Hoje, e quando digo hoje é hoje, mais do que ontem e menos do que amanhã, a necessidade de promover a comunicação dentro da escola é evidente diante da situação em nosso país, que se complicou ainda mais. A mobilização realizada no dia 15 de março demonstra, mais uma vez, o potencial da tecnologia em unir e mobilizar pessoas. E isso não está sendo observado de perto.
 
Logo após a mobilização, o Facebook estava repleto de situações interessantes que, diziam as legendas, aconteceram naquela manhã (ou tarde) de domingo. Pessoas manifestando a favor e outras contra, mas não apenas ao governo. Algumas pessoas estavam no lugar certo com suas faixas de “vem pra rua”, já outras aproveitaram o momento para desabafar. Eu vi uma faixa de uma mulher culpando a presidente por sua depressão (?). Nem o Paulo Freire escapou do impeachment. Claro que também houve aquelas publicações de close no rosto da mocinha bonita e bem arrumada que estava expondo sua beleza na rua durante a manifestação. Por que não?
 
Isso tudo ocorreu depois do aumento no combustível, do re-re-reajuste na tarifa de energia elétrica, do aumento na taxa de juros e, claro, alguns nao haviam esquecido o desvio de dinheiro na Petrobras.
 
Todas as informações que recebemos sobre esse e outros acontecimentos vêm da mídia e da tecnologia. É necessário compreender como os jovens estão recebendo essas informações e o que entendem de tudo isso.
 
Mesmo com pouca idade e julgados ainda tão imaturos para discutir assuntos que envolvem política e economia, não devemos menosprezar esse público. Não podemos esperar que eles alcancem seus 30 ou 40 anos – já maduros e mais atuantes na sociedade – para chamarmos no canto e conversarmos: “Ei guri, qual a sua opinião sobre a manifestação do dia 15 de março de 2015?”. “Hein?! Responde ele”, pois na época até poderia ter estado nas ruas, mas era como se fosse mais um passeio de domingo, bem animado, sob o sol.
 
Todos que estavam nas ruas compreenderam o que estava fazendo lá?
 
Eu repito agora o que escrevi neste mesmo canal em 2013: não adianta sair às ruas com faixas e roupas verde e amarelo apenas para tirar fotografias para postar nas mídias sociais e dizer que é patriota, para depois voltar para o aconchego de sua casa e à vida normal, como se nada tivesse acontecido. Não adianta levar seu filho na manifestação sem explicar a ele o que isso significa e depois levá-lo para a escola particular onde não existe nem notícia sobre a greve dos professores da rede pública (alguém lembra disso?).
 
Aliás, professores, seus alunos sabem o porquê aconteceu a greve? Mas sabem mesmo, todos os motivos? Deixo aqui uma indicação para a leitura do blog Imprensa Aprendiz que, durante a greve dos professores do Paraná, publicou todas as informações divulgadas pelo sindicato, em especial este texto.
 
Estão os adolescentes aptos a debater política? Não. Eles não fizeram mestrado ou doutado em ciências políticas e podem ainda não ter lido todos os livros sobre a história da colonização do Brasil. Bem como não conseguem discutir com embasamento como o governo Obama interfere no governa Dilma. Nem você que está lendo este artigo é capaz de dissertar belamente sobre isso.
 
No entanto, é importante explicar e perguntar o que eles leram, como receberam a informação, levar informação verdadeira sem os “achismos” e opiniões desconexas que percorrem a internet. Não é segredo, todos somos comunicadores. Todos nós podemos entrar na internet, criar um blog e escrever o que quisermos (como eu faço), e todos teremos nossos seguidores. 
 
Precisamos levar os meios de comunicação para os nossos estudantes. Sejamos educadores, sejamos pais e professores. Debater a influência da mídia, da publicidade e da notícia em nossas vidas é essencial. É essencial pensar; induzir que os jovens pensem, analisem, reflitam, discutam e, sobretudo, compreendam o que está acontecendo. 
 
Esses jovens um dia serão “velhos” e precisam entender a sociedade que hoje prega que só é bem sucedida a pessoa que ostenta bens materiais. Precisamos discutir sobre essa necessidade irreal de termos que vestir roupas caras e de marca, ter o celular de última geração e o videogame do momento para exibir aos nossos amigos, caso contrário, nos sentimos inferiores, porque não somos vencedores na vida.
 
É preciso entrar no Facebook, ver o que acontece ali, saber que tipo de informação as crianças e os adolescentes estão recebendo. 
 
A tecnologia é excelente em quebrar barreiras e permitir o acesso à informação de forma rápida, no entanto, é atraves da tecnologia que os conceitos se propagam. Quando você não puder mais comprar o celular, o videogame e a roupa de marca vai conseguir explicar ao seu filho que ele não precisa disso e que o dinheiro (que ele ainda nem sabe como ganhar, porque não trabalha) precisa ser investido em coisas mais urgentes? Porque a luz aumentou, o combustível subiu e o imposto elevou. 
 
E então? 
 
Ele vai entender, com certeza.
 
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Autor Talita Moretto

Talita Moretto é especializada no uso de mídia e tecnologias aplicadas à educação. Atua na área desde 2008, dedicando-se, especialmente, à formação de professores. Idealizadora e diretora do Sala Aberta (salaaberta.com.br), é também coordenadora de Tecnologia Educacional no Colégio Sepam, em Ponta Grossa (PR). Contato: talitamoretto@salaaberta.com

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