No dia 2 de março de 2021, uma das mais respeitadas autoras de literatura infantojuvenil celebra 90 anos de vida. Trata-se de Ruth Rocha, escritora com mais de 200 livros editados que adentrou no mundo infantil pela porta da educação. Nos anos 1960, trabalhou como orientadora educacional de colégios e iniciou sua carreira como jornalista freelancer da Editora Abril, escrevendo colunas sobre o tema na revista Claudia e colaborando com a Recreio. Em uma entrevista exclusiva em comemoração ao seu aniversário, a autora de clássicos como “Marcelo, marmelo, martelo” e “O reizinho mandão” relembra seu início e comenta tanto a influencia da educação no seu trabalho, quanto a repercussão de sua obra no ambiente escolar.
Instituto Claro: Como você começou a escrever histórias infantis?
Ruth Rocha: Eu era freelancer na revista Recreio, da Editora Abril, onde fazia a parte da área de Pedagogia. A moça responsável pelas histórias, a escritora Sônia Robatto, queria opções de narrativas mais brasileiras. Certa vez, ela me viu contando uma história para a minha filha sobre Romeu e Julieta como duas borboletas. Ela praticamente me trancou em uma sala e me fez colocá-la no papel. Esta foi minha primeira história, e falava principalmente sobre preconceito.
E o que lhe inspira a continuar escrevendo?
Rocha: Eu não sei. São as coisas que temos na vida, como a família, as músicas prediletas e afins. E, no meu caso, [escrever] é a minha profissão.

Como você vê a contribuição da literatura infantil para a educação?
Rocha: A literatura influencia e muda a vida de todos, não apenas da criança. Mas as crianças realmente gostam de ouvir histórias. E sabe por quê? Porque é a forma que elas têm de conhecer o mundo, de ser apresentadas à vida, de entender o lugar onde nasceram e moram. Tudo isso é esclarecido pelas histórias. Também as leva a fazerem perguntas, o que influencia na educação.
A experiência com a pedagogia influenciou na sua escrita para crianças?
Rocha: Eu fui orientadora educacional. Acho que tudo o que sou entra nas minhas histórias. O fato de eu me interessar pelo assunto da educação, de ler a respeito, tudo isso deixou uma marca em mim. Mas também não é sobre o que eu fui, mas sobre o que sou.
O que você pensa dos seus livros estarem presentes em tantas escolas no Brasil?
Rocha: Eu fico espantada. Acho que tenho uma literatura fácil, escrevo uma literatura que alcança a criança. Penso que isso se deu porque eu me lembro de como é ser uma criança de quatro anos, tenho isso vivo em mim. E havia muitas crianças na minha infância: meus vizinhos frequentavam minha casa e eu a casa deles. Convivíamos na rua todos os dias. Assim, sinto que entendo como a criança é. Isso acaba chegando à escola porque os professores gostam das narrativas que as crianças apreciam.
Tem algum livro seu que você considera que dialoga bem com esse ambiente escolar?
Rocha: Bem, eu tenho 200 livros, tem de todo tipo (risos). Mas eu tenho dois almanaques que são fontes de tantas coisas. De toda forma, eu acho que o livro ideal é aquele que chega à pessoa na hora certa.
Como você gostaria de ser lembrada pelas futuras gerações?
Rocha: Eu nunca pensei nisso. Eu gostaria que todos se lembrassem de mim como uma pessoa e uma escritora interessante.
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Ruth Rocha nossa venerada escritora… Gratidão ✨