Em janeiro de 1818, era publicada a primeira edição de Frankenstein, de Mary Shelley. O livro, que relata a história de um inventor que desenvolve e abandona a sua criatura, pode ser utilizado pelos alunos da educação básica para refletirem questões filosóficas e sociais.

“Trata-se de problematizar o que significa ser humano e qual o sentido da nossa existência. A condição do homem, os limites do conhecimento, a relação entre o indivíduo e a natureza, a ambição desmesurada ou as consequências negativas da tecnologia são algumas questões que podem ser trabalhadas”, destaca o mestre em ciências da educação José Augusto Ribeiro. Ele foi um dos autores do livro “Olhares sobre Frankenstein: literatura, educação e cinema” (2015).

Qual o potencial educativo da obra Frankenstein, de Mary Shelley, para os alunos da educação básica?

José Augusto Ribeiro: O objetivo da educação é promover valores humanistas e alargar o horizonte reflexivo e emocional. A interpretação do mundo e a compreensão do outro são tarefas da atividade reflexiva e possibilitam, por exemplo, a análise crítica e a empatia. O potencial educativo de Frankenstein está em estimular a criança e o jovem a refletirem sobre o sentido de como vivemos e pensamos. O livro nos interpela sobre a necessidade da reflexão e da ética na orientação da nossa vida, pela tecnologia, mas pelo homem.

Quais temas apresentados na obra podem ser trabalhados com os alunos?

José Augusto Ribeiro: A condição humana, os limites do conhecimento, a relação entre o indivíduo e a natureza, a ambição desmesurada ou as consequências negativas da tecnologia são algumas questões. Trata-se de problematizar o que significa ser humano e qual o sentido da nossa existência. O monstro não consegue ser reconhecido pelos outros como sendo uma pessoa e coloca interrogações fundamentais: Quem era eu? O que era eu? De onde vim? Qual o meu destino?. Ele pensava e sentia como um homem, mas não era reconhecido como tal e não tinha nenhum laço com os outros seres. O trabalho na aula pode discutir essas temáticas.

Sobre a relação do homem com a ciência, quais leituras a obra possibilita?

José Augusto Ribeiro: A obra possibilita a problematização do mundo tecnológico e artificial. O desequilíbrio provocado pela transformação tecnológica que conduz a um mundo no qual o ser humano parece não ter lugar. Frankenstein simboliza esta ruptura com a natureza, que cria um monstro e arruína o seu lugar no mundo. Trata-se de discutir as questões dos limites da ciência e da tecnologia, bem como as suas implicações ao nível ético, já que nem tudo o que a técnica pode produzir, deve, de fato ser feito. Como explica Hannah Arendt, o avanço da ciência deixou de coincidir com o progresso da humanidade, por isso, necessitamos de prudência e de reflexão para evitar a destruição do humano.

Assim como ocorre no livro, com a criatura, como a educação e a leitura colaboram para a “formação do homem”?

José Augusto Ribeiro: As nossas sociedades pós-modernas revelam a “coisificação” do homem, vítima do dinheiro, da competição e do progresso tecnológico. O desnível entre a transformação do mundo e o desenvolvimento da humanidade deve interpelar a educação para que encontre um modelo educativo mais equilibrado e humanista, que possibilite a ampliação da nossa sensibilidade e da nossa reflexão. A escola tem de ajudar o aluno a sentir, a compreender as suas emoções, a expandir a capacidade da sua alma, alargar a sua imaginação e as suas ideias, evitando a resignação e a passividade.

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