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Os alunos do nono ano da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães, localizada em Piacatuba, distrito do município de Leopoldina, em Minas Gerais, realizaram um trabalho interdisciplinar sobre movimentos anti-vacina e a importância da imunização.

O projeto aconteceu em um cenário ainda de aulas presenciais.

A partir da temática, que voltou a ser atual, o Instituto Claro propôs ao gestor da unidade educacional, professor João Paulo Araújo, para adaptar a proposta, a fim de que possa ser feita também no ensino remoto.

“No caso de vacina, vamos pedir aos meninos pra fazerem uma pesquisa com os pais em casa, o que eles acham, uma entrevista?; se os meninos têm acesso à internet, vamos pedir a eles pra criarem uma enquete no Facebook, colher esses dados; vamos ligar para o posto de saúde ver como está a situação de imunização do nosso munícipio pra trazer isso para a realidade. O projeto ele traz isso, né, porque ele trabalha o currículo de uma forma diferente”, afirma o entrevistado.

Neste podcast, ele traz cinco passos para a realização de aprendizagem baseada em projetos, a partir da experiência adquirida como gestor no período de aulas a distância.

Gabi (à esquerda) e Amanda apresentam vídeo no canal “Plantão Nono Ano”, sobre a Revolta da Vacina no início do século XX (Reprodução)

“O primeiro passo é a definição de tema. O tema é importante para todo mundo? Legal! Como que a gente articula esse tema ao currículo? E como a gente faz isso de forma interdisciplinar, com o cuidado de pensar que nós estamos em período remoto, para fazer um trabalho que faça muito mais sentido para todo mundo?”, resume o professor, que traz as respostas nos cinco passos que desenvolve no áudio.

Ele acrescenta que o aluno é o centro da resolução dos problemas na aprendizagem baseada em projetos e cita o exemplo da turma da escola, que decidiu fazer um vídeo em vez de cartazes. A propósito, a aluna Amanda Rodrigues do Carmo também é ouvida no podcast.

“O vídeo iria atingir um número maior de visualização, ou seja, mais pessoas sabendo da importância da vacina. Foi um trabalho divertido e também aprendemos com as pesquisas realizadas e passamos para as pessoas que não tinham esse conhecimento”, aponta Amanda.

Assista, neste link, ao vídeo “Vacinar é preciso!”, criado pela turma do nono ano do ensino fundamental da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães.

Mais sobre o assunto:

Pedagogia de projetos coloca aluno no centro da resolução de problemas;
Escola personaliza ensino ao substituir aulas por projetos como ferramenta de aprendizagem

Transcrição do Áudio

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

João Paulo Araújo

É preciso os meninos entenderem a sua realidade para que eles assim possam ter condições de abrir seus horizontes para entender as complexidades do mundo inteiro. Dessa maneira, você está criando condições para que ele possa intervir na comunidade que ele atua, porque ele vai saber o que está acontecendo ali.

Meu nome é João Paulo Araújo, sou professor e atualmente estou como gestor de uma escola.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:

Como estimular a aprendizagem baseada em projetos, em tempos de aulas remotas? Fizemos esta pergunta ao professor João Paulo Araújo, gestor da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães, de Piacatuba, Minas Gerais. Ele traz 5 passos para adaptar, para o ambiente do ensino a distância, um trabalho interdisciplinar sobre a importância da vacinação.

João Paulo Araújo:

Um dos princípios é levar essa educação para além dos muros da escola. E a pandemia nos obrigou a fazer isso. A gente agora tem que levar a escola até a casa dos meninos e eu acho que é uma grande oportunidade para gente trabalhar o currículo a partir dos saberes, das vivências, das angústias e do momento que a gente está vivendo.

Música: “Somos um só” (Bruna Ene)

E de repente tudo mudou

O mundo inteiro quase parou

Tudo que era de rotina

E eu conhecia no meu dia a dia então se transformou

Marcelo Abud:

O primeiro passo para pensar em uma aprendizagem baseada em projetos é a escolha do tema.

João Paulo Araújo:

Pode partir de um diálogo na sala de aula (o que não está sendo muito possível); do currículo, que hoje ainda é possível; pode partir também do momento que todos nós estamos vivendo.

Então a gente escolhe o tema, né? Vamos pensar: a gente está vivendo uma pandemia. Vamos discutir vacina? Esse é o primeiro passo, a gente pensar num tema.

Marcelo Abud:

O segundo passo é articular o tema com o currículo, em uma proposta interdisciplinar.

João Paulo Araújo:

Você pode envolver história, no sentido de trazer a história da vacina, porque eu acho que se existem esses movimentos anti-vacina é porque o povo está se perdendo um pouquinho na história. Eles não sabem, por exemplo, que a gente tinha casos gigantes de sarampo, de várias doenças que foram erradicadas por conta da vacina. Então você pode fazer um trabalho com a história. Aí você pode trazer um trabalho com a ciência, com a biologia para estudar os vírus, as doenças, produção de vacina; um trabalho de geografia, junto disso, pra analisar a questão global da pandemia; e aí você pode envolver todos os conteúdos, né, matemática pra fazer alguma tabela; português, pra elaborar relatórios. Você consegue fazer isso!

Marcelo Abud:

Terceiro passo: propor ações que possam gerar produção de conhecimento, tendo em conta o material que estudantes têm à disposição.

João Paulo Araújo:

A pedagogia de projeto eu vejo ela muito como uma prática muito inclusiva. E quando você pede alguma coisa para o aluno que ele não consegue ter, você está excluindo. Então eu acho que um terceiro passo seria esboçar essas ações, no período remoto, com um cuidado muito maior para pensar quais as condições que os alunos têm para realizar todas essas ações.

Porque, por exemplo, se fosse na sala de aula, vamos fazer uma ação que a gente vai fazer uma pesquisa na internet. Beleza, a escola leva os meninos para o laboratório de informática. E em casa, será que tem internet? Se você vai, por exemplo, pedir que eles produzam um cartaz: será que eles têm cartolina em casa, será que eles têm material?

Música: “Vamos fazer um filme” (Renato Russo)

A minha escola não tem personagem

A minha escola tem gente de verdade

Alguém falou do fim do mundo, o fim do mundo já passou

Vamos começar de novo: Um por todos e todos por um

Marcelo Abud:

O quarto passo é pensar como será a avaliação.

João Paulo Araújo:

Como eu vou avaliar a distância? O professor precisa disso, o aluno precisa disso, eu posso pensar em um instrumento que o aluno consiga devolver para gente o que ele está aprendendo. Porque nessa avaliação, inclusive, que a gente vai poder pensar em repensar algumas ações.

Eu tenho feito essa prática muito aqui na escola e, às vezes, por mais que a gente tenta ser inclusivo, a gente, às vezes, não é. Como eu percebi que, por exemplo, que a gente não estava sendo inclusivo no momento em que a gente mandou uma prática para os alunos aqui na escola? Quando eu pedi para eles recortarem e colar e duas voltaram sem recortar e sem colar. E a gente foi procurar saber porquê, eles não tinham nem tesoura e nem cola em casa.

Marcelo Abud:

O quinto passo é a geração de um produto de intervenção social.

João Paulo Araújo:

Eu gosto muito de projeto por causa disso, você consegue transformar aquele conhecimento que os meninos adquiriram ao longo do trabalho em algo para a sociedade. Pensar o que a gente pode fazer? Igual, a gente queria fazer cartaz para começar uma campanha e os meninos foram além, eles quiseram criar um canal no Youtube.

Áudio do canal “Plantão Nono Ano”, da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães

Gabriele:

Oi, amigos! Tudo bom? Meu nome é Gabriele, mas podem me chamar de Gabi.

Amanda:

E o meu nome é Amanda, somos alunos do nono ano da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães. Está começando ….

As duas falam juntas:

“… mais um Plantão Nono Ano!”.

Amanda:

Vocês sabiam que no ano de 1904 ocorreu uma revolta contra a vacinação no Rio de Janeiro?

Gabriele:

Eles se revoltaram por conta do governo, que determinou a vacina obrigatória. O problema foi que ele não explicou direito a importância da vacina.

Amanda:

Mas vocês acreditam que até hoje tem gente que não gosta de se vacinar?

Gabriele:

Mas dessa vez não é por falta de informação.

Amanda:

Fizemos uma pesquisa com 91 pessoas no nosso distrito de Piacatuba sobre a vacina e o resultado a gente já fala já, já.

Amanda Rodrigues do Carmo:

Olá, eu sou Amanda Rodrigues do Carmo, da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães. Nós fizemos esse projeto, em 2018, relacionado à campanha de vacinação. Nós propomos a ideia de fazermos um canal no Youtube, pois hoje em dia todo mundo está ligado nas mídias digitais e isso seria uma coisa interessante, que chamaria a atenção das pessoas.

O vídeo iria atingir um número maior de visualização, ou seja, mais pessoas sabendo da importância da vacina. Foi um trabalho divertido e também aprendemos com as pesquisas realizadas e passamos para as pessoas que não tinham esse conhecimento.

João Paulo Araújo:

Você vai falar de história da vacina. Igual, a gente partiu de uma questão macro, que é a Revolta da Vacina, estudamos a história da vacina, a trajetória da vacina no mundo inteiro, para gente chegar numa questão micro que era nossa comunidade. Porque quando você pensa esses cinco passos dentro de uma aplicação no território, as ações vão ser direcionadas para isso.

Porque, por exemplo, no caso de vacina: vamos pedir aos meninos pra fazerem uma pesquisa com os pais em casa, o que eles acham, uma entrevista?; se os meninos têm acesso à internet, vamos pedir a eles pra criarem uma enquete no Facebook, colher esses dados; vamos ligar para o posto de saúde ver como está a situação de imunização do nosso munícipio pra trazer isso para a realidade. O projeto ele traz isso, né, porque ele trabalha o currículo de uma forma diferente.

Então garantir o vínculo, minimizar as tensões e proporcionar uma reflexão sobre o período em que a gente está vivendo eu acho que é muito importante. E a gente tem que pensar muito como fazer isso, né, de uma forma que cada realidade vai saber fazer olhando para o seu território da forma que faça mais sentido para todos, né?

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:

A turma dessa escola, que fica em Piacatuba, em Leopoldina, Minas Gerais, produziu o vídeo “Vacinar é Preciso! Da Revolta da Vacina ao século XXI” e publicou no canal “Plantão Nono Ano”, no Youtube.  No texto que acompanha este podcast, você encontra o link para conferir o resultado desse trabalho.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

 

 

 

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