“Ciranda, cirandinha”, “Sapo cururu”, “Alecrim dourado” e “A barata” são exemplos de cantigas, que são composições orais com rimas e melodia e podem ser utilizadas na alfabetização.

“Elas são manifestações orais e musicais do folclore infantil, transmitidas de geração em geração, que integram ritmo, melodia e letra em atividades de socialização e aprendizagem. Podem assumir formas diversas, como cantigas de roda, de ninar ou de brincar”, resume a mestra profissional em letras Sheila Fabiana de Souza Oliveira Paiva, autora da dissertação “Consciência fonológica, cantigas de roda na alfabetização, anos iniciais educação básica: leitura e escrita” (2024).

As cantigas se diferenciam das parlendas, que também são textos orais curtos e rimados, mas sem estrutura musical, como no caso de “um, dois, feijão com arroz”. “Enquanto a cantiga envolve música e canto, a parlenda se estrutura na cadência da fala”, diferencia Paiva.

A professora explica que, durante a alfabetização, as cantigas podem auxiliar no reconhecimento de palavras e de seus elementos e de sílabas e fonemas; e, posteriormente, no aprendizado das letras do alfabeto.

“Elas trabalham consciência fonológica, que é a capacidade de ouvir com atenção os sons escondidos nas palavras. Perceber rimas, separar sílabas, notar que ‘casa’ e ‘cavalo’ começam igual. Essa habilidade é o alicerce da alfabetização, porque faz a criança entender que cada som tem uma representação escrita, que aquilo que canta também pode ser representado graficamente. Assim, cria pontes entre fala e escrita”, resume Paiva.

Além de recurso pedagógico, as cantigas são ainda patrimônio cultural. “Ao utilizá-las, o professor também contribui para a formação identitária da criança, valorizando a memória coletiva”, enfatiza a mestra em educação e membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia do Piauí Aurismar Ferreira de Sousa, autora do artigo “As cantigas no processo de alfabetização”.

Escolhendo as cantigas

“Ciranda, cirandinha”, “Sapo cururu”, “Samba lelê”, “A canoa virou”, “O cravo brigou com a rosa”, “Se essa rua fosse minha”, “Marcha soldado”, “Borboletinha”, “Alecrim dourado” e “A barata” são exemplos de cantigas tradicionais.

“Além delas, utilizo composições de Bia Bedran, como ‘Ciranda do anel’, que explora movimentos circulares em passos e criação de ondas com as mãos”, compartilha Souza.

Ao escolher a cantiga a ser trabalhada com a turma e considerando a finalidade de promover engajamento, Paiva sugere considerar alguns fatores: faixa etária e nível dos alunos, riqueza linguística (presença de rimas, aliterações, ritmo), valorização da tradição e diversidade regional, possíveis atividades que podem ser derivadas dela e o interesse dos alunos.

A seguir, as professoras alfabetizadoras listam 7 dicas sobre como usar as cantigas no processo de alfabetizaçaõ. Segundo Paiva, o ideal é combinar essas atividades. “Assim, a cantiga se transforma em um recurso didático interdisciplinar, que une oralidade, escrita e ludicidade”.

1) Leitura da cantiga em voz alta pelo professor

“A leitura da cantiga aproxima a criança do texto escrito, mostra a correspondência entre sons e letras e ajuda na construção do vocabulário. Além disso, permite perceber a estrutura da língua, como rimas, ritmo e repetição, essenciais na alfabetização”, ressalta a mestra em ciência, tecnologia e educação Elba Corrêa, autora do da dissertação “A contribuição das estratégias de leitura com cantigas populares para promover a alfabetização” (2021).

A primeira forma de leitura indicada é a realizada pelo professor. “Ela apresentará a forma correta de entonação e fluência”, complementa Corrêa.

2) Releitura em coro com participação do professor e dos alunos

“Ler e cantar junto promove participação coletiva, senso de pertencimento e reforço da memória”, reforça Paiva.

3) Partilha de leitura (cada criança lendo uma parte)

“Promove autonomia e protagonismo das crianças”, assinala Sousa. Também ajuda a desenvolver cooperação e respeito ao ritmo do grupo.

Paiva recomenda que o texto seja lido com calma. “Deixe a oralidade encontrar a escrita”.

A atividade ainda pode ser usada para explorar sons, rimas, sílabas, palavras-chave e propor a identificação de sons semelhantes. “Pode-se trabalhar a contagem de sílabas e segmentação de palavras; explorar o significado do vocabulário”.

4) Explicação de palavras desconhecidas ou de duplo sentido

“Isso contribui para a ampliação do vocabulário da criança, evitando que atribua significados inadequados às palavras”, orienta Sousa.

“Muitas cantigas carregam palavras antigas, regionais ou expressões que a criança nunca ouviu. Explicá-las é abrir portas para outros mundos e mostra que a língua é viva, diversa e cheia de histórias”, enfatiza Paiva.

5) Associação da cantiga a sentimentos, emoções e sensações

“Converse com a turma sobre o que a cantiga fala, o que ela lembra, o que significa”, indica Paiva.

6) Realização de atividades derivadas por escrito (rimas, paráfrases, sinônimos, reescrita)

“Atividades de escrita baseadas na cantiga ajudam a criança a perceber a relação entre fala e escrita, a organizar ideias e a explorar a criatividade. Além disso, fazer paráfrases ou reescrever a cantiga permite praticar ortografia, pontuação, construção de frases e ampliar o repertório de palavras”, afirma Corrêa.

Souza recomenda que as crianças, sozinhas ou em grupo, reescrevam as canções a partir de suas lembranças e criem novas versões. “As situações de escrita tornam-se mais significativas quando partem dos interesses dos próprios estudantes”, justifica.

“Quando a criança reescreve uma cantiga ou faz uma paráfrase, ela não apenas copia palavras: ela interpreta, recria e brinca com a língua”, defende Paiva.

7) Associar as cantigas com atividades artíticas

Paiva recomenda produzir um livro coletivo com a turma, reunindo textos e ilustrações de todos os alunos. “Outra possibilidade são as dramatizações das cantigas”, finaliza.

Veja mais:

Plano de aula: Gênero parlendas e cantigas de roda

13 dicas para alfabetização com parlendas

Como utilizar o trava-língua na alfabetização?

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13 orientações para realizar uma sondagem de alfabetização

Crédito da imagem: Hispanolistic – Getty Images

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