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O uso de filmes com função educativa não é novidade. De acordo com a cineasta e professora Moira Toledo, entrevistada neste podcast, desde os anos 1940 já havia projetos para a utilização das temáticas de filmes atreladas a debates.

No entanto, é a partir dos anos 2000 que começam a surgir outras possibilidades, como a de o receptor se tornar também produtor de conteúdos. Com o avanço da tecnologia, a pesquisadora da área de educação audiovisual popular avalia que, hoje, a alfabetização baseada em vídeos pode assumir outros papéis na educação.

A educadora Moira Toledo oferece, juntamente com Marcelo Masagão, curso sobre alfabetização audiovisual no YouTube (crédito: reprodução)

“É possível você utilizar o vídeo não como um fim em si mesmo, mas como um processo que gera muitos resultados interessantes para a escola e que, inclusive, pode abordar problemas que esse ambiente tem e que são crônicos e dificílimos de se abordar normalmente, como questões ligadas ao comportamento dos alunos”, defende.

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Esse olhar renovado sobre a alfabetização audiovisual busca maneiras criativas do uso do vídeo por parte dos professores. No áudio, Toledo traz atividades que costumam atrair as crianças e que são simples de serem realizadas, inclusive em casa. Entre elas, a técnica de stop motion – animação quadro a quadro –, que pode ser proposta para estudantes a partir do fundamental I.

Moira conversa com docentes da DRE Guaianazes, em curso de alfabetização audiovisual (crédito: Julia Leite)

Também no podcast, o cineasta, curador e criador do Festival do Minuto, Marcelo Masagão, traz um exemplo de como o stop motion pode ser feito pelas crianças. Masagão e Toledo promovem um curso gratuito sobre alfabetização audiovisual no YouTube e destacam o vídeo com duração de um minuto como outro formato muito adotado na educação básica.

“Ele é muito interessante pra trabalhar dentro da pandemia, especialmente sobre a própria temática da quarentena, não no sentido de fazer vídeos sobre isso, mas lidando com a própria limitação dela”, reforça Toledo, que, na entrevista, traz um exemplo e faz a audiodescrição do vídeo de um minuto “Minha Vida de Cachorro”.

Links:
Site Internet Archive, com imagens de arquivo com direitos liberados para produzir vídeos
Biblioteca de áudio do YouTube, com músicas e efeitos sonoros gratuitos.

Crédito da imagem principal: Minuto Escola

Transcrição do Áudio

Trilha da biblioteca do Youtube: “Late Night Drive”

Moira Toledo:
A gente pode pensar como pequenas produções audiovisuais podem ser produzidas no contexto de qualquer disciplina ou como mesmo o aprendizado da leitura dos meios, pode também ajudar o aluno a estar mais preparado para lidar com a mídia, inclusive com as fake news, enfim, com tudo o que a gente vive hoje em dia.
Eu sou Moira Toledo, sou cineasta, professora e pesquisadora da área de educação audiovisual popular.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
A alfabetização audiovisual é uma forma de pensar o uso pedagógico do vídeo para além da exibição e debate de filmes. O Instituto Claro ouve uma especialista no assunto. Moira Toledo é responsável por oficinas oferecidas para professores e preparou especialmente para esse podcast alguns exemplos de atividades que podem ser realizadas em casa e ajudam a desenvolver a criatividade e o protagonismo dos alunos.

Moira Toledo:
O que o vídeo traz para dentro da escola pública é muito mais do que a possibilidade de fazer filmes e se expressar através deles; é, através do processo de se expressar fazendo filmes, descobrir que é gostoso fazer crítica, que é gostoso ouvir, que trabalhar em grupo é legal, que é possível – usando método científico – entender os resultados que você alcança e melhorar os resultados que você alcança; que é possível você utilizar o vídeo não como um fim em si mesmo e sim como um processo que gera muitos resultados interessantes para a escola e que, inclusive, atacam problemas que a escola tem e que são crônicos e dificílimos de atacar normalmente, que são questões ligadas a comportamento, à forma como o estudante se porta diante do conhecimento.

Música: “Trio em Transe” (Daniela Mercuri De Almeida / Marivaldo Pereira Dos Santos / Gabriel Almeida Povoas)
“Eu queria ser uma outra personagem em cada dia / Dirigir e escrever / Vestir tristeza e alegra / E pela lente dos meus olhos / Fazer do imundo poesia, do imundo poesia”

Marcelo Abud:
Uma atividade com vídeo que criança costuma gostar muito é a animação em stop motion.

Moira Toledo:
A gente já ensinava isso pra criança muitos anos atrás com os flip books, você pegava qualquer bloquinho e mostrava pra criança qual que era o princípio da animação e crianças muito pequenas já saíam fazendo animação em flip book. Quando você ensina isso pra uma criança e eu diria que eu já vi crianças de três anos fazendo stop motion, é muito legal, porque o stop motion nada mais é do que uma sequência de fotos e você vai fazendo pequenas alterações no objeto. E ele vai depois ter o efeito de que aquela coisa está em movimento.

Antigamente isso era um trabalhão, porque você precisava tirar foto por foto, digitalizar etc. Hoje existem aplicativos gratuitos de celular, que é só você ir tirando as fotos e ele já prepara pra você e você coloca música em cima. Então, a minha experiência recente com isso tem sido: se você propõe pra crianças até do ensino fundamental I que elas façam stop motion, elas fazem.

Por exemplo, no ensino a distância, você faz uma aula online de 15 minutos mostrando essa técnica, inclusive se o professor não sabe fazer, ele pode pegar um tutorial de internet e mostrar pra criança, porque tem muitos muito bem-feitos, que explicam em cinco minutos o que é um stop motion. Então, 10, 11, 12 anos, a criança tira de letra.

Marcelo Masagão:
Você pega, por exemplo, uma boa feita em massinha, tirou uma foto…

Marcelo Abud:
Marcelo Masagão, criador e curador do Festival do Minuto.

Marcelo Masagão:
Aí você vai mexer um pouquinho a bola, tirar outra foto; mexer mais um pouquinho, tirar outra foto. Essa sucessão de fotos, quando você colocar na timeline do seu programa de edição, vai dar a ideia de movimento. Isso é stop motion. Você pode fazer com massinha, pode fazer com pessoa, objeto… é uma infinidade de coisas que você pode fazer, escolhendo cenários os mais malucos e diferentes possíveis.

Moira Toledo:
E aí tem vídeos muito divertidos. Ainda que seja um pouco demorado, o stop motion é fácil de fazer. É uma estratégia super charmosa e eu estou insistindo nessa coisa de stop motion porque na experiência que eu tenho tanto com professor quanto com estudante, eles amam.

Marcelo Abud:
Outro formato que Moira indica é o vídeo de um minuto.

Moira Toledo:
(…) que já traz em si a ideia de que você não precisa necessariamente contar uma historinha com começo, meio e fim. Você pode construir uma ideia, que pode ser mais poética, pode ser mais crítica, que pode ser meio documental, que pode ser um grande plano sequência. É um formato muito interessante pra trabalhar dentro da pandemia, especialmentecom a própria temática da quarentena, não no sentido de fazer vídeos sobre a quarentena, mas lidando com a própria limitação da quarentena. Então, se você não pode sair de casa, quais são as opções que te restam, – você criança, estudante? Bom, você pode gravar com a sua família, você pode gravar com seus bonecos, com seus brinquedos, você pode gravar olhando pela janela e você também pode procurar materiais na internet e trabalhar com materiais de arquivo.

Áudios de vídeos do concurso “Festival do Minuto – quarentena: Dia Longo e Conto”

(crianças) “Ai, que dia longo”; “dia longo demais”

Moira Toledo:
Uma coisa que eu acho que funciona bem é pensar no formato minuto como resultado, é um formato que a criança se adequa muito rapidamente, porque é curto, é fácil, tem muito repertório. Se você entra no site do “Festival do Minuto”, são milhares de filmes. É muito fácil você fazer uma seleção de filmes infantis de um minuto pra mostrar pras crianças e não é aborrecido, a criança não fica entediada. Quando você manda links, por exemplo, dentro do contexto da pandemia, manda links de vídeos pra criança assistir e propõe que ela faça algo nessa linha, você está dando uma diretriz bem específica e, normalmente, a gente brinca que limitações estimulam a criatividade.

Música: “Trio em Transe” (Daniela Mercuri De Almeida / Marivaldo Pereira Dos Santos / Gabriel Almeida Povoas)
“Ser a sétima arte no sétimo dia / Ser a majestade da rebeldia / Recriando o mundo assim como eu queria / Como eu queria”

Moira Toledo:
Uma camada que eu acho que agrega também é colocar um tema… quero que você trabalhe dentro de casa, só com material de arquivo, então você não pode gravar nada, tudo você tem que pegar na internet, e eu quero que você fale sobre o movimento antirracista. É o que eu faria hoje se eu tivesse uma turma de sétimo ano, por exemplo. Você escolhe um tema, coloca essas restrições e ajuda, com as restrições, que a criança possa ser mais criativa. Eu acho que até pro ensino fundamental II esse é um formato bastante funcional.

Marcelo Masagão:
“Minuto” tem uma relação muito forte com a educação, já que o festival é muito exibido nas mais diversas disciplinas em sala de aula, quando não é matéria do semestre pros alunos, o trabalho do semestre é fazer o vídeo do minuto. Eu e a educadora Moira Toledo organizamos esse canal no YouTube com dicas de audiovisual a partir do formato minuto, onde a gente adota uma estratégia muito simples, que é da engenharia reversa, ou seja, vamos dissecar os vídeos, as estratégias que os realizadores e realizadoras usaram, estratégia de linguagem, pra construir os seus minutos.

Moira Toledo:
Tem um vídeo de um minuto que está lá no site do “Festival do Minuto”, que chama “Vida de Cachorro”, um vídeo que foi extremamente premiado. Ele é um plano sequência – plano em que você liga o rec da câmera e você não desliga até o final da história que você está contando. Ou seja, não tem corte, é um plano só. Você não vai ter que ir na ilha de edição, fragmentar etc. Não. Gravou, tá pronto.

Áudio do vídeo “Vida de Cachorro”, de Marcelo Pascotto, de fundo.

Moira Toledo:
Começa com uma câmera andando por um jardim e ela vai, vai, vai, de repente ela chega perto de um muro, você começa a ouvir uns latidos e a câmera começa a chacoalhar. Aí você percebe que se a câmera está chacoalhando daquele jeito e você está ouvindo o latido naquele volume, você começa a entender que você é o cachorro, está vendo o mundo pelo ponto de vista do cachorro. E aí essa câmera começa a circular por esse jardim, daí ela vai até um pote de água e você ouve o barulho do pote de água e a câmera tá ali olhando pro pote de água. Uma hora muito divertida, a câmera vira de ladinho assim e você ouve o barulhinho, você entende que o cachorro está fazendo xixi e depois a câmera vai lá e entra dentro da casinha do cachorro. É super gostoso de assistir. É uma graça, muito interessante o vídeo e de uma simplicidade atroz. A gente brinca que vídeo de um minuto muitas vezes você perde mais tempo tendo a ideia do que executando.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Curtiu? Então agora é hora de compartilhar a alfabetização audiovisual com sua turma. No texto que acompanha esse áudio, você encontra links de sites com arquivos de imagens e de sons com uso livre para indicar aos alunos.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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