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A varíola dos macacos é uma zoonose. Apesar do nome, não é transmitida por primatas, mas por roedores. A origem está no fato de, em 1958, macacos de um laboratório dinamarquês terem apresentado lesões parecidas com as da varíola humana. O crescente interesse pela doença, após aparecimento de centenas de casos no Brasil e outros milhares pelo mundo, é uma oportunidade para tratar do assunto no ambiente escolar.

Estudar zoonoses

“Mais de 75% das doenças infeciosas emergentes são zoonoses, têm origem zoonótica. Como você vê, se a gente não estudar o que é zoonose, a gente acaba não estudando a origem das doenças infectocontagiosas”, afirma a virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Clarissa Damaso.

A escola pode promover a mudança no comportamento de estudantes, que, por sua vez, tendem a multiplicar esse conhecimento com familiares e pessoas próximas.“Uma forma de a gente ampliar esses conhecimentos, essas ações, é incentivar muitas vezes que os alunos passem essas informações e até essas ideias que eles vão tendo ao longo da pesquisa nas redes sociais deles. Claro que sempre com a correção, o aval do professor”, defende a médica veterinária, bióloga e professora da Faculdade Método de São Paulo (Famesp) Soraya Chucair.

No áudio, Damaso e Chucair trazem sugestões de como a varíola dos macacos e outras zoonoses podem ser abordadas na escola de forma multidisciplinar.

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Transcrição do Áudio

Música “O Futuro que me Alcance” (introdução instrumental), de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Clarissa Damaso:
Monkeypox, a varíola dos macacos, é uma novidade pra quem nunca ouviu falar da doença, para quem pesquisa vírus (os virologistas) já se conhece ou fala há muito tempo. Da mesma forma que Ebola vem causando surto desde 1976, mas só espantou o mundo em 2014 porque explodiu em número de casos no oeste da África. Os avisos do meio ambiente já estão aí há muito tempo. A gente tem que querer ouvir e querer tomar atitudes com os avisos que estão sendo dados.
Clarissa Damaso, virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Soraya Chucair:
Então essa história do desmatamento, de a gente invadir locais onde a gente não deveria estar; de a gente fazer essa troca de espécies de locais, ou mesmo comer alimentos de origem animal exóticos, faz com que a gente tenha aí esse contato entre espécies bastante problemático.
Meu nome é Soraya Chucair, eu sou médica veterinária e bióloga, e atualmente eu estou dando aulas para o curso de veterinária, para o curso da biomedicina, na instituição Famesp.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
A varíola dos macacos tem esse nome porque, em 1958, macacos de um laboratório dinamarquês apresentaram lesões parecidas às da varíola humana. O crescente número de casos pelo mundo desperta o interesse pelo assunto, também, em crianças e jovens. Neste podcast, você vai entender melhor o que gera uma zoonose e acompanhar conteúdos que podem ser tratados em sala de aula.

Clarissa Damaso:
A varíola dos macacos é uma doença infectocontagiosa, causada pelo vírus monkeypox, que é um vírus que infecta roedores. Então vários tipos de roedores, na África… Esquilos selvagens, ratos selvagens, que são infectados, naturalmente, e esse vírus passa dos roedores para o homem, assim como para outros mamíferos. E, então, a gente chama isso de zoonoses por esse motivo, né, um vírus que é de um animal e passa para o homem.

Soraya Chucair:
Quando a gente fala de zoonoses, a gente está falando de antropozoonoses, que são as doenças que os animais podem transmitir pra gente, mas a gente também está falando de zooantroponoses, que são doenças que nós, seres humanos, podemos transmitir para esses animais… Um exemplo: o Herpesvírus, (não são todas as pessoas que têm), mas aquela feridinha labial quando a pessoa fica mais estressadinha e imunocomprometida. Esse herpesvírus humano, se passar para um primata, para o primata é fatal. Então pra eles é aí uma zoonose de grande impacto, diferente da gente.

Clarissa Damaso:
Então a gente normalmente poderia pegar dos animais peridomésticos uma infecção e tudo o mais, que é possível, mas na grande maioria dos casos, as mais graves, são daqueles animais que a gente quase não tem contato. Então é quando você entra na floresta e tem contato com outros animais, ou com roedores que você não tem muito contato.

Soraya Chucair:
Então quando a gente fala assim de zoonoses, a gente tem um grande risco que está relacionado, sim, ao desmatamento. Porque quando a gente destrói o local onde os animais silvestres moram para nós morarmos, a gente meio que faz, obriga esses animais, invadirem o espaço que a gente está ocupando agora. Afinal era o espaço deles. E mais ainda: nós, seres humanos, a gente traz junto com a gente, nesse local, um abrigo e comida, que é tudo o que eles querem. Então, na falta da “casa deles”, onde era floresta, eles vêm conviver com a gente, então eles ficam mais próximos da gente e aí esse risco de espécies que teoricamente não entrariam em contato, estar em contato.

Música: “Saga Amazônica” (Vital Farias)
Mas o dragão continua a floresta devorar
E quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???

Soraya Chucair:
Isso acontece de diversas formas, então não só pelo desmatamento, mas também pela caça… Por exemplo, no mercado que a gente tem lá na China de carnes exóticas. O maior risco, né, então, qual é? Não só trazer uma espécie de animal que nós não teríamos contato natural perto da gente, mas colocar diversas espécies animais que nunca teriam contato entre si juntas.
Inclusive, assim, dos próprios animais que a gente tem, que cria como pets, de estarem em contato com animais selvagens, animais silvestres, exóticos, animais que eles não teriam contato naturalmente. desmatamento, tráfico de animais, está relacionado a isso.

Clarissa Damaso:
Mais de 75% das doenças infeciosas emergentes são zoonoses, têm origem zoonótica. Como você vê, se a gente não estudar o que é zoonose, a gente acaba não estudando a origem das doenças infectocontagiosas, né, ou pelos menos das doenças infecciosas, em geral (mesmo que não sejam contagiosas). Então isso é importante, pra gente ter o conhecimento de onde vem e saber que, enquanto a gente continuar desmatando e entrando em ambientes, a gente vai ter contato com patógeno de outros animais. Dessa forma, é importante, pra gente até aprender como conviver com o ambiente e com outros animais sem a gente ter que fazer esse desequilíbrio.

Marcelo Abud:
A professora Soraya e a virologista Clarissa Damaso apresentam formas como o tema pode ser tratado na escola.

Soraya Chucair:
Quando a gente fala em zoonoses a gente está falando, com certeza, de um tópico interdisciplinar, já que o tema envolve não só a parte biológica, mas também toda a parte de geografia; então regiões endêmicas de alguma doença (quando a gente fala sobre isso, nós estamos falando de geografia); histórias de epidemias… Não só isso, mas a história da própria vacina; abordamos também temas sociais, como o próprio aquecimento global, que é um tema que está muito em alta, já que essas mudanças no planeta podem fazer aí surgir doenças antigas ou até mesmo novas doenças; a gente está falando em saneamento básico, coleta de lixo, tratamento de esgoto…
Então é um tema muito abrangente, onde a gente pode trabalhar dados estatísticos, diversas disciplinas mesmo. E, além disso, a gente está falando de saúde!

Clarissa Damaso:
Eu acho que é importante os professores terem a consciência de passar para os alunos o conceito que a gente chama de saúde única, onde a saúde do homem ela não existe de forma independente da saúde animal e da saúde do meio ambiente. Porque tem que estar num equilíbrio; quando o homem desmata a floresta, ele mata os animais, entra em contato com carcaças de animais, faz uma invasão predatória de florestas para botar pastos, etc. Se isso começar a tirar o equilíbrio que existe, patógenos vão sair da floresta através dos animais e a gente vai introduzir novos patógenos na floresta. Eu estou dando um exemplo de um habitat só que é a floresta. Então isso vale para qualquer habitat.

Música: “Água” (André Abujamra), com Banda da Portaria
Deixa o mato crescer em paz
Deixa a onça viva na floresta
Deixa a arara e o curumim
Deixa o peixe na água
Que é uma festa

Soraya Chucair:
E com isso também já desenvolvendo ações pra gente poder prevenir essas zoonoses. Então, mostrar pra eles coisas que a gente pode fazer; como que eles podem levar isso para as famílias, para as comunidades. Hoje também a gente tem uma coisa que funciona muito bem que é trazer as redes sociais a nosso favor. Uma forma de a gente ampliar esses conhecimentos, essas ações, é incentivar muitas vezes que esses alunos passem essas informações e até essas ideias que eles vão tendo aí ao longo da pesquisa nas redes sociais deles. Claro que sempre com a correção, o aval aí do professor, para não serem propagadas informações incorretas, mas a gente consegue fazer e eles adoram e eles se envolvem demais.

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
O interesse pela varíola dos macacos abre espaço para que se trate de zoonose na sala de aula. Isso pode transformar estudantes em multiplicadores de conhecimento sobre o tema e promover a mudança de comportamento entre familiares e pessoas próximas.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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