A educação financeira pode ser ensinada no ensino médio usando o Tesouro Direto com objeto de pesquisa. “Ele é um programa criado pelo Tesouro Nacional que permite a uma pessoa comprar títulos públicos. Isso é como emprestar dinheiro para o governo – que usa o montante para investir, por exemplo, em educação, saúde e infraestrutura – em troca de uma remuneração”, resume Luiz Eduardo da Silva Gomes, mestre profissional matemática

Segundo o professor, o Tesouro Direto é uma modalidade de investimento considerada segura, por ser realizada diretamente junto ao governo, e acessível, já que é possível começar a investir a partir de cotas de R$ 30. Para isso, é necessário cadastrar uma conta em uma corretora autorizada. “Por meio dele, os estudantes poderão aprender os conceitos de matemática e educação financeira na prática, fazendo simulações, comparando opções de investimentos, taxas de juros, fazendo planejamentos para aposentadoria, entre outros”, acrescenta.

“Para os alunos é possível aprender sobre juros compostos, e no âmbito pessoal, saber que poupar e investir podem ser usados para realizar um sonho em curto prazo, como comprar um celular e ir a um show, e também projetos a longo prazo, como comprar uma casa própria ou outro bem durável”, complementa a mestre profissional em ensino de matemática e professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Klaudia Craveiro da Cunha Moretta.

Explicações antes de iniciar as atividades

Ao entrar no site do Tesouro Direto, o aluno pode se assustar com terminologias e informações ainda desconhecidas sobre modalidades de investimentos, prazos e taxas. Moretta explica que essas informações serão importantes para atividades práticas, devendo ser explicadas. Listamos abaixo algumas delas.

1) Opções de investimentos com taxas pré-fixadas e pós fixadas

“Há as opções com taxas pré-fixadas – chamada tesouro prefixado –, que é quando no ato da aplicação já se sabe quanto aquela aplicação renderá ao final do período”, diz Gomes.

Há também as taxas pós-fixadas (Tesouro Selic) em que a taxa de juros está atrelada ao Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), taxa básica de juros da economia brasileira. “A Selic sofre alterações a cada 45 dias, sendo definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil”, ensina Moretta

Por fim, há a opção híbrida, que é quando a rentabilidade é composta de uma parte fixa e outra variável (IPCA). “O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é um indicador da inflação no Brasil que mede a variação dos preços de um conjunto de bens e serviços. Ou seja, na prática, é a inflação”, acrescenta Moretta.

2) Prazos de vencimentos

São o período de tempo durante o qual o investidor deve manter o título para receber os rendimentos. Eles variam de acordo com cada título, podendo ser curtos – por exemplo, 2 anos – ou longos – por exemplo, 10 anos.

“Ao retirar o dinheiro do tesouro pré-fixado ou do tesouro IPCA antes do vencimento, o investidor poderá ter prejuízo. Portanto, antes de investir, deve-se ter clareza dos objetivos que se quer alcançar e o prazo esperado para isso”, pontua Gomes

“Geralmente, para investimentos de curto prazo, o mais indicado é o Tesouro Selic. Já para investimentos de longo prazo, o mais indicado é o Tesouro IPCA”, adiciona o professor.

3) Impostos e taxas

É cobrada, pela Bolsa de Valores (B3), uma taxa de custódia de 0,25% ao ano. “Pode haver taxa da instituição financeira por onde o valor é investido, mas muitas mantêm a gratuidade dela”, alerta Gomes.

Há também a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o imposto de renda (IR). “O IOF será cobrado apenas se o investidor quiser retirar o seu dinheiro antes de 30 dias da data inicial do investimento. Já o imposto de renda segue uma tabela regressiva, que começa em 22,5% e vai até 15%. Dessa forma, é importante investir o dinheiro pensando no longo prazo para ter maior rentabilidade”, reforça Gomes.

“Mesmo com esses taxas e impostos, ainda é mais rentável investir no Tesouro Direto em relação à caderneta de poupança”, defende Moretta.

4) Diferentes fluxos de remuneração

“Juros semestrais” e “liquidez diária” são alguns termos relacionadas à remuneração dos valores investidos no Tesouro Direto. “Todos os títulos do tesouro possuem liquidez diária, isto é, podem ser resgatados a qualquer momento. Há ainda opções de investimentos com juros semestrais, em que duas vezes por ano é pago o chamado cupom – juros devidos até aquela data”, diz Gomes.

5) Diferença de rendimento real e líquido

“O rendimento líquido é o valor obtido após a dedução de todas as taxas e impostos. Já o rendimento real é o valor obtido após descontar todas as taxas, impostos e a inflação do período”, explica Moretta. “Deve-se sempre ter um rendimento real acima da inflação”, indica Gomes.

6) Títulos especiais

Nos últimos dois anos, o Tesouro lançou duas modalidades de títulos especiais. O Tesouro Educa+ é voltado para investimentos relacionados à educação, como programar uma graduação, curso ou intercâmbio. Já o Tesouro RendA+ funciona como previdência privada e é voltado para quem deseja planejar a aposentadoria. Em ambos, há um período de acumulação e outro de pagamento mensal do que foi investido.

Atividades com a turma

Segundo Gomes, o site do Tesouro Direto possui uma diversidade de recursos que podem ser aproveitados. “Pode-se fazer atividades de reconhecimento dos conceitos de taxa de juros, tempo, capital e montante; realizar simulações de investimentos; cálculos de descontos por impostos e taxas; estudo do efeito dos juros compostos ao longo do tempo, planejamento financeiro e comparações entre opções de investimentos – poupança, CDB, LCI, LCA, fundos DI –, entre outros”, indica.

Na sua dissertação  “Matemática Financeira: uma proposta de abordagem para o ensino médio por meio de simulações de investimentos no Tesouro Direto” (2020), o professor indica usar o simulador do Tesouro Direto para checar o rendimento de uma aplicação.

“Deve-se destacar com o aluno o efeito dos juros compostos ao longo do tempo; o valor crescerá de maneira exponencial. Porém, ao abordar o conceito de juros compostos, aprendemos algumas fórmulas, como a do montante e a conversão de taxas de juros. Mas evite abordar todos os aspectos relacionados aos cálculos dos investimentos em títulos públicos, devido ao grau de dificuldade”, alerta Gomes.

“A ideia é que os alunos façam simulações pelo site do Tesouro Direto e realizem cálculos aproximados utilizando os conceitos aprendidos em aula, desconsiderando-se aspectos como dias úteis de um determinado período e cobranças de taxas”, ensina.

Em sua dissertação “Educação Financeira na escola, uma perspectiva educacional ampliada” (2023), Moretta indica criar uma situação hipotética de investimento e comparar diferentes modalidades de investimento. “Trace um paralelo entre a poupança e um título do Tesouro Selic, demonstrando a rentabilidade dos dois”, orienta.

Veja mais:

7 dinâmicas para ensinar educação financeira na escola

Como usar histórias em quadrinhos para ensinar educação financeira

10 conteúdos para ensinar educação financeira

Crédito da imagem: kertlis – Getty Images

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