em ‘Velhota cambalhota’, ‘Uma estória de telhados’, ‘Uma velha e três chapéus’ e ‘O sapato que miava’, a autora apresenta a velhice, que é um dos temas recorrentes em suas obras, de forma transgressora e inovadora”, aponta. “Mesmo em livros em que os personagens principais não são idosos, muitas vezes, aparecem velhinhos e velhinhas em situações inusitadas”, completa.

O papel da mulher e a rebeldia diante do padrão de beleza imposto socialmente são temas tratados na obra ‘O cavalo transparente’, em que Orthof descreve “uma sereia obesa, vestida de roupão, com o cabelo preso em rolinhos”. “O exagero de algumas dessas descrições é comum no humor desenvolvido por Orthof”, diz a pesquisadora.

Outra característica foi a paródia de contos de fadas, na qual destaca-se “Ervilina e o princês ou deu a louca em Ervilina” – uma releitura do clássico “A Princesa e o grão de ervilha”, de Hans Christian Andersen. “Nele, os papéis tradicionais do príncipe e da princesa são questionados por meio de um humor que se expressa em imagens e na linguagem”, diz Moraes.

Já em “Uxa, ora fada ora bruxa”, Orthof questiona o estereótipo da fada boa e da bruxa má. “Ou seja, o maniqueísmo presente nos contos de fadas tradicionais”, ressalta Moraes.

Sisto ainda aponta, na obra de Orthof, temas como a valorização das individualidades, o convívio com as diferenças, o descruzar os braços diante dos obstáculos e a união das forças. “Podemos ver isso em ‘Galo, galo não me calo’ e ‘Fraca fracola, galinha d’angola’”.

Orthof atuou como atriz, diretora teatral e teve mais de 120 títulos publicados. (crédito: acervo da família)

 

Sylvia Orthof na escola

Para o uso da obra da autora em sala de aula, o escritor sugere estimular os alunos a debaterem as questões propostas por Orthof de modo artístico, produzindo outros materiais. “Pode-se usar as linguagens artísticas como suporte. Dançar, transformar uma história em teatro de objetos, encenar os textos teatrais que ela escreveu, musicar uma obra e transformá-la numa apresentação para toda a escola ou fazer os grandes contarem histórias para os pequenos”, recomenda.

Moraes lembra que os professores devem permitir que as crianças expressem o riso provocado pela leitura do texto. “E, por ser o humor uma das formas mais eficientes de ser fazer crítica e de se falar de temas que, de outra maneira, dificilmente poderiam ser abordados, a leitura de seus livros em sala de aula pode trazer à tona assuntos e comportamentos”, reforça.

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