Ouça também em: Ouvir no Claro Música Ouvir no Spotify Ouvir no Google Podcasts Assina RSS de Podcasts

A quarta edição da série de livros “Diálogos Críticos” reúne dezenas de pesquisadores de universidades públicas para debater a perda de diversidade e autonomia nas escolas.“Se eu defendo a diversidade, a autonomia é fundamental! É preciso que se respeite os diferentes modos de existir das pessoas”, afirma a professora da Universidade Federal do Paraná/Setor Litoral Ângela Massumi Katuta, autora de um dos capítulos do livro.

Leia também: Financiamento da educação básica: quais os principais entraves?

“[Trata-se da] autonomia de pensar dos professores e professoras de cada um dos vilarejos, de cada um dos munícipios, da liberdade de pensar os processos educativos, porque os sujeitos não são iguais. (…) Então é nesse sentido que diversidade/ autonomia não dialoga com padronização/controle. E é o que a Base Nacional Comum Curricular, os currículos, têm feito”, explica Katuta.

Projetos em disputa

A obra enumera as ameaças que a educação pública tem enfrentado. Ela apresenta projetos em disputa: de um lado, uma educação mais diversa e que leva em conta as diferentes realidades da comunidade escolar, de outro, uma educação mais padronizada e com maior controle de alguns grupos. Alguns capítulos destacam, ainda, a dificuldade de manter uma educação que respeite os diferentes modos de vida de um país de dimensões continentais como o Brasil.

“Há uma luta pelos povos do campo, quilombolas, indígenas, de buscar uma educação que tenha essa especificidade do seu território, que garanta a sua autonomia, sua diversidade”, afirma a professora da Universidade Federal da Bahia e também autora de um dos capítulos do livro Marize Souza Carvalho.

Veja mais:

Livro digital gratuito discute perdas diante de ensino remoto

O que é e para que serve o Ideb?

Transcrição do Áudio

Música: “O Futuro que me alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Marize Souza Carvalho:
Nenhuma educação é neutra. A escola está permeada por essas contradições da sociedade, principalmente, com essa complexidade, com todas as suas inovações tecnológicas… Sempre a educação ela tem na história uma função social que vai exigir da escola que ela venha trabalhar nesse metabolismo de fomentar o capital ou de mudanças para essa sociedade.
Marize Souza Carvalho, eu sou professora da Universidade Federal da Bahia; eu atuo dentro da universidade, no curso de Pedagogia, na educação do campo e na educação profissional.

Ângela Massumi Katuta:
E essas pessoas do campo, os indígenas das várias etnias, os quilombolas, os povos e comunidades tradicionais eles têm um modo de vida e aí quando eu produzo um livro didático para o país inteiro igual… E esse é o problema! Por que impor um único modo de vida planetário? Se eu defendo a diversidade, a autonomia é fundamental! É preciso que se respeite os diferentes modos de existir das pessoas.
O meu nome é Ângela Massumi Katuta, eu trabalho com formação de professores, principalmente, em temáticas que dizem respeito a currículo, a questão da formação para a cidadania, numa perspectiva da pedagogia histórico-crítica – defendendo a educação popular.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música: música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Diversidade e autonomia versus padronização e controle na educação pública. É essa a discussão que o volume 4 do livro Diálogos Críticos propõe, ao reunir pesquisadoras e pesquisadores de universidades públicas de todas as regiões do Brasil. Para a professora Ângela, diante da diversidade, a autonomia é fundamental.

Ângela Massumi Katuta:
Na autonomia de pensar dos professores e professoras de cada um dos vilarejos, de cada um dos munícipios (ou das unidades de federação) – de pensar os processos educativos; da liberdade de pensar os processos educativos, porque os sujeitos não são iguais, né? Nem os indígenas são iguais, né? Um Huni Kuin, lá do norte do país é muito diferente do Mbyá Guarani, aqui do sul. Então é nesse sentido que diversidade/ autonomia não dialoga com padronização/controle. E é o que a Base Nacional Comum Curricular, os currículos, têm feito.

Marize Souza Carvalho:
O modelo empresarial de pensar a educação como um serviço e mercado aprofunda-se cada vez mais na política educacional. Isso tem influenciado resoluções, diretrizes; isso realmente vem desde os anos 90, não sem contradição, há uma luta pelos povos do campo, quilombolas, indígenas – de buscar uma educação que tenha essa especificidade do seu território, que garanta a sua autonomia, sua diversidade.
Mas o projeto hegemônico tem adentrado nas escolas porque o mercado também tomou a educação com essa perspectiva: o livro didático, a política de transporte escolar, de merenda – tudo isso tem a mão do mercado.

Ângela Massumi Katuta:
Uma outra coisa é que esses produtos eles não dão conta da sociabilidade. Eu vou dar um exemplo: quando o indígena observa uma floresta, ele vê o que? A sua morada, a sua casa, ele vê vidas; quando um empresário vê uma floresta, ele vê o que? A matéria-prima!; quando eu transformo a educação em mercadoria eu homogeneízo esse processo e considero apenas a visão de um dos sujeitos e não da totalidade do sujeito. Tem uma música da educação do campo que eu gosto muito, que ela diz assim: eu quero uma educação do campo que me ensine a ver o todo e não apenas as partes.

Música: “Construtores do Futuro” (Gilvan Santos)
Onde iremos aprender
A sermos construtores do futuro

Eu quero uma escola do campo
Onde o saber não seja limitado
Que a gente possa ver o todo
E possa compreender os lados

Ângela Massumi Katuta:
Pra mim não é um problema, é um desafio, né? Um desafio de formar para a diversidade em processos de formação continuada. E é por isso que não dá pra ser um currículo único. Nós precisamos pensar na diversidade. Veja, o Brasil com as suas dimensões continentais e as características ecossistêmicas – nós temos uma biodiversidade, que é a matriz, o fundamento; a materialidade surge ou emerge, toda essa plurietnicidade existente no nosso país. E aí em cada lugar tem uma demanda de formação continuada. E é por isso que ela precisa ser direito dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, com fundamento à diversidade e a diversidade das demandas.

Marcelo Abud:
A professora Marize aponta qual o objetivo da coleção Diálogos Críticos e destaca o enfoque do volume atual.

Marize Souza Carvalho:
A reflexão que nós estamos trazendo no conjunto destes textos, dos diálogos críticos 1, 2, 3 e agora o 4, é fazer com que o professor ele tenha essa autonomia de pensar a escola, a educação, a teoria pedagógica, dentro de sua prática escolar. Porque há uma tendência de culpabilizar a escola e o professor pelo fracasso escolar. E nós sabemos o quanto o professor da escola pública, principalmente – todos, pública e privada – mas da escola pública, como ele se dedica, como ele faz. Nas condições que ele tem, ele faz muito dentro da escola.

Música: “Semear” (Paulo Roberto Padilha)
Vamos conhecer cantar com imaginação
Cada canto da nossa comunidade
Da nossa nação
somos as sementes, o plantio, a plantação
cuidamos da escola, da cidade
Do campo e do sertão
Tudo vai dar pé, será prá lá de bom
Mas isso depende da nossa participação

Marize Souza Carvalho:
O professor vai buscar por dentro da escola os elementos de uma prática emancipadora, aquilo que ele, como proativo e, dentro da comunidade, vai dar resposta a problemas significativos dessa realidade. Então o conteúdo escolar ele não é um conteúdo pragmático, tecnicista, a priori. Ele tem que ser desenvolvido, a priori, com as problemáticas significativas, daí buscar o que a ciência já tem de resposta.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Pessoas do campo, quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais, caiçaras… Para abarcar os distintos modos de vida de um país com as dimensões do Brasil, as professoras defendem que a autonomia é o caminho.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.