Mímica é uma forma de expressão em que a pessoa comunica algo sem palavras, apenas usando gestos e movimentos do corpo.

“É a transmissão de emoções, sentidos e signos a partir da gestualidade, trazendo para o corpo aquilo que a gente tem internamente ou absorve de fora. Por exemplo, posso interpretar um objeto, um animal ou uma pessoa a partir de como vejo isso, transferindo essa imagem para o corpo”, resume o doutor em educação física e professor da Universidade Estadual de Maringá Antônio Carlos Monteiro de Miranda.

Segundo o docente, a mímica pode ser um conteúdo da educação física escolar justamente por estimular a relação direta entre pensamento e expressividade. “Ela faz com que os estudantes conheçam e percebam seus corpos e como podem usá-los além do cotidiano”.

Professora de educação física e mestra em arte, ludicidade e educação, Débora Synara Tavares Alencar Reis lembra que a mímica ajuda a trabalhar a psicomotricidade durante as aulas da disciplina — isto é, a relação entre movimento, mente e emoções, o que envolve controle do corpo, coordenação e expressão.

“A mímica na educação física trabalha linguagem, comunicação, raciocínio lógico e planejamento motor. Desenvolve noções de lateralidade, domínio esquerdo e direito, equilíbrio, força e coordenação ampla, além de exercitar a coordenação olho-mão e olho-pé”, elenca.

Por esse motivo, Miranda recomenda apresentar a mímica para os alunos antes das práticas esportivas ou da dança. “A expressividade corporal será fundamental nessas modalidades”, complementa Miranda.

Atividades por etapa

Nos anos iniciais do ensino fundamental, Miranda indica atividades de imitação de animais, danças livres e jogos.

“As crianças já brincam de imitar de forma orgânica. É uma maneira de lapidar isso para que tenham consciência da prática.”

Nos anos finais do ensino fundamental, pode-se incluir também imitar pessoas conhecidas e ações do cotidiano — como abrir uma janela, escovar os dentes, dirigir, entre outros.

Já no ensino médio, a proposta é relacionar as atividades com interesses dos estudantes – como música e memes –, assim como priorizar jogos competitivos e atividades coletivas. “Os alunos estão mais acuados, mais tímidos, até pelos processos de identidade e pelas mudanças do corpo. Se você coloca dez adolescentes juntos fazendo gestos e outros imitando, não há o medo da exposição”, orienta Miranda.

“É uma faixa etária desafiadora de se trabalhar por estarem com o corpo mais engessado”, opina Reis.

Criando um ambiente acolhedor

Em todas as etapas, porém, é importante criar um ambiente em que os alunos se sintam seguros. “O trabalho com mímica é delicado porque coloca o sujeito em situação de exposição e pode gerar traumas. É preciso compreender que pode haver resistência inicial ao tema, pois ele mexe com questões pessoais e com a história de vida de cada aluno”, adianta Miranda.

Ele também indica ‘preparar’ o corpo dos estudantes antes da atividade como mímica.

“Inicie com um trabalho individual, com os alunos andando pelo espaço, percebendo o próprio corpo e fazendo interpretações de objetos que encontram no ambiente. Nesse momento, é importante que se concentrem em si mesmos, sem observar os colegas”, orienta.

“Depois, progrida para duplas, em que um repete o movimento do outro sem se comunicar”.

Miranda lembra que o professor deve sair da lógica do certo e errado ao orientar os alunos. “Por exemplo, quando um quarteto se junta para interpretar um computador e aparecem dois mouses, isso não é um erro, é criação.”

As atividades também podem ser associadas a elementos do audiovisual, como trazer fotos para que os alunos interpretem por meio de mímicas ou exibir filmes, como “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, e produções de “O Gordo e o Magro”.

A seguir, conheça 12 brincadeiras que ajudam a explorar a mímica nas aulas de educação física.

1) Marionete

Os alunos ficam posicionados em duplas, um de frente para o outro. Um deles atua como o “manipulador”, conduzindo o movimento do colega sem tocá-lo, como se segurasse fios invisíveis ligados ao corpo do outro. “Ele pode, por exemplo, simular que puxa uma linha do punho para erguer o braço do parceiro e depois fazer o mesmo com o outro lado, levando o corpo do colega a acompanhá-lo”, orienta Miranda.

2) Massa de modelar

Proposta é semelhante à da marionete, mas com o toque físico incluído, que deve ser cuidadoso e respeitoso.

“Um aluno ‘molda’ o corpo do colega como se ele fosse feito de massa de modelar. Pode criar posturas como a do pensador, do Cristo Redentor ou de uma tartaruga, explorando o corpo do outro com gestos sutis e suaves. O objetivo é construir imagens corporais”, destaca Miranda.

3) Espelho

Os alunos são divididos em duplas. Um faz movimentos livres e o outro deve imitá-los simultaneamente, como se fosse seu reflexo em um espelho. Os papéis podem se alternar durante a prática.

4) Detetive

Os alunos formam um círculo e fecham os olhos enquanto o professor toca levemente no ombro de alguns deles: uma vez para escolher o detetive e duas vezes para indicar o assassino. Em seguida, todos abrem os olhos e passam a interagir em um cenário imaginado — por exemplo, o hall de um hotel, com recepcionistas, hóspedes e carregadores de mala. Durante a encenação, o “assassino” deve piscar discretamente duas vezes para “eliminar” alguém, e o “detetive” deve tenta descobrir quem é o culpado antes que todos sejam “mortos”.

5) Interpretação de música

Reis sugere que os alunos expressem, apenas usando o corpo, o significado de uma música que gostam. “O grupo pode recitar em coro o que a letra representa por meio de gestos, expressões e movimentos, interpretando o ritmo e o sentimento da canção”, indica.

6) Interpretação de memes

Nessa proposta de Reis, cada estudante ou grupo escolhe um meme conhecido e o representa de forma teatralizada, tentando captar a essência do personagem, a situação ou o humor envolvido.

7) Representação de pessoas do convívio escolar

Aqui, os estudantes devem representar, através de gestos e expressões, pessoas que fazem parte de seu cotidiano, como a direção da escola, professores queridos ou colegas mais engraçados. O objetivo não é a imitação caricata, mas a observação atenta de comportamentos, posturas e trejeitos, transformando essas características em linguagem corporal.

8) Corrida lenta

No artigo “Mímica para a educação física escolar: um relato de experiência” (2023), Camila Monteiro de Oliveira e Zelton Adelino sugerem uma atividade cujo objetivo é realizar os movimentos de corrida o mais lento possível. Dessa forma, o último a chegar vence.

9) Estátua

Proposta de Oliveira e Adelino na qual coloca-se uma música de fundo para que os alunos dancem conforme queiram e parem ao cessar da melodia. Ela é dividida em cinco “rodadas”: a primeira é livre, então os alunos poderiam parar em qualquer posição. Na segunda, eles devem parar mantendo um dos pés sem contato com o chão. Na terceira, uma das mãos tem que estar acima da cabeça. Na quarta, fazer uma expressão de tristeza enquanto um pé ficava sem contato com o chão e uma mão acima da cabeça. Na quinta, repete-se as condições da quarta, mas com uma expressão de felicidade.

10) Brincadeira do manequim

Atividade da pesquisadora de jogos teatrais Viola Spolin indicada por Oliveira e Adelino.

Aqui, um aluno é escolhido para ser o caçador e ficar de costas para a turma com os olhos fechados (Spolin, 2010). O restante do grupo determina um indivíduo para ser o manequim, que possui a função de realizar movimentos sem ser percebido pelo caçador. Todos os outros participantes devem imitá-lo discretamente, e o objetivo do caçador é descobrir quem é o manequim original em até três tentativas.

11) Brincadeira de passar objetos imaginários

Atividade de Spolin resgatada por Oliveira e Adelino. Todos os participantes permanecem em um círculo, e um deles inicia passando um objeto imaginário. Ele precisa expressar corporalmente as características do objeto, como formas, tamanhos e pesos, e o receptor precisa recebê-lo de acordo com as características demonstradas e passá-lo para o próximo expressando novas características. Por exemplo, ao imaginar um objeto pesado e pequeno, o aluno o pega com os dedos ou a palma da mão e em um plano baixo, com uma expressão de cansaço.

12) Brincadeira da fila/minhocão:

Atividade realizada por Oliveira e Adelino, na qual os alunos formam uma fila única de forma que o primeiro da fila realize um determinado movimento e os demais o mimetizem, como uma espécie de “telefone sem fio” corporal, até que o movimento chegue ao último da fila.

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Crédito da imagem: StockPlanets – Getty Images

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