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O Prêmio Jabuti de 2021 deu à obra “META: Depto. de Crimes Metalinguísticos” o primeiro lugar na categoria histórias em quadrinhos (HQ). De autoria de Marcelo Saravá, a HQ parte do assassinato de um desenhista, cujos principais suspeitos são os personagens criados por ele. Além de incentivar a leitura, o material pode ser usado por professores para trabalhar metalinguagem na escola.

“São as crônicas de uma equipe secreta de polícia que investiga crimes da ‘quebra da quarta parede’(…) pode ser uma história infantil e, de repente, a princesa fala com o leitor, o espectador. Isso é quebrar a quarta parede”, explica Saravá. Em ‘META’, há detetives que atuam nos quadrinhos, teatro, literatura, cinema e outras mídias narrativas, que quebram essa quarta parede e convidam o público a participar da solução dos mais estranhos casos.

meta quadrinhos metalinguagem
Ilustração de André Freitas para o livro META (crédito: divulgação)

Leia também: Plano de aula – Histórias em quadrinhos

Turma da Mônica

Em um exercício estilístico de narrar histórias sobre o ato de contar histórias, o entrevistado revela que se tornou quadrinista, motivado pela Turma da Mônica. “Uma das minhas primeiras inspirações como quadrinista foi Maurício de Sousa, especialmente em histórias do Louco com o Cebolinha, ou do Bidu com a Dona Pedra e o Bugu – trabalham muito metalinguagem, quebram muito a quarta parede, falam diretamente com o leitor”, observa. Ele, inclusive, também indica essas histórias para professores que querem mostrar exemplos de metalinguagem em sala de aula.

No áudio, Saravá ainda dá dicas para jovens que tem o sonho de serem quadrinistas. “Publiquei pela internet pela primeira vez, em 2008 e, na época, eu não conhecia nenhum desenhista pra fazer projetos comigo. Então eu entrei no mundo dos quadrinhos pela porta dos fundos, fazendo tirinhas, sem desenho, que eu postava num fotolog”, lembra.

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Transcrição do Áudio

Música: Chekmate (Natan Moore)

Marcelo Saravá:
Uma das minhas primeiras inspirações como quadrinista foi Maurício de Sousa, especialmente em histórias do Louco com o Cebolinha, ou do Bidu com a Dona Pedra e o Bugu – trabalham muito metalinguagem, quebram muito a quarta parede, falam diretamente com o leitor; tem histórias muito malucas, metalinguísticas, que, com certeza, foram uma fonte que eu bebi pra eu criar o “Meta: Departamento de Crimes Metalinguísticos”.
Imagine assim: Hamlet descobre que todo mundo no fim da história dele vai morrer. Então ele sai da história e mata Shakespeare pra impedir que todos morram no final. Isso é um crime metalinguístico que a nossa equipe, META, investiga.
Eu sou o Marcelo Saravá, quadrinista, roteirista, publicitário.

Vinheta: Livro Aberto – obras e autores que fazem história

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
“META: Departamento de Crimes Metalinguísticos” conquistou o primeiro lugar na categoria HQ do Prêmio Jabuti 2021. Nos capítulos deste Livro Aberto, o autor traz dicas de como os quadrinhos e a metalinguagem podem gerar dinâmicas interessantes na escola. Marcelo Saravá também conta, a partir da própria experiência, que não é preciso saber desenhar para trabalhar com quadrinhos.

Marcelo Saravá:
Publiquei pela internet pela primeira vez, em 2008 e, na época, eu não conhecia nenhum desenhista pra fazer projetos comigo. Então eu entrei no mundo dos quadrinhos pela porta dos fundos, fazendo tirinhas, sem desenho, que eu postava num fotolog (a época ainda era dos fotologs). Essas tiras, sem desenho, depois viraram uma revista, uma coletânea chamada Mil Palavras (porque já que eu não conseguia trabalhar com uma imagem, eu tinha que trabalhar com mil palavras). Devo ter umas mil e oitocentas tiras ainda no ar.
A partir daí, eu comecei a fazer parcerias com vários desenhistas e aí projetos diferentes começaram a acontecer.

Música: “Ela sabe demais” (Luiz Guedes e Thomas Roth)
Ela lê um gibi
Ri sozinha
Acontece a mágica
E a aventura não termina

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
No livro, uma equipe se une à Saravá para dar vida ao texto. Nela estão o desenhista André Freitas, o colorista Omar Viñole e o letrista e responsável pelo projeto gráfico Deyvison Manes.

Marcelo Saravá:
O “META: Departamento de Crimes Metalinguísticos” é o primeiro volume de uma história que a gente pretende publicar até 2030, se possível. E são as crônicas de uma equipe secreta de polícia que investiga crimes da quebra da quarta parede, ou seja, sempre que tem um personagem de uma história – pode ser no cinema, nos quadrinhos, pode ser uma história infantil (“Era uma vez uma princesa…”) – e, de repente, a princesa fala com o leitor, com o espectador – isso é quebrar a quarta parede. E aí isso pode causar um grande problema, que junta o mundo da história com o nosso mundo. O META é a polícia que investiga esses crimes.
No livro, um desenhista de quadrinhos é assassinado e os principais suspeitos do crime são os personagens da história em quadrinhos que ele desenha. Por isso, surge o META pra investigar o caso.

Marcelo Abud:
O quadrinista lê e faz a audiodescrição de um trecho da HQ. A fala do personagem Alan Mancuso, que é apresentado como escritor e coach narrativo, parte da premissa de que a ficção é tão real quanto aquilo que costumamos chamar de realidade.

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Saravá:
A cena é um TED, então é um auditório, né? O protagonista Alan faz um tipo de TED para uma plateia. Ele fala:
“Tenho sobrinhos pequenos, trigêmeos. Quando a gente tá junto eles vêm: tio, conta história, conta história. E a preferida é, adivinhem, os Três Porquinhos.
Dia desses, tinha dois brincando com uma caixa de papelão enorme, que virou um laboratório ultrassecreto. O terceiro chegou, viu, ficou super preocupado. Correu pra mãe, pediu a carteira dela. A mãe: ‘Pra que cê quer isso?’ ‘Vou comprar tijolo, papel o Lobo sopra’.
Notem que, assim que eu comecei uma narrativa, imediatamente vocês prestaram mais atenção.
Gente, meus sobrinhos não são trigêmeos. Na real eu nem tenho sobrinhos. Mas esse causo que eu criei carrega, como toda boa ficção, uma verdade. Nunca subestimem a ficção. Histórias criam civilizações. Histórias derrubam impérios. Não há arma mais poderosa que uma história bem contada. E, nos próximos dias, vocês vão aprender como usar esse poder para aumentar como nunca as vendas dos seus produtos!”.

Som de aplausos

Marcelo Saravá:
E aí a gente mostra que, no telão, tá: “Storytelling para vendas. Sucesso garantido em sete anos”.

Aplausos se misturam ao som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
Marcelo Saravá traz dicas para quem quer se tornar quadrinista.

Marcelo Saravá:
Se um aluno diz que ele queria fazer quadrinhos, mas não sabe desenhar, diga pra ele que não é necessário saber desenhar. Isso é muito importante. Diga pra ele: eu ouvi num podcast que tinha um cara que começou fazendo tiras, sem desenho. Então, essa é a primeira coisa. Agora, ‘o que estudar’, depende. Tem outras coisas que você pode fazer nos quadrinhos: você pode fazer a arte final; você pode fazer a cor; você pode fazer as letras.
O Deyvison Manes, letrista do “META: Departamento de Crimes Metalinguísticos”, ele, com certeza, elevou a obra, porque, numa obra que fala de metalinguagem, um letrista pode dar ideias maravilhosas. E leia muito quadrinho! E comece a pensar: como esse quadrinista cria as histórias? Como é que ele separa as ações em páginas? A história tem 20 páginas, como é que ele dividiu a história dele?

Música: “Cachorro Louco” (Jorge Mautner)
E depois o Homem Aranha
Na página dois do mesmo gibi
Me agarrou e quis saber por que
A estória dele tão depressa eu li

Marcelo Saravá:
O professor Waldomiro Vergueiro, da USP, que já foi meu professor, ele diz que o contato com quadrinhos em sala de aula é superimportante para desenvolver leitores. Não só leitores de quadrinhos, leitores de qualquer tipo de livro. Então é muito importante democratizar o acesso às HQs em sala de aula e, também, fora de sala de aula.

Marcelo Abud:
O roteirista traz uma última dica para professoras e professores incentivarem crianças e jovens a entrarem no universo dos quadrinhos.

Marcelo Saravá:
Mostre histórias metalinguísticas da Turma da Mônica para crianças; primeiro, elas descobrem que a história é mais do que uma história, mas uma obra de arte; é algo próximo do universo deles, porque é a Turma da Mônica, e vão até ter novos questionamentos.

Música do Bidu (Turma da Mônica):
O Bidu
Deve andar
O dia todinho, a filosofar

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Em uma história sobre o ato de contar histórias, o roteiro de “META: Departamento de Crimes Metalinguísticos” reúne drama, humor, experimentalismo e cultura pop para colocar em discussão a relação das pessoas com as artes.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Livro Aberto, do Instituto Claro.

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