Em 2016, a pesquisa “Nossa Escola em (Re)Construção” revelou o que muita gente já imaginava: 18% dos 132 mil alunos e ex-alunos de 13 a 21 anos ouvidos afirmaram que gostariam de aprender mais sobre política, cidadania e direitos humanos na escola. Além disso, 17% disseram que entender esses conteúdos os deixariam mais felizes.
Para os professores da educação básica, os jogos são uma boa forma de aproximar os jovens desses temas e ainda educar para que façam escolhas conscientes nas eleições. Pensando nisso, os universitários do curso de licenciatura em educomunicação da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram o Game Show das Eleições. Nele, os jogadores podem se inteirar sobre propostas de candidatos para a educação.
“O jogo é gratuito e de livre distribuição, podendo ser adaptado por quem o baixa. Para jogá-lo, basta imprimir o tabuleiro e as cartas”, explica o docente do curso, Richard Romancini. “Inicialmente, ele foi elaborado para o primeiro turno, mas pode ser adaptado para o segundo ou para outros pleitos. O professor pode personalizar a brincadeira imprimindo as cartas em Word e adicionando novos conteúdos”, sugere.
O game pode ser jogado de duas a quatro pessoas. Segundo Romancini, ele beneficia a discussão política em um momento em que o debate foi sequestrado. “O contexto político atual mostra que as pessoas possuem uma grande dificuldade de traduzir suas preocupações em diálogos, argumentos ou manifestações mais cidadãs, do que apenas xingar”, justifica. “O jogo também ensina a analisar propostas e estimula o debate de temas contemporâneos, como cotas e fake news”, aponta.
Gestor por um dia
Muitos alunos não sabem que gerir o orçamento do município, estado ou nação é dever do poder executivo. O Jogo da Política é uma iniciativa gratuita e de licença aberta com essa finalidade. A brincadeira ainda possui uma versão voltada para o legislativo e outra para o judiciário.
“O jogador se transforma em gestor e precisa pensar o que fazer com o dinheiro arrecadado, de onde retirar o capital para determinados programas, como fazer escolhas e traçar prioridades. O estudante percebe que não é uma tarefa tão simples quanto parece”, explica um dos idealizadores do projeto, Pedro Markun.
“Seu maior benefício é ampliar a percepção do tema como uma ferramenta poderosa de transformação da realidade e que está na mão de todos. Há uma tendência de achar que apenas o candidato eleito é quem faz política, quando fazemos isso no dia a dia”, descreve.
Para o gamer, o jogo também aborda diretamente o fenômeno da pós-verdade e das fake news. “Uma de suas características é levantar questões e não trazer respostas. Como, por exemplo, por que o orçamento de saneamento é menor do que o de urbanização? A resposta será algo a ser pesquisado e entendido”, explica. “Isso é importante em um mundo onde as pessoas estão carregadas de certeza e têm poucas dúvidas, vide o que acontece no compartilhamento de informações falsas sem checagem. Assim, estimular dúvidas, investigação e pensamento crítico são necessários”, finaliza.
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Crédito da imagem principal e topo:Facebook Jogo da Política e André Bueno/CMSP