Sobrecarga de trabalho e a tecnologia invadindo a rotina eram realidades da vida do professor que foram agravadas com o trabalho home office durante a pandemia da covid-19. “A maioria relata problemas com a gestão do tempo”, explica a doutoranda em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e psicóloga-perita dos servidores do estado Rafaela Trevisan.

“Temos alunos com rotinas de confinamento diversas, que acionam o professor para dúvidas fora do seu horário de trabalho. E docentes trabalhando home office, presencial ou de forma híbrida. Em todos os casos, a demanda de atividades e de burocracia aumentou, incluindo controle da participação dos alunos”, contextualiza. A seguir, confira nove sugestões para melhorar o planejamento do trabalho e diminuir a sensação de sobrecarga.

Privilegie atendimentos coletivos

É comum esclarecer a mesma dúvida para alunos diferentes, o que torna o trabalho repetitivo e exaustivo. Assim, privilegie atendimentos coletivos ou em que as respostas fiquem registradas, como grupos de WhatsApp, no Facebook e fóruns. Atenda individualmente os casos mais graves.

A dúvida do aluno pode esperar

“É depois das 18h que os alunos mais procuram para dúvidas”, conta a professora de biologia do estado de São Paulo (SP) Ana Paula Garcia. “Os docentes se sentem responsáveis em responder de imediato. Porém, as gerações passadas estudavam sem internet, guardando uma dúvida que tinham em casa para esclarecer na próxima aula. Ao retomar o conteúdo, a ‘chave’ é ligada novamente”, diz a psicóloga.

Confira também: 9 dicas para estimular alunos a ligarem a câmera e interagirem nas aulas remotas

Desligar ou não visualizações de mensagem?

Desligar notificações e a opção de visualização de mensagens no WhatsApp pode ajudar a reduzir a ansiedade, mas não é regra. “Mesmo se o destinatário souber que você viu a mensagem, não há obrigação de responder de imediato. Cada um pode lidar com a sua ansiedade”, lembra a psicóloga. Vale, ainda, evitar checar as mensagens muitas vezes ao dia. Cada professor, porém, pode adotar a melhor estratégia. “Após um ano, optei por deixar o WhatsApp e usar somente o Google Sala de Aula”, conta a mestre em Matemática e professora da rede municipal de Praia Grande (SP) Kaoma Ferreira de Bessa.

Desenhe a grade de trabalho

Para delimitar os horários de atendimento, de preparação de aula e questões administrativas, Trevisan aconselha desenhar a grade em uma folha, especificando os dias da semana para cada atividade e os horários diários de cada tarefa. “Isso demarca limites”, diz. Bessa reserva um dia da semana diferente para planejar a atividade, executá-la, corrigi-la e retornar à classe. Ela reserva uma hora por dia para atendimentos ou demandas inesperadas. “Sei que os horários deles são diferentes dos das aulas presenciais”, pontua. Vale também hierarquizar demandas, diferenciando as que são urgentes das importantes, que podem ser resolvidas posteriormente.

Trabalho híbrido = planejamento complexo

Garcia trabalha em quatro escolas e tem 18 turmas, atuando em home office e presencialmente. “Sem organização, fico perdida. Preciso me atentar a informações de turmas, horários, regras, atividades, participação dos alunos e dúvidas”, lista. A ausência de computadores da escola também prejudica o trabalho fora da classe. Há, ainda, professores em home office que precisam controlar os materiais impressos dos alunos que não têm acesso à internet. “Meu celular está ruim e precisei comprar um tablete”, diz a professora.

Ajude o aluno a planejar os estudos

Estudar em horários alternativos é a realidade de alunos que trabalham, ajudam em casa ou não tem internet à disposição. Para os demais, ajudá-los a organizar uma rotina de estudos semanal e diária evita que os professores sejam acionados fora do expediente. “Também coloque limites, pedindo para responder a dúvida no horário do expediente. Aos alunos que me acionam à noite, eu digo que ajudarei nessa primeira vez, mas peço para respeitarem o horário da aula, que é das 7h às 11h30”, conta a professora de anos iniciais do fundamental na rede estadual de São Paulo Andréa Manna.

Refaça os combinados

A ida abrupta para o home office e a esperança de um retorno rápido das aulas presenciais fez com que professores não traçassem regras claras com alunos e família sobre essa modalidade de trabalho. “Um problema principalmente para quem trabalha no mesmo ambiente que os filhos, que cuida de idosos, entre outros”, diz Trevisan. Há alternativa é refazer os combinados, ainda que depois de um ano. “Colocar a televisão em outro ambiente, pedir para os filhos respeitarem o horário do serviço e explicar aos alunos que os horários de atendimentos serão restritos são possibilidades”, sugere a psicóloga.

Foque no presente

Trevisan lembra que teremos um prejuízo social pós-pandemia, mas que não será sanado agora. “Tão pouco é culpa do professor. Vivemos um ensino remoto emergencial e a saúde mental do trabalhador que deve ser priorizada. Assim, seja sempre generoso consigo e faça o que estiver ao seu alcance, não mais que isso”. “Em 2020 me sentia culpada. Este ano, entendi que nem tudo era problema meu”, diz Manna.

Tempo de descanso deve ser respeitado

“É como quando há problemas em um voo e são necessárias máscaras de oxigênio. Primeiro, o adulto precisa vesti-las para, depois, ajudar as crianças”, compara Trevisan. Esse autocuidado inclui sono adequado, fazer atividades de lazer e, inclusive, desligar o celular. “É preciso ser racional para encontrar esse momento”, confidencia Bessa.

Veja mais:

7 dicas para o uso pedagógico do WhatsApp

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