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O planejamento e produção de um álbum de figurinhas na escola oferece sentido ao trabalho coletivo. A atividade costuma funcionar bem nos primeiros anos do ensino fundamental, por trabalhar diversas habilidades na prática. E em época de Copa, a ferramenta entra no dia a dia dos estudantes

“É uma produção que envolve valores das crianças em relação a consumo e a bens financeiros. Envolve a produção de textos e a pesquisa acerca de um tema. Por fim, envolve uma outra linguagem que é fundamental principalmente na educação infantil, na passagem pro 1º ano, que é o desenho”, avalia a doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e assessora pedagógica para educação infantil Silvana Augusto.

Copa do Mundo

Em ano de Copa do Mundo, os álbuns ganham mais visibilidade entre as crianças. O momento pode ser aproveitado de diferentes maneiras. O professor de educação física na EMEF Rio Grande do Sul, em Canoas (RS), Matheus Breitenbach produziu um álbum em que as fotos dos próprios alunos se tornaram as figurinhas. “O principal objetivo foi inserir as crianças em uma brincadeira tão importante em tempo de Copa, já que muitos não teriam condições financeiras para ter o álbum oficial. Desta forma eles puderam vivenciar essa experiência”, explica.

Silvana Augusto destaca, ainda, a importância de se despertar o senso crítico nas crianças. “[É importante alar sobre] a quantidade de papéis, de desperdício que a gente tem, que esse mercado produz para gerar mais e mais consumo. Criança dessa idade é muito capaz de compreender isso”, opina.

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Transcrição do Áudio

Música: “Family Montage” (Biz Baz Studio)

Silvana Augusto:
A brincadeira de colecionar que sempre fez parte da cultura da infância foi sequestrada, digamos assim, pelo mundo do mercado, pela produção em massa e os interesses agora parece que são outros, as crianças têm interesse em colecionar porque vale muito dinheiro uma figurinha que é mais cara do que a outra. E elas são muito pequenas – na educação infantil, no começo do ensino fundamental -, pra lidar com esses valores, dos quais não são elas que produzem e ficam na dependência da família pra ter o dinheiro e comprar e fazer. Então quando a gente produz o álbum na escola, a gente já derruba essa barreira social do poder aquisitivo para ter uma coleção desse tipo e torna tudo mais acessível, mais democrático, posto que todas as crianças podem ter e colecionar na escola.
Eu sou Silvana Augusto, doutora em educação. Sou assessora de educação infantil para redes municipais de educação e sou coordenadora pedagógica de uma escola particular em São Paulo.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
A produção de um álbum de figurinhas na escola envolve pesquisa e leitura, conhecimentos de matemática, elaboração de desenhos ou fotos e informações presentes na figurinha. Essas etapas podem estar voltadas a diferentes temáticas trabalhadas com a turma.

Silvana Augusto:
Pode ser um álbum de figurinhas dos animais da Amazônia, dos peixes do Pantanal, pode ser das paisagens, da Copa do Mundo. A gente pode escolher diversos temas e o tema também é uma outra vantagem – vantagem pedagógica, digamos assim – dessa produção do álbum, porque com esse tema os professores conseguem enredar melhor as pesquisas das crianças. Conseguem focar que tipo de fonte precisa ser consultada: é uma fonte escrita, é uma fonte oral, é no livro, tá na biblioteca ou tá na internet, ou tá em todos os lugares?

Marcelo Abud:
Até aqui, você acompanhou algumas atividades pedagógicas envolvidas na produção do álbum. A educadora destaca também que há aprendizados importantes no momento da coleção das figurinhas.

Silvana Augusto:
Aí tem um outro trabalho que também pode ser muito explorado, que é o da matemática e do jogo, há todo um controle da coleção. Quantas figurinhas sobram, quantas figurinhas têm em excesso, como que a gente controla o quadro numérico, que normalmente tá na última página do álbum e é um quadro que a gente vai riscando as figurinhas que a gente já tem. Isso vai dando pras crianças a compreensão do que falta, das operações básicas de soma, de subtração e da sequência numérica, que pras crianças pequenas, é muito importante. Então esse uso do quadro numérico permite explorar diversas situações pedagógicas do universo da matemática.

Música: “Matemática” (Zeca Baleiro)
Coisa que eu só aprendi na prática
7 e 7 são 14 com mais 7, 21

Silvana Augusto:
Então esse contexto de produção social que o álbum cria, permite que as crianças escrevam colocando em jogo absolutamente tudo que elas sabem, posto que terão leitores reais pra essa produção. Então você veja, é uma produção que envolve valores das crianças em relação a consumo e a bens financeiros, envolve a produção de textos, a pesquisa acerca de um tema e, por fim, envolve uma outa linguagem que é fundamental principalmente na educação infantil e na passagem pro 1º ano, que é o desenho.
A coordenação que as crianças precisam empreender pra fazer a grafia das letras acaba por disciplinar aquele gesto mais expressivo que ela trazia da infância, dos trabalhos com a pintura, com a modelagem e o desenho, com as linguagens artísticas. Portanto, ter uma intervenção com o desenho no 1º ano é muito importante pra que elas não percam precocemente a possibilidade expressiva do desenho.

Música: “Aquarela” (Maurizio Fabrizio / Guido Morra / Toquinho / Vinicius de Moraes), com Rafa Gomes
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo

Silvana Augusto:
Todos os desafios interessantes e importantes pro aprendizado das crianças nessa etapa são ali bastante potencializados nesse contexto de produção de álbum de figurinha, que envolve a produção do desenho das figurinhas que são, depois, reproduzidas na escola mesmo, e legendas, pequenos textos pras sessões do álbum. Por isso é um projeto tão interessante pra essa etapa, pro final da educação infantil, início do 1º ano do ensino fundamental.

Marcelo Abud:
Em ano de copa do mundo, produzir um álbum chama ainda mais atenção.

Silvana Augusto:
Copa do Mundo é um excelente tema e uma oportunidade ótima pra gente lidar com as crianças. Então, a quantidade de papéis, de desperdício que a gente tem, que esse mercado produz para gerar mais e mais consumo, é importante de a gente discutir. Criança dessa idade é muito capaz de compreender isso. É importante a gente discutir com elas de onde vem o papel que faz a figurinha, de onde vem o material brilhante da figurinha mais cara de todas, porque que essas são mais caras, quando a gente acabar o álbum pra onde vão essas figurinhas, que que acontece com a natureza que recebe o impacto de todo esse material, quantas crianças no mundo inteiro estão agora, nesse momento, colecionando e produzindo o mesmo excesso e desperdício de papel e etc? São reflexões que se tornam muito importantes nesse momento, porque isso é visto, a crianças estão indo pra rua, pro shopping, elas tão vendo as praças de trocas de figurinha e elas estão assimilando isso sem nenhuma criticidade, por isso que é importante a escola atuar nessa direção. Ainda que elas venham a colecionar, é importante a escola, ainda assim, discutir tudo isso com suas crianças.

Música: “Aqui É O País do Futebol” (Milton Nascimento e Fernando Brant), com Wilson Simonal
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?

Silvana Augusto:
E no caso de produzir, melhor ainda. Conhecer a Copa do Mundo é muito interessante para as crianças, é um modo delas se atualizarem, ao saber dos assuntos que todo mundo vai começar a falar daqui pra frente, conhecer os países, bandeiras, as línguas que eles falam, curiosidades em torno deles, o mapa do mundo, nossa, tem um monte de conteúdos importantes sobre geografia, sobre territórios, sobre linguagem que as crianças podem acessar.

Matheus Breitenbach:
Olá, eu sou o professor Matheus, professor de educação física na escola Rio Grande do Sul, no município de Canoas. Venho relatar aqui, então, o projeto que eu realizei durante a Copa do Mundo de 2018 na Rússia, intitulado ‘Figurinhas da Copa’, em que os próprios alunos eram as figurinhas e trocavam as suas figurinhas com seu rosto com os seus melhores amigos.
O principal objetivo foi inserir as crianças em uma brincadeira tão importante em tempo de Copa, já que muitos não teriam condições financeiras pra ter o álbum oficial. Desta forma eles puderam vivenciar essa experiência. Quatro anos depois o projeto ainda é lembrado por vários desses alunos que ainda estão na escola e mostram o seu álbum para seus amigos.

Silvana Augusto:
E cria, também, a cultura daquele grupo, daquela escola, várias crianças do 1º ano, do 2º ano, da educação infantil produzindo juntas um determinado álbum, é, também, um motivo de fortalecer os vínculos de um grupo numa certa comunidade escolar. É uma produção que envolve todo mundo, todo mundo faz junto para se divertir e colecionar com todo mundo. Então, essa condição também é excelente pra constituição, fortalecimento dos vínculos de um grupo, dos laços entre as crianças e garantir esse sentimento, também, tão fundamental na infância de saber se fazendo parte de alguma coisa maior.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
A criação de um álbum de figurinhas realizado pelo próprio grupo oferece sentido ao trabalho pessoal e coletivo. As reconhecem as próprias competências e as diferentes qualidades de cada integrante da turma.
Marcelo Abud para o podcast de Educação do Instituto Claro.

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