Após nove anos trabalhando com mídia, tecnologias e educação, e aos 32 anos de idade, finalmente, em 2016, tornei-me mãe de uma menina. Inevitavelmente, canais infantis começaram a fazer parte da rotina.
Nos primeiros meses, procurei evitar algumas séries que eu julgava não serem tão apropriadas para a formação de uma criança. Em junho, minha filha completou 1 ano e agora eu a deixo assistir um pouco a aquelas séries “inapropriadas” porque é necessário, já que ela começou a ir para a escola e a ter contato com outras crianças com formações diferentes. Mas estou sempre ao lado dela quando assiste a esses programas.
Fazendo uma análise do que é oferecido na televisão – majoritariamente, nos canais por assinatura (a oferta em canais abertos diminuiu drasticamente nos últimos anos) -, considerando o acesso facilitado às tecnologias digitais e o perfil dos pais modernos, percebo que falta análise por parte dos pais, conhecimento do conteúdo das séries. O foco passou a ser a facilidade de distrair e manter a criança calma para que outras tarefas sejam executadas.
Nos canais mais famosos, existem as séries “da moda”. Por exemplo, a Peppa Pig, que eu, particularmente, sou contra. Embora algumas pessoas defendam a Peppa, como o editor da Nova Escola, Rodrigo Ratier, que escreveu um texto muito bom aliás, apresentando uma excelente análise da série, ainda não estou convencida de que a Peppa, neste momento, seja adequada para minha filha. Eu estou mais apta a concordar com análises que mostram que as características da porquinha são a indelicadeza de modos, o comportamento inapropriado, a arrogância e o complexo de superioridade.
Concordo que são atitudes comuns em crianças em formação, porém, não concordo que esses comportamentos devam ser incentivados. Já ouvi vários relatos de pais apontando o quanto seus filhos passaram a desrespeitar mais a família após conhecer a Peppa. É claro que a série não afeta a todas as crianças, mas como saber de que forma vai afetar a minha filha? Então, monitoro o acesso a esse tipo de conteúdo. Ela ainda aceita bem (sem briga ou birra) quando mudo de canal.
Já O Show da Luna trata, de forma bem lúdica e musical, assuntos mais complexos. Eu mesma aprendo demais com a série. A relação da Luna com seu irmão mais novo é bonita, pois a menina é compreensiva e amorosa. De fato, não reflete a verdadeira relação entre irmãos, que por mais que se gostem sempre há uma briguinha. Mas eu prefiro que seja assim.
Tem também o Meu Amigãozão. São três amigos (dois meninos e uma menina) com características físicas e personalidades distintas, junto com seus amigos imaginários, os quais possuem a personalidade das crianças. Tem birra, tem egoísmo, tem choro, mas tem companheirismo e compreensão. A cada episódio, criam-se histórias imaginárias para resolver algum conflito interno de cada criança. Ao final, tudo se resolve.
Masha e o Urso é um desenho totalmente fantástico. A série é baseada em um conto de fadas do folclore russo . Embora Masha seja travessa e tenha atitudes típicas de criança, ela ama os amigos animais, não é grosseira, não é mimada, não é arrogante, e isso é bonito na série. Episódios de cinco minutos bem elaborados, com começo, meio e fim, alegres e divertidos.
Em resumo, nenhum desenho é perfeito ou reflete o comportamento real de uma criança. O ponto é que embora as crianças tenham comportamentos adversos, afinal, estão em fase de desenvolvimento e formação de personalidade e de valores, acredito que não podemos incentivar comportamentos de egoísmo, de prepotência e de arrogância. Por isso, opto por desenhos que usam a fantasia para mostrar que é possível refletir sobre suas ações, ter bom comportamento e bom relacionamento com seus pais e seus amigos.
Cada família pode decidir o que a criança vai consumir na indústria do entretenimento, mas deixar uma criança sozinha no controle da programação, ou deixar a criança ditar as regras e impor o que deseja assistir não é a melhor educação a ser dada.
Vejo muito pais de crianças de 2, 3 anos de idade entregando seus celulares nas mãos dos filhos sob o pretexto: “Ele/Ela já sabe mexer”.
O fato de crianças terem habilidade e facilidade em manusear uma tecnologia não significa que saibam o que estão fazendo. Deixar a criança sozinha buscar na Internet seus desenhos favoritos é perigoso. Primeiro: O celular é do pai/mãe e não da criança, com aplicativos e sites armazenados que são usados por adultos; Segundo: A criança pode encontrar o que não estava procurando.
Minha intenção com este texto não é indicar quais programas as suas crianças devem ou não assistir, afinal, este é um texto de opinião, a minha opinião. O objetivo foi levantar a discussão de que não importa o que sua criança está consumindo, desde que você saiba, concorde e acompanhe.
Minha filha ama e continuará assistindo aos vídeos da Galinha Pintadinha. Ela aprendeu as partes do corpo, a bater palmas, a mandar beijo e dar tchau com essas músicas. Fica a dica para pais recentes: Antes de se preocupar sobre qual desenho deixar seu filho/filha assistir nos primeiros meses de vida, opte por algo simples, colorido e musical. Enquanto isso, vice pode assistir às séries, conhecer o enredo e o conteúdo, então, estará mais preparado para saber o que indicar aos filhos quando chegar a hora.

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Talita Moretto

Talita Moretto é especializada no uso de mídia e tecnologias aplicadas à educação. Atua na área desde 2008, dedicando-se, especialmente, à formação de professores. Idealizadora e diretora do Sala Aberta (salaaberta.com.br), é também coordenadora de Tecnologia Educacional no Colégio Sepam, em Ponta Grossa (PR). Contato: talitamoretto@salaaberta.com

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.