Ouça também em: Ouvir no Claro Música Ouvir no Spotify Ouvir no Google Podcasts Assina RSS de Podcasts

Em 7 de setembro de 1822, dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, que até então era colônia de Portugal. O que mais se tem em mente deste momento histórico é a frase “Independência ou morte!”. Para além dessa mensagem, o que realmente aconteceu naquele dia? É essa pergunta que o jornalista e escritor Marcelo Duarte pretende responder em dois livros voltados ao público infantojuvenil.

“Tem essa brincadeira de que dom Pedro I não estava naquele cavalo bonito, ele estava num burrinho subindo a Serra de Santos; que eram as mulas, né? Os burros que conseguiam fazer essa travessia”, comenta sobre a ideia do livro voltado ao ensino fundamental I: “Memórias Póstumas do Burro da Independência”. Na obra, o burro em que estava montado o imperador volta para revelar o que aconteceu exatamente em 7 de setembro de 1822.

Ilustração de Biry Sarkis dá protagonismo ao burro que carregou o imperador e ilustra o livro “Memórias Póstumas do Burro da Independência” (crédito: divulgação / Panda Books)
Ilustração de Biry Sarkis dá protagonismo ao burro que carregou o imperador e ilustra o livro “Memórias Póstumas do Burro da Independência” (crédito: divulgação / Panda Books)

Independência ou zero

Já em “Independência ou Zero”, depois de derrotarem o vilão Fake Nilson no livro “Esquadrão Curioso – Caçadores de fake news”, Isa, Pudim, Débora e Leo estão às voltas com uma nova aventura. Uma máquina do tempo preparada para a Feira de Ciências da escola leva Isa para o dia em que foi proclamada a independência, às margens do Ipiranga. Na nova aventura, ela precisa impedir que um colega da classe mexa na cena da independência do Brasil para alterar a nota zero que ele tirou na prova de história.

Veja mais:

Há 200 anos, Dia do Fico impulsionou processo de independência do Brasil

“Esquadrão Curioso em “Caçadores de Fake News”

Origem do Guia dos Curiosos

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Marcelo Duarte:
Tem essa brincadeira que dom Pedro I não estava naquele cavalo bonito, ele estava num burrinho subindo a serra de Santos, que eram as mulas, né, os burros que conseguiam fazer essa travessia. Falei ‘e se eu contar a história do ponto de vista do burro?’. Tudo o que aconteceu com dom Pedro I naquele dia, o burro estava junto.
Eu tinha feito uma grande pesquisa pra contar a história de um jeito bacana.
Eu falei ‘bom, agora eu vou escrever um livro juvenil, então virou também um livro em que eu conto muito bem o episódio da independência, né, pra esse público, mas cheio de humor. Um garoto de 13,14 anos volta pra 1822, tá lá o imperador que nem era tão velho assim, de 24 anos, mas não tava entendendo nada o que aquelas crianças estavam dizendo, e aí, os garotos tentando enganar o imperador sobre a melhor frase, sobre a independência.
Eu sou Marcelo Duarte, eu sou jornalista, sou escritor, autor do Guia dos Curiosos, né, a série que me projetou aí pro mundo dos livros, e graças ao Guia dos Curiosos, hoje eu estou aqui pra falar de dois livros que eu escrevi para o público infantojuvenil, que eles servem pra comemorar os 200 anos da independência

Vinheta: Livro Aberto – Obras e autores que fazem história

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Autor do conhecido Guia dos Curiosos, Marcelo Duarte também tem uma série de obras infantojuvenis. Dois dos livros mais recentes foram escritos durante a pandemia e envolvem a independência do Brasil. Antes de passearmos por algumas páginas deles, na introdução deste Livro Aberto, Duarte conta como começa o interesse em escrever para crianças e jovens.

Marcelo Duarte:
Eu costumo dizer sempre que o Marcelo escritor nasceu do Marcelo leitor. Tem muita gente que pergunta ‘o que que eu faço pra virar escritor?’ tem que ler bastante. E eu fui uma criança que leu bastante. E adolescente eu me encantei, basicamente, meu autor preferido era o Marcos Rey. A cada seis meses ele lançava um livro da coleção Vagalume, livros de mistério, de suspense, pra minha faixa etária. E em determinado momento eu falei assim ‘nossa, eu quero ser o Marcos Rey quando eu crescer, eu quero escrever livros desse jeito’, né, eu já gostava de criar histórias, eu tinha os cadernos que eu tenho até alguns guardados até hoje e eu criava umas histórias, né, isso pra consumo pessoal. Eu falava ‘quero ser o Marcos Rey’, eu ficava esperando os livros dele, devorava em dois dias, aí relia a história.

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
O escritor explica como nasce a ideia de escrever livros sobre a independência do Brasil.

Marcelo Duarte:
Um pouco antes da pandemia começar, no final do ano anterior, apareceram dois concursos do Mec pra livros, não era especificamente para crianças, mas livros sobre os 200 anos da independência. Eu tenho uma coleção de livros sobre dom Pedro I, independência. É um episódio da história do Brasil que eu sempre gostei muito. Quando eu vi o primeiro edital, eu via que tinha muitos livros pra adultos, e aí pensei ‘ah, vou escrever um Guia dos Curiosos, 200 anos da independência pro concurso’ falei ‘não, eu acho que eu vou fazer um livro pra crianças’, pensei nos menores. Agora, tinha que procurar o outro olhar, né, algo inédito, não queria fazer algo que já foi feito.

Marcelo Abud:
Em ‘Memórias Póstumas do Burro da Independência’, Marcelo Duarte dá voz a um dos protagonistas esquecidos desse momento histórico.

Marcelo Duarte:
Eu já vi livros pra crianças falando sobre a história do quadro do Independência ou Morte, se era verdade ou mentira, e nessas de você ficar pensando, né, aquele livre pensar, quando tô precisando criar alguma coisa, eu gosto de ir pro parque pra arejar pensamentos, aí eu vou, fico andando, aí vejo lá os bichinhos caminhando também, daí aquelas coisas, né, você vai pensando, pensando, pensando, eu falei ‘puxa, né, o bicho contando’, eu achei que ia render muito humor, que podia ser muito divertido pras crianças, e de fato isso aconteceu. O livro ficou engraçado, é um livro divertido porque o burro ele tem uma mágoa muito grande de não ser reconhecido como o grande herói da independência do Brasil, ele foi esquecido, na opinião dele ele foi a pessoa mais importante daquele momento.

Música: O Burro (Tata Fernandes/ Zeca Baleiro)
Quem pensa que o burro é burro
É burro pra burro
O burro sobe a ladeira
Desce a ribanceira
Vive camelando pra lá e pra cá
O burro sabe que o homem conta com o seu socorro
O burro é inteligente pra cachorro

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
O escritor lê um trecho de ‘Memórias Póstumas do Burro da Independência’.

Marcelo Duarte:
E ele começa assim: ‘Posso garantir que subir aquela serra com tanto peso nas costas foi difícil pra burro. O pavimento era uma buraqueira só, enlameado e bastante íngreme. Chegamos arrastando a língua quando alcançamos o planalto.
Faltavam ainda cinco quilômetros para a cidade de São Paulo, trecho em que passaríamos por apenas oito casas. Pelas minhas contas, ainda tínhamos mais de seis horas de viagem para completar os setenta quilômetros do percurso.
Paramos próximos a uma venda, em uma área desabitada, para almoçar e para um pequeno descanso. Teve quem tivesse outras urgências. Pedro, o príncipe regente, saiu correndo em direção a um matagal. Já tinha feito outras paradas na Serra do Mar. Durante a viagem, eu senti, e tenho até calafrios de lembrar, que ele não estava nada bem da barriga.’

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
O outro livro vem na esteira da obra de Marcelo Duarte de maior sucesso junto ao público infantojuvenil. Depois de atuar como caçadores de fake news, o “Esquadrão Curioso” está de volta em “Independência ou Zero”.

Marcelo Duarte:
O nome ‘Esquadrão Curioso’ dá margem a eles falarem de outras coisas, não só de fake news, e eu achava que era o momento, então, de colocá-los em outra situação. Como eu adoro essa história de máquina do tempo, viajar no tempo, eu falei assim ‘ah, quer saber, eu vou fazer eles voltarem no tempo pra viverem aquele 7 de setembro lá’. E aí fui maquinando uma história, aí falei ‘não, eu acho que em vez de todo o Esquadrão Curioso voltar, eu vou colocar dois meninos que tiram uma nota 0 na prova, eles têm como única chance de reverter o 0, é indo pra 7 de setembro e mudando a cena da Independência, para que as respostas que eles deram em sala de aula batessem, né, com o que aconteceu de fato, pra eles tirarem 10.
E nessa confusão, uma das integrantes do Esquadrão Curioso, a Isabela, que é meio a líder, ela fala ‘não, não, vocês não vão fazer isso!’ e ela volta junto com eles. Então, enquanto o pessoal do Esquadrão tenta trazê-los de volta, ela fica ali brigando com os meninos, com Dom Pedro, pra que ninguém mudasse a história. Tem trapalhadas, os diálogos são muito engraçados, né, toda essa brincadeira, e esse livro também acabou sendo um dos premiados desse edital.

Marcelo Abud:
Marcelo Duarte lê um trecho de “Independência ou Zero”.

Marcelo Duarte:
– Nota 0? Como assim, nota 0?! É impossível que eu não tenha acertado nada na prova de história – resmungou Igor, furioso, ao deixar a sala.
– Será que não era nota 10 e o professor se esqueceu de colocar o 1 na frente do 0? – ironizou Vini.
– Pensei nessa hipótese, muito mais lógica, e fui falar com ele.
– O que o professor disse? – continuou Vini.
– Disse que era zero mesmo e, para não ficar pairando nenhuma dúvida, ele escreveu: Z-E-R-O com caneta vermelha. Estou totalmente revoltado.
– Você não acertou nem aquela sobre o grito da Independência? – estranhou Vini. – Era a mais fácil de todas.
– Eu estava um pouco desconcentrado, preciso ser sincero… – falou Igor. – Só consigo pensar nas letras do musical que estou escrevendo.
– Musical, cara? Não estou sabendo disso. Que musical é esse?
– É sobre a nossa vida de adolescente – respondeu Igor.
– Tá mais para um drama do que para um musical… – riu Vini.
– Só que agora a coisa é séria – Igor não estava achando graça da situação. – Meus pais tinham me dado um ultimato antes do provão. Se eu tirasse mais um 0, eles iriam me trocar de escola.
– Foi um prazer enorme conhecê-lo – despediu-se Vini.

Música: “Se eu pudesse voltar no tempo” (Pedro Paulo / Luiz Carlos Ismail)
Se eu pudesse voltar no tempo
(Pra ser feliz)
Eu preciso voltar no tempo
(Pra ser feliz)
Se eu pudesse voltar no tempo
(Pra ser feliz)
Eu preciso voltar no tempo

Marcelo Duarte:
O ‘Memórias’ é pro ensino fundamental 1, a história é contada de um jeito mais simples, bem-humorado, porque é do ponto de vista do burro, e o segundo é um livro com mais texto, a história já é contada com um pouco mais de riqueza de detalhes, pro fundamental 2.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
As releituras curiosas de Marcelo Duarte sobre a Independência do Brasil despertam ainda mais o interesse para o tema em crianças e jovens.
Marcelo Abud para o Livro Aberto, do Instituto Claro.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.