Apesar de parecer um conteúdo fácil, o ensino das fases da lua na educação básica nem sempre é eficiente. “Os alunos conseguem nomeá-las e diferenciá-las, mas não entendem porque esse fenômeno acontece”, relata a doutora em educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Amanda de Mattos Pereira Mano.

Professores que ensinam ciências no ensino fundamental apontam pelo menos sete dificuldades dos jovens que prejudicam a real aprendizagem do conteúdo. Segundo eles, conhecer essas questões é fundamental para a criação de sequências didáticas mais significativas e esclarecedoras.

A seguir, confira as principais dúvidas dos alunos e, ao final, 4 atividades que ajudam a esclarecê-las.

Dificuldade 1 : entender a relação Terra-sol-lua

Em pesquisa com alunos do 8º ano do ensino fundamental de uma rede municipal paulista, Amanda Mano e Eliane Giachetto Saravali identificaram que os alunos se centravam ora na lua, ora na Terra, sem construir uma relação entre os elementos.

“Quando os alunos não conseguem compreender as características desses elementos, por exemplo, que a lua é iluminada pelo sol, bem como as relações que eles estabelecem entre si, tal qual os movimentos de rotação, translação e lunação, a aprendizagem científica das fases da lua não ocorre ou a compreensão é parcial e limitada”, enfatiza Mano.

Dificuldade 2: confundir a escala astronômica com a cotidiana

O fenômeno das fases da lua envolve uma variação de referenciais e escalas. “Temos a nossa visão como observadores aqui na Terra e a relação do fenômeno no espaço, como ocorre fora da Terra. O professor deve tratar dessas diferentes escalas para que a compreensão possa ser construída”, explica a doutora em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Paula Cristina S. Gonçalves.

Dificuldade 3: considerar objetos astronômicos planos

“Possivelmente, os alunos acreditam que seja dessa forma por estarem centrados em sua própria perspectiva. Assim, é preciso coordenar e entender posições, iluminação e sombras”, opina Mano.

Dificuldade 4: dúvidas quanto ao tamanho dos astros

“Pensando no nosso sistema solar, a maioria dos estudantes entende o sol como o maior astro. Porém, quando questionados sobre o tamanho da Terra em relação à lua, muitos têm dúvidas sobre quem seria maior”, diz Mano.

“Alguns diziam que achavam que a lua era maior porque já a viram ‘bem grandona’ no céu, ou seja, há novamente a questão de estarem centrado em sua própria perspectiva”, pondera Mano.

Dificuldade 5: dúvidas sobre as fases da lua em outros países

“Eles questionavam se a fase que estamos hoje no Brasil é a mesma em outro lugar da Terra. Essa dúvida mostra o quão difícil é compreender o fenômeno e sua abrangência”, opina Mano.

Dificuldade 6: ideias não pautadas em aspectos científicos

“Na pesquisa, notamos que os conhecimentos prévios e de senso comum dos estudantes se misturam a conceitos científicos, o que leva a uma compreensão incompleta das fases da lua”, explica Mano.

“Por exemplo, eles nomeavam as fases e sabiam que algo diferente acontece com a lua ao passar dos dias, porém, justificavam como sendo ‘porque o tempo passou’. Para o professor, não dá para organizar uma situação didática sem considerar que seus alunos têm explicações próprias”, reforça.

Dificuldade 7: entender o papel do sol

“Muitos alunos acreditam que a parte escura da lua é a sombra da terra, uma explicação correta para um eclipse, mas que não vale para as fases da lua”, pontua o doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge (Reino Unido) Leonardo Gonçalves Lago.“Eles não se lembram de que o sol está iluminando a lua, acham que ela brilha por luz própria”, apresenta.

Veja também: Confira no nosso TikTok informações sobre a lua que talvez você não sabia!

4 atividades que trabalham as principais dificuldades dos alunos

1) Observação das fases da lua

“Até chegar à abstração de compreender como ocorrem as fases na relação sol-Terra-lua, é importante que o ensino tenha uma complexidade progressiva. Assim, a orientação é iniciar pela observação da lua e discutir como o fenômeno ocorre para além do que os olhos podem ver”, sugere Gonçalves.

O professor pode pedir aos estudantes que observem a lua de suas casas e desenhem o que notarem de diferente. “Inicie a partir dos primeiros dias da lua crescente e repita a atividade com intervalos de quatro a cinco dias, para que os alunos notem as mudanças. Comece a aula com uma roda de conversa para que eles compartilhem observações, desenhos e ideias”.

Além disso, o professor pode interferir com perguntas, levando os alunos a elaborarem hipóteses. “É importante o educador estimular que essas observações e desenhos sejam feitos na mesma data e o horário da observação, o que é um aprendizado sobre organização e processos de investigação. Além disso, dê espaço para a fala dos estudantes”, aconselha.

2) Crie modelos tridimensionais

“É fundamental sair da observação dos desenhos planos do livro didático e da lousa. Quando não há as três dimensões do sistema, isso atrapalha bastante a real aprendizagem”, aconselha Lago.

Uma alternativa é criar modelos e maquetes nos quais seja possível trabalhar luz e sombra. Em sua dissertação de mestrado, Lago propôs um modelo tridimensional usando bolas de isopor para representar os astros, respeitando a escala de tamanhos. Além disso, apagou a luz da sala e usou uma lanterna para simular a luz do sol.

“Mostre que a lua está sempre metade iluminada e nunca deixa de ser iluminada pelo sol, a não ser no eclipse deste. No sistema tridimensional, é possível entender quando a lua está 100% com a sua face voltada à terra (lua cheia) e diferenciar quando ela cresce e quando mingua”, destaca o professor.

3) Diferencie as fases da lua do eclipse

“Os alunos acham erradamente que, nas fases da lua, a luz está na sombra da Terra. Essa é a explicação para eclipse, que será o próximo conteúdo do currículo a ser estudado e isso causa confusões”, adverte Lago.

Para diferenciar os fenômenos, ele indica buscar aplicativos e vídeos que mostrem a inclinação da órbita da lua e suas mudanças.“Se a órbita da lua coincidisse com a órbita da Terra em relação ao sol, todo mês teria eclipse”, explica.

“Já ao analisar as órbitas, observa-se que o cone de sombra da Terra é uma região pequena e que a órbita da lua é grande, logo, é difícil conciliar esse encontro, motivo pelo qual eclipses são raros”, aponta Lago.

4. Aproveite as experiências dos alunos

Uma forma de desmistificar ideias equivocadas dos alunos é entender o que eles já sabem do fenômeno. Em experiência com alunos do 2º ano do ensino fundamental, Gonçalves utilizou perguntas disparadoras como: “O que você vê?”; “O que mais gosta de olhar no céu?”. Se a lua fosse citada, a próxima questão era: “O que você sabe sobre a lua?”. “Toda noite a lua está no céu?”; “A gente pode ver ela de dia?”; “Ela sempre aparece igual?”; “Ela sempre está no mesmo lugar ou ela muda de lugar?”.

Lago sugeriu que os alunos entrevistassem os avós sobre a importância da lua nas vidas, e se preparou para responder dúvidas que surgiam sobre a influência da lua nas marés, nas lavouras e mitos populares sobre o astro.

Já Mano anotou as ideias prévias dos alunos na lousa. “Essa atividade, por mais simples que pareça, pode ser um momento em que os alunos tomem consciência de suas próprias ideias e reflitam sobre outras perspectivas. Esse levantamento também pode ser feito por desenhos”, sugere.

Ela e Saravali compartilham suas experiências no e-book gratuito “Ensinar e aprender as fases da lua e os Eclipses em uma perspectiva construtivista”, pela Editora Oficina Universitária, da Unesp.

Veja mais:

Plano de aula: Os movimentos da lua (Fundamental 1)

Plano de aula: Eclipses solar e lunar: a dança dos astros (Fundamental 2)

Atualizado em 24/02/2023, às 14h25

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