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Recursos de inteligência artificial cada vez mais avançados e acessíveis têm permitido a criação de vídeos com imagens de personalidades dizendo o que nunca falaram ou fizeram. “A gente conseguiu muito mais acesso, rapidez, velocidade na transmissão das informações e a gente avançou muito pouco na maneira de compreender essas informações e distinguir aquilo que é um fato lógico de uma fabricação total da realidade baseado naquilo que eu quero acreditar que ela seja”, resume o professor em educomunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) Marciel Consani.

As deep fakes (falsificações profundas, em tradução livre) normalmente são feitas a partir da alteração do movimento dos lábios da pessoa e de programas que transformam texto em áudio, criando um conteúdo que, muitas vezes, é oposto ao pensamento daquela pessoa. Diante dos riscos do crescimento da desinformação na web, o letramento digital na escola é tido como um importante recurso para que crianças e jovens aprendam a distinguir o que é verdadeiro do que é falso.

Desconstruir falsidades

“Essas fake news, desinformação, deep fakes – embora seja material que atrapalha a vida das pessoas, porque pode gerar uma série de problemas – podem ser trabalhados na sala de aula para poder apresentar aos estudantes como é que foi construído esse material, essa produção. E aí o professor precisa obviamente se aperfeiçoar, para que possa fazer uma mediação na hora em que as pessoas se impactarem com aquela informação, ele poder desconstruir essa informação”, aponta o coordenador do núcleo de educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e criador do programa Imprensa Jovem Carlos Lima.

No áudio, Consani e Lima dão dicas para os professores que pretendem trabalhar esses conteúdos com alunos e levar o letramento digital para a escola.

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Transcrição do Áudio

Música: “Generate Track” criada no Mubert AI fica de fundo

Marciel Consani:
A gente conseguiu muito mais acesso, rapidez, velocidade na transmissão das informações e a gente avançou muito pouco na maneira de compreender essas informações e distinguir aquilo que é um fato lógico de uma fabricação total da realidade baseado naquilo que eu quero acreditar que ela seja.
Eu sou Marciel Consani, professor da Escola de Comunicações e Artes da ECA-USP e eu leciono na licenciatura em educomunicação e eu oriento e leciono no programa de integração latino-americano para mestrado e pós-graduação stricto sensu.

Carlos Lima:
10 anos atrás, o formador de cinema disse assim ‘o que é, para você, edição?’. Aí eu falei ‘edição é a gente pegar um programa de computador, fazer os cortes para fazer o vídeo’. Ele falou ‘edição tem muito mais; edição é escolha’. E aí eu vejo, por exemplo, numa deep fake, a qualidade dessa traquinagem. É o que eu chamo de uma edição sofisticada. Essa mentira profunda… ninguém percebe, as pessoas já compram a ideia.
Eu sou Carlos Lima, coordenador do núcleo de educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, criador do programa Imprensa Jovem e especialista em educomunicação.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Voz de Barack Obama criada pelo cineasta Jordan Peele, com tradução simultânea para o português feita com a voz de Donato no “voiser.net”:
“Esse é um momento perigoso. Ao avançar precisamos ficar mais atentos com aquilo que acreditamos na internet. É uma época em que precisamos contar com fontes confiáveis de notícias. Pode soar básico, mas a forma como a qual avançamos na Era da Informação, fará a diferença entre nós sobrevivermos ou nos tornarmos um tipo de distopia”

Música “Generate Track” criada no Mubert AI fica de fundo

Marcelo Abud:
Você acabou de ouvir um discurso de Barack Obama que nunca foi dito pelo ex-presidente dos Estados Unidos. A mensagem foi criada como forma de alerta pelo cineasta Jordan Peele. A tradução simultânea em português foi gerada em um programa que traz vozes naturais em diferentes línguas. A trilha que você está ouvindo também foi desenvolvida com recursos de inteligência artificial. Tudo isso para você sentir os riscos que uma deep fake pode gerar. Nesta edição, vamos entender como o letramento digital na escola pode evitar que estudantes fiquem cada vez mais desinformados em plena era da informação.

Marciel Consani:
As fake news elas não são nenhuma novidade. Elas eram chamadas de notícias falsas. É a guerra de narrativas, como se diz hoje em dia, é a contrainformação e isso já estava amplamente disseminado enquanto estratégia comunicacional no século 20. Na virada para o século 21, aí nós tivemos um fenômeno de tecnologia das deep fakes, que ele veio assim a borrar as fronteiras entre aquilo que a percepção entende como crível – aquilo que você consegue acreditar – e aquilo que você quer acreditar. Esse é o famoso fenômeno ‘dunning- kruger’, que é o viés de confirmação.
No fim das contas, em relação aos períodos históricos anteriores, não interessa muito o que é ou deixa de ser verdade, interessa o quanto eu consigo me convencer das coisas que eu já acredito. E as deep fakes são o substrato tecnológico para tornar convincentes essas versões da realidade nas quais os grupos – isolados por bolhas – querem acreditar.

Voz de William Bonner feita com “Fake You”
“Nas últimas semanas, conteúdo do Jornal Nacional foi alterado para desinformar. Os mais compartilhados mudam minha fala e movimento da minha boca. Notícias do Jornal Nacional em que eu falo o que eu não disse são muito comuns.”

Marcelo Abud:
Esta voz de William Bonner foi feita com um programa de inteligência artificial.

Marciel Consani:
E é muito mais fácil eu lançar uma suspeita do que eu depois estabelecer a verdade a respeito de uma suspeita pré-concebida, porque na inteligência média da população tem a ideia de que ‘onde há fumaça, há fogo’; ‘dizem que aconteceu isso, pode ser ou não verdade’. Você cria com recursos tecnológicos que não são complicados e estão acessíveis para pessoas com conhecimento básico de ferramentas digitais, você consegue produzir e espalhar versões da realidade que simplesmente não precisam ter lastro no que é verdadeiro, porque as pessoas que espalham essas fake news / deep fakes elas não estão preocupadas, primeiro, com o grau de realidade e elas acham que estão imbuídas de uma missão que elas têm realmente que espalhar isso, porque, no fundo, ‘o fim justificariam os meios’.

Marcelo Abud:
O letramento digital e outros conceitos que têm a mesma finalidade são formas de combater estas mentiras profundas.

Carlos Lima:
Tem aí muitos nomes para poder dizer que nós estamos trazendo o que – na inspiração de Paulo Freire – que comunicação é educação. Eu acredito que todos nós, professores, somos educomunicadores e, independente, se alguns usam, por exemplo, letramento digital, educação midiática, educação midiática informacional – que é o termo da Unesco, a gente na verdade promove, com a educomunicação a possibilidade desse estudante poder trabalhar as áreas de conhecimento, que são muitas vezes caixinhas dentro da escola – português, matemática, ciência – em uma coisa muito mais unida. Então, a interdisciplinaridade acaba sendo favorecida quando a gente trabalha com estratégias e metodologias educomunicativas, que prima pela integração dos conhecimentos, porque isso é da comunicação também. E isso ajuda o estudante que é um só, que tem que aprender cinco, seis matérias diferentes, a ter uma possibilidade de construir junto um conteúdo único com todas essas matrizes de conhecimento.

Marcelo Abud:
O letramento digital deve levar em conta as referências que estudantes levam para a escola.

Carlos Lima:
O letramento digital funciona quando a gente tem uma escuta participativa – falando, trocando ideia. O professor tem que aprender a escutar, porque esses meninos trazem mais inovação para a escola do que a escola oferece inovação para eles. Mas eu tenho uma formação para que eu possa fazer uma leitura melhor, uma visão crítica para poder usar a tecnologia ou as linguagens de forma propositiva para a própria formação.

Voz do dublador brasileiro do personagem Professor Girafales, Osmiro Campos, gerada pelo Falatron, inteligência artificial que converte texto em voz:
– As falsificações profundas espalhadas pelas redes sociais são muito perigosas, Chaves!

Carlos Lima:
Eu acho que o professor precisa estar atento aos movimentos do mundo. Existe muita coisa pronta que já mexeu com milhões de pessoas e que essas fake news, desinformação, deep fakes – embora seja material que atrapalha a vida das pessoas, porque pode gerar uma série de problemas – esse material pode ser trabalhado na sala de aula para poder apresentar aos estudantes como é que foi construído esse material, essa produção.
E aí o professor precisa obviamente se aperfeiçoar, para que ele possa fazer uma mediação na hora em que as pessoas se impactarem com aquela informação, ele poder desconstruir essa informação. E ensinar o estudante que quando chegar e ver determinado conteúdo dessa forma, ele possa ter uma inteligência capaz de identificar se aquilo é verdade ou mentira.

Música “Generate Track” criada no Mubert AI fica de fundo

Marcelo Abud:
O letramento digital é um recurso para que crianças e jovens aprendam a distinguir o que é verdadeiro do que é falso.
Marcelo Abud para o podcast de Educação do Instituto Claro.

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