É comum ouvirmos que os jovens de hoje não se interessam por política e que possuem, até mesmo, aversão ao assunto. Talvez essa impressão esteja equivocada e, o que na verdade ocorre, é que esses jovens sintam-se desiludidos com o modelo político convencional, em que a ideia dominante é “nós votamos, eles governam”.
Os jovens da geração digital parecem querer mais que isso. Nasceram em uma realidade em que a participação e cooperação são possíveis; por meio da internet e das redes sociais conseguem expor seus pensamentos, opiniões e até mesmo influenciar decisões governamentais, como ocorreu com a campanha política do presidente americano Barack Obama, em 2007. Eles descobriram que, por meio das ferramentas online, podem lutar pelo o que acreditam.
A campanha de Obama, comandada pelo jovem Chris Hughes, foi sucesso absoluto e é sempre um ótimo case a ser avaliado quando o assunto tangencia os temas geração digital, redes sociais e política.
Hughes explorou a sede de mudança (comum aos jovens), mas inovou, ao entender que, agora, esses jovens estavam na internet e mais do que isso, estavam acostumados com a dinâmica do ciberespaço. Ele trouxe a vida política aos adolescentes da geração Y e confirmou que sim, existia interesse político entre eles.
A participação é fundamental para a geração internet, eles precisam “fazer parte” para se sentirem motivados. Chris Hughes deu isso a eles: possibilidade de participarem da eleição de Obama de forma ativa e não por meio de campanhas tradicionais, em que, geralmente, o cidadão se torna mero espectador dos discursos proferidos pelos candidatos.
Obama sempre trouxe os cidadãos para perto de si, afirmando que eles eram fundamentais para a sua eleição, não como meros eleitores, mas como pensantes, como pilares de seu governo e, ao invés de oferecer frases de efeito, ofereceu ferramentas para construir um eleitorado engajado e ativo.
A grande sacada foi transferir toda essa energia que existe na internet para o “campo de batalha”, ou seja, usar as redes sociais e demais ferramentas online como meio para eleger Obama. Para isso foi criado o site my.barackobama.com, completamente interativo, o que despertou forte sentimento de comunidade e valorizou o poder do povo.
A campanha teve enorme êxito e mostrou que o ambiente online se tornou ferramenta política tão fundamental quanto as mídias tradicionais. Na TV não existe diálogo, o cidadão é exposto ao horário político sem que possa mostrar seu posicionamento; cria-se um enorme distanciamento entre eleitorado e candidatos. Já nas redes sociais, como o twitter, a aproximação acontece e, Obama, fez isso muito bem.
As ferramentas online, porém, não servem apenas para engajar durante as eleições, mas dá aos jovens a possibilidade de monitorarem de perto seus candidatos, cobrando posicionamentos e ações. Esses jovens possuem ferramentas sem precedentes para lutarem por mudanças. Precisam, para isso, ser estimulados e alertados acerca do poder que têm nas mãos. Eles não apoiam mais o modelo “nós votamos, vocês governam”; querem ter voz ativa no governo e, se precisar, não duvidem, ainda vão para as ruas, como acontecia há anos, quando a internet não existia.
Um bom exemplo de que os jovens usam o ambiente online como ferramenta política, mas não se restringem à ele, foi o recente manifesto “Amor sim, Russomanno não”, organizado por ativistas online para evitar que o candidato à prefeitura de São Paulo fosse eleito. A Praça Rossevelt, palco da manifestação, lotou.
A geração formada por esses “jovens digitais” não se contenta em assistir sem participar. Eles querem ser mais do que eleitores, querem ser colaboradores. E, se ignorados, vão arranjar meios de externar suas lutas – construir seus próprios canais de comunicação, produzir seus próprios vídeos, notícias, entrevistas, organizar fóruns e assim, mostrar que buscam participação ativa nas decisões políticas.
Portanto, talvez seja duvidoso afirmar que não são interessados em política. Eles querem um novo jeito de fazer política.
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