Além da perspectiva histórica, outra forma de trabalhar o conflito entre Israel e Palestina é pelo ponto de vista dos direitos humanos. No caso específico desse embate, discriminação e repressão baseadas na identidade nacional, étnica, racial ou religiosa representam violações de direitos básicos.
Em um projeto desenvolvido via Política Nacional de Formação de Professores (PIBID), pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a professora de história Nathani Neves e colegas propuseram discutir o conflito entre Israel e Palestina por meio da criação de um muro dividindo uma classe do 1º ano do ensino médio, experiência que resultou em um artigo científico.
“Discursos e ideias de polarização costumam enfatizar a construção de ‘muros’ em fronteiras e destruir quem pensa diferente. Abordar a temática provoca nos estudantes o olhar crítico diante de cenários de perseguição, disputas territoriais, conflitos e guerras de caráter político-religioso-cultural”, esclarece Neves.
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Primeiro, o grupo de professores abordou o que os estudantes tinham de conhecimentos prévios sobre o tema, já que o conflito é regularmente difundido nos meios de comunicação. Depois de trabalhar os pontos históricos, propuseram a customização de caixas de papelão como blocos de concreto para a construção do muro. “Ele dividiu os estudantes das mesmas ‘panelinhas’”, explica a professora.
A partir disso, os docentes puderam conversar sobre o muro como símbolo não somente da separação física, mas ideológica. “O objetivo foi inquietá-los para abandonarem o olhar passivo diante de notícias, além da normatização de situações que parecem distantes de suas realidades”, acrescenta.
Do cotidiano ao global
Para professores de história que desejam se inspirar na atividade, Neves sugere conversar sobre a construção de muros não apenas simbólicos, mas físicos. “Era necessário desenvolver a empatia e o sentimento de solidariedade dos alunos em relação àqueles vistos como ‘diferentes’, na tentativa de edificar atitudes de respeito e acolhimento”, relembra. “Em outras palavras, era preciso entender como os discursos de divisão, segregação e desrespeito surgem em uma sociedade. A ignorância é um campo fértil a ser explorado e usa o ‘medo’ do que nos é desconhecido”, assinala.
Além disso, temas correlatos ao conflito — como disputas territoriais, xenofobia, imigração, intolerância religiosa e solidariedade — também podem ser relacionadas ao cotidiano dos alunos. “A dinâmica conflituosa de ‘certo versus errado’ ou de ‘bom versus mau’ pode surgir de simples preferências individuais até alcançar pontos complexos em escala global. Assim, vale refletir qual a real diferença entre a minha turma de 1º ano do ensino médio com outra que rivalizamos por um motivo ou outro? Como lidar com aquele que está além de mim?”, reflete.
“Penso que provocar situações de empatia, trazendo o cotidiano e o olhar para si podem ser uma ferramenta importante de autorreflexão, levando-os a entender as questões distantes e externas como, talvez, projeções daquilo que também ocorre no nosso dia a dia”, destaca a professora.
Cultura de paz
Falar sobre paz e tolerância também exigiu desconstruir um pensamento binário de que defender a Palestina significa ser contra o Estado de Israel. “Quando estamos lidando com a História, entendemos o quão delicada é a questão ‘herói’ e ‘vilão’. Quebrar essa dicotomia à la ‘universo de superheróis’ certamente é uma preocupação”, justifica. “Assim, cuidamos em fazê-los entender ambos os lados, sem necessariamente edificar algum julgamento”, diz.
Ao final, professores e alunos criaram um festival árabe na escola, com produções artísticas e textuais. Cada grupo de alunos elaborou oficinas sobre diferentes aspectos da cultura árabe, como a culinária, a literatura, a música e a dança, as representações visuais e a produção de arabescos. “O festival árabe representou, na prática, que o conhecimento de culturas distintas da nossa nos ajuda a perceber o lado positivo daquilo que julgamos como ‘diferente’, e a importância de construir esse caminho em conjunto. Não há necessidade de muros quando percebemos que ‘o diferente’ pode ser bom também”, conclui.
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Atualizado em 08/11/2021, às 15h37