A aprendizagem cooperativa ou colaborativa é uma ferramenta que permite que os alunos trabalhem juntos para alcançarem objetivos comuns e maximizarem sua aprendizagem. Segundo o pesquisador de psicologia educacional da Universidade de Minesota, Estados Unidos, David W. Johnson, os estudantes internalizam valores sociais importantes durante a experiência.

“Há o compromisso com o bem comum e com o bem-estar dos outros membros do grupo; senso de responsabilidade para contribuir com o trabalho; respeito pelos esforços dos outros e por eles como pessoas; comportamento íntegro e com compaixão, quando outros membros estão em necessidade; e apreciação da diversidade”, lista o pesquisador.

Johnson e seu irmão Roger foram responsáveis por revisar mais de 1.200 estudos sobre o tema, publicados a partir de 1898.

O que é a aprendizagem cooperativa?

David Johnson: A cooperação é trabalhar em conjunto para alcançar objetivos compartilhados. Nessas situações, indivíduos buscam resultados que irão beneficiar a si mesmos e a todos os membros do seu grupo. A aprendizagem cooperativa é o uso instrucional de pequenos grupos para que a turma trabalhe junta para maximizar a aprendizagem própria e mútua. Esses conjuntos são tanto um sistema de suporte acadêmico (cada aluno tem alguém que está comprometido em ajudá-lo a aprender) quanto de apoio pessoal (cada estudante tem alguém que está comprometido com ele como pessoa).

Ela é oposta à aprendizagem por competição?

Johnson: Ela pode ser contrastada com a aprendizagem competitiva, em que alunos trabalham uns contra os outros para atingir um objetivo acadêmico, como uma nota “A”, que apenas um ou alguns poderão atingir. E, também, à individualista, em que estudantes trabalham sozinhos para atingir metas de aprendizagem que não estão relacionadas às dos demais. Embora existam limitações sobre quando e onde você pode usar adequadamente a aprendizagem competitiva e individualista, você pode estruturar qualquer tarefa de aprendizado, área de estudo e currículo de forma cooperativa.

Quais as formas de trabalhar a aprendizagem cooperativa em sala de aula?

Johnson: Existem três tipos de grupos de aprendizagem cooperativa. Grupos formais podem durar uma aula ou várias semanas. Os professores podem estruturar qualquer atribuição acadêmica ou requisito de curso. Já os grupos informais são para uma finalidade específica, que duram alguns minutos ou uma aula. São os pares fomentando a discussão entre pares. Os professores usam esse formato, de dez a quinze minutos, no início de uma aula expositiva, durante ou ao seu final. Por fim, os grupos de base são de longo prazo, com duração de um semestre ou ano. São heterogêneos, com membros estáveis, ​​cuja finalidade principal é que os alunos forneçam apoio, ajuda, assistência e incentivo mútuos para cada um progredir academicamente. Eles fornecem aos estudantes relacionamentos a longo prazo e com comprometimento.

David W. Johnson revisou, ao lado do irmão, mais de 1.200 estudos sobre aprendizagem cooperativa (crédito: arquivo pessoal)

 

Quais os benefícios da aprendizagem cooperativa apontados em estudos acadêmicos?

Johnson: Desde a primeira pesquisa, publicada em 1898, houve mais de 1.200 estudos experimentais e mais de 200 relacionando esforços cooperativos, competitivos e individualistas. Os resultados podem ser classificados em três categorias. Primeiramente, a cooperação mobiliza grandes esforços. Isso inclui maior realização, produtividade, retenção do conhecimento, motivação, nível de raciocínio e pensamento crítico. O segundo ponto é que estimulam relações mais positivas, incluindo espírito de grupo; relacionamentos afetuosos e comprometidos; apoio social, pessoal e acadêmico e valorização da diversidade. Por fim, há uma maior saúde psicológica, com o desenvolvimento de competências sociais, autoestima, identidade, capacidade de lidar com a adversidade e o estresse. Esses resultados benéficos da cooperação a separam de outros métodos instrucionais e a tornam uma das ferramentas mais importantes da educação.

Quais valores sociais são ensinados?

Johnson: A aprendizagem cooperativa ensina inerentemente um conjunto de valores cívicos, que são promovidos justamente por experiências de cooperação. Os estudantes internalizam valores como: compromisso com o bem comum e com o bem-estar de outros membros; senso de responsabilidade para contribuir com o trabalho; respeito pelos esforços dos outros e por eles como pessoas; comportamento íntegro e com compaixão, quando outros participantes estão em necessidade; e apreciação da diversidade.

Quais elementos são necessários para que a cooperação funcione?

Johnson: São necessários cinco elementos essenciais. O primeiro e mais importante é a interdependência positiva. Ela existe quando os membros do grupo percebem que estão ligados uns aos outros de uma forma que não se pode ter sucesso individual a menos que todos tenham. Cria-se um compromisso com o sucesso de outras pessoas e com o próprio. É o coração da aprendizagem cooperativa: sem interdependência positiva, não há cooperação. O segundo elemento essencial é a responsabilidade individual e coletiva. O grupo é responsável por atingir seus objetivos e, cada um, por contribuir com uma parte justa do trabalho. O terceiro é a interação, de preferência, cara a cara. Os integrantes compartilham recursos, ajudam, apoiam, incentivam e elogiam os esforços mútuos. O quarto elemento é ensinar aos alunos as habilidades interpessoais necessárias para pequenos grupos, que vão além do trabalho em equipe. Os membros devem saber como exercer liderança eficaz, tomada de decisões, construção de confiança, comunicação e gestão de conflitos. O último é o processamento em grupo, ou seja, quando seus participantes analisam e ponderam como estão atingindo suas metas e mantendo relações de trabalho eficazes.

Veja mais:
Mesa redonda estimula argumentação colaborativa dos alunos
6 livros sobre aprendizagem colaborativa
Educação e cultura digital: momento atual favorece aprendizagem colaborativa

Crédito da imagem principal: monkeybusinessimages – iStock

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