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Com as incertezas sobre a volta às aulas diante da pandemia de covid-19, uma boa alternativa pode ser a busca por plataformas digitais que estimulem a colaboração e a sociabilidade, mesmo em aulas remotas. A Discord, conhecida no universo gamer, pode ser uma dessas ferramentas para o ensino hídrido.

Neste podcast, o Instituto Claro ouve o doutorando em Educação Tecnológica pela Universidade Federal de Pernambuco e membro do Grupo de Pesquisa Mídias Digitais e Mediações Interculturais (CNPq –PPGEdumatec/UFPE) Caio Túlio da Costa. Em artigo científico, ele defendeu o uso da Discord no processo de ensino-aprendizagem presencial ou à distância.

“Citando Huizinga, filósofo holandês, antes de ser Homo sapiens, nós somos Homo Ludens, porque o lúdico acompanha a nossa cultura. Então é comum que o contexto de jogo esteja ligado ao compartilhamento, à construção colaborativa”, observa.

Projetada originalmente para jogadores, a plataforma de comunicação online tem ganhado espaço no ambiente escolar. A Discord foi criada em 2015 e otimiza a comunicação por meio de bate-papos, gravação de podcasts, compartilhamento de gifs, fotos, vídeos, hiperlinks e diversos elementos do ciberespaço.
“E ao mesmo tempo a educação encontrou no Discord um meio de propagação e que tem uma acessibilidade mais expressiva em relação aos jogadores, que também são educandos”, defende Costa.

Ambiente colaborativo

No áudio, o especialista cita como um dos usos frequentes da ferramenta grupos criados para o estudo de línguas. “Quando a gente vai em alguns fóruns online de aprendizado de idiomas, você tem ali diversas pessoas que estão trocando informações sobre o aprendizado da língua inglesa. E muitas delas vão para o Discord pra treinar”, conta.

Para Costa, a plataforma tem um viés colaborativo, em que se forma uma comunidade e é gerada uma espécie de inteligência coletiva. “Vários laços de sociabilidade são intensificados por um sistema mais convidativo e de fácil acesso. No contexto de ensino-aprendizagem, emerge aí uma zona de desenvolvimento proximal, citando o teórico Vygotsky, onde o ambiente de aprendizado é fomentado por várias pessoas de forma simultânea”, conclui.

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Transcrição do Áudio

Música “Summer in the Neighborhood”, de Bad Snacks, fica de fundo

Caio Túlio da costa
Antes de ser Homo sapiens nós somos Homo Ludens, porque o lúdico acompanha a nossa cultura. Então é comum que o contexto de jogo esteja ligado ao compartilhamento, com a construção colaborativa. É a possibilidade de ao mesmo tempo sermos internautas, leitores, expectadores, ouvintes… Isso faz com que o nosso repertório vivencial se multiplique e seja capaz de assimilar tantos dinamismos, né, que a gente tem na pós-modernidade.
Caio Túlio Costa, sou doutorando em educação tecnológica e pesquisador de jogos.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
Você já ouviu falar na plataforma Discord?
Nesta edição, o Instituto Claro conversa com membro do Grupo de Pesquisa Mídias Digitais e Mediações Interculturais, Caio Túlio da Costa.
Ele analisa como a plataforma de comunicação online Discord, projetada para jogadores, pode ser uma alternativa como ferramenta de ensino.
O especialista denomina o momento em que vivemos como o da “plataformização da vida”, um fenômeno social que transporta reuniões, festas, cerimônias e outras atividades para o mundo cibernético.

Caio Túlio da Costa:
Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, a grande maioria das pessoas se vê obrigada a ‘plataformizar a vida’, né? Então é justamente essa convergência entre online e offline. A gente, às vezes, se vê obrigado a interagir; a gente nem percebe, mas está inserido completamente na nossa rotina. A educação nesse sentido foi uma das áreas que também teve que se ressignificar bastante pelo uso das plataformas.

Marcelo Abud:
Entre os programas que apresentam bons recursos para o processo de ensino-aprendizagem, Caio Túlio da Costa cita o Discord.

Caio Túlio da Costa;
Ele foi um programa criado em 2015 que funciona como um canal de voz e vídeo, que otimiza a comunicação entre os jogadores e os jogos digitais, através de servidores, compartilhamentos de vídeos, chats… E ao mesmo tempo a educação encontrou no Discord um meio de propagação e que tem uma acessibilidade mais expressiva em relação aos jogadores, que também são educandos, né?

Música: “Pela Internet 2” (Gilberto Gil)
É tanto aplicativo que eu não sei mais não
What’s App, what’s down, what’s new
Mil pratos sugestivos num novo menu

Caio Túlio da Costa:
Existe uma espécie de autonomia que é garantida pelos usuários do Discord. Os alunos, jogadores, os usuários do Discord conseguem criar seus próprios servidores de intercomunicação. Dentro desses servidores é possível fazer lives, eles conseguem gravar áudios, vídeos, escrever no chat… E diante de tudo isso ainda conseguem modelar o seu perfil de acordo com as preferências de usuário. Através de organizadores, plugins e uma série de ferramentas que estão ali para auxiliar esse ensino. É uma forma lúdica, a partir da comunicação bem horizontal e ‘desierarquizada’ que tem desse processo; trazer essa mediação é muito importante como uma possibilidade oferecida pela plataforma.

Marcelo Abud:
Mesmo no caso do ensino remoto, a plataforma Discord intensifica a colaboração e os laços de sociabilidade.

Caio Túlio da Costa:
Por conta dessa flexibilização e ambiente descontraído que a Discord proporciona, naturalmente a plataforma tem um viés colaborativo. É um sentido de comunidade, né, isso fomenta uma cultura da convergência, uma espécie de inteligência coletiva. Então vários laços de sociabilidade são intensificados por um sistema mais convidativo de fácil acesso. No contexto de ensino-aprendizagem, emerge aí uma zona de desenvolvimento proximal, onde dizia o teórico Vygotsky, onde o ambiente de aprendizado é fomentado por várias pessoas de forma simultânea. Ter essa rede de colaboração que intensifica os laços, a questão do aprendizado em conjunto, o ensino colaborativo.
Na verdade o Discord ele tem um diferencial expressivo quando a gente compara com essas outras plataformas comunicacionais, justamente porque ele otimiza os recursos computacionais do aparato que está sendo usado pra poder acessar os servidores pra ser bem executado. Inclusive em algumas circunstâncias ele comporta muitos canais de voz ativo simultaneamente, ou seja, diversos usuários que estão ali em conjunto. Então, diferentemente de outras plataformas, ele é utilizado pra isso. O Discord ele roda tranquilamente associando e assimilando todos esses dados ao mesmo tempo.
Marcelo Abud:
Caio Túlio da Costa dá um exemplo em que a plataforma Discord costuma ser utilizada no contexto da educação.

Caio Túlio da Costa:
Quando a gente vai em alguns fóruns online de aprendizado de idiomas, você tem ali diversas pessoas que estão trocando informações sobre o aprendizado da língua inglesa. E muitas delas vão para o Discord pra treinar. Além de ser um ambiente de aula, formal inclusive, também pode ser um ambiente de aula, um ambiente de aprendizado não formal em que o aprendizado acontece, em que o ensino-aprendizagem se constituí, mas, ao mesmo tempo, ele não tem um espaço físico de uma escola; não tem essa hierarquia de uma escola, embora o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades e competências esteja acontecendo.

Marcelo Abud:
A jovem youtuber Julia Jolie foi uma das pessoas que percebeu esse potencial e, ainda em 2017, criou um grupo para promover a prática e a conversação da língua inglesa pelo Discord.

Julia Jolie
(áudio de vídeo do canal Julia Jolie TV, no Youtube) Cansado de não ter ninguém pra praticar o inglês com você? Não tem dinheiro para pagar cursinho ou professor particular? Seus problemas acabaram!
Eu criei um grupo para quem quiser conversar em inglês com quem mais quiser. O programa onde eu criei esse bate papo se chama Discord [sotaque inglês] ou Discord [aportuguesado] (risos), e ele é de graça, tá? Você pode usar ele no seu navegador ou você pode baixar o programa, ou você pode usar, sim, também no celular.

Caio Túlio Costa:
De forma independente, o aluno como protagonista pode utilizar essa ferramenta pra fazer o aprendizado crescer. Isso eu acho a parte mais rica do Discord; ele é uma plataforma, ele faz a mediação, mas ao mesmo tempo ele deixa o aluno como protagonista, ele deixa o usuário como protagonista. Está aberta para qualquer interação e qualquer tipo de laço social que queira se estabelecer dentro da rede.

Música: “Por você (paródia)”, com Um Joystick, Um Violão
Por você
Traduziria GTA 3
E a coletânea de Zelda
Toda em japonês

Caio Túlio da Costa:
O uso de games ele tem sido cada vez mais comum nesse contexto educacional que a gente está vivenciando. Alguns professores, alguns grupos educacionais têm se utilizado e se apropriado dessa linguagem, dessa forma de expressão como uma forma de se comunicar melhor, de estabelecer melhores laços com os estudantes para evitar conflitos geracionais… Então a gente pensa o Discord, nesse contexto, enquanto metodologia ativa, espaço educacional, e agregador transmidiático, vamos dizer assim, ele exerce uma capa de possibilidades que vai permitir um voo de desdobramento da educação, que é responsável por diminuir a distância entre consumo e produção de jogos, por exemplo. Jogo de videogame não é a última fronteira educacional, claro que não, mas, na verdade, é um grande método a ser usado.
Então essa responsabilidade de tratar o videogame como um objeto de estudo e de possível aprendizado, pelo potencial educacional que uma plataforma pode ter – assim como um filme, assim como um livro, – isso é muito importante pra gente perceber e dialogar com os nossos alunos, com os nossos educandos. A gente precisa se atualizar, ao mesmo tempo em que eles já se atualizaram. Então o papel do professor – e uma responsabilidade da educação enquanto ciência – é justamente abraçar essas novas tecnologias pra que a educação possa florescer de uma melhor forma.

Marcelo Abud:
Enquanto ambiente de estudos, a plataforma Discord permite a convergência entre dispositivos móveis e computadores pessoais. A partir dela, é possível estabelecer chats, videoconferências, criação de podcasts, compartilhamento de gifs, fotos, vídeos, hiperlinks e diversos elementos que compõem o espaço cibernético.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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