A pesquisadora Fernanda Campagnucci abordou a visibilidade da
opinião dos professores (Credito: Mônica Casanova/CGM)
Após atuar como jornalista da área educacional, Fernanda Campagnucci notou que os professores da educação básica raramente eram ouvidos pela imprensa nos debates públicos sobre educação. “O professor não como ‘personagem’ para ilustrar uma reportagem, mas como autoridade no assunto. Afinal, ele está na ponta, executando as políticas educacionais”, destaca. A indagação deu origem a uma dissertação de mestrado sobre o “silêncio” dos professores. A seguir, a jornalista compartilha suas reflexões sobre as causas do problema e sugestões para reverter o quadro.
NET Educação – Por que os professores não são utilizados como fontes de reportagens?
Fernanda Campagnucci – Os jornalistas alegavam que tinham dificuldades em ouvir os professores. Os professores, por sua vez, diziam que não poderiam dar entrevistas por serem funcionários públicos, em decorrência da legislação. Houve a campanha “Fala Educador!”, em 2008, pela revogação dos dispositivos legais. Mas, com a revogação, o quadro não se alterou.
NET Educação – As condições de trabalho influenciam na “ausência” de voz?
Fernanda – Sim. Quase metade dos professores da rede estadual mantém um vínculo precário e temporário, o que gera insegurança e medo. As jornadas extenuantes e a ausência de suporte institucional são outros fatores.
NET Educação – Essa falta de voz prejudica a construção das políticas públicas?
Fernanda – Prejudica, os professores estão em posição privilegiada para opinar sobre a execução das políticas educacionais, porque estão na ponta. A privação da fala é uma violação de direito à livre expressão e de acesso à informação pela sociedade.
NET Educação – Como a mídia representa esse professor?
Fernanda – Há a culpabilização dos professores, que são tachados de mal formados ou negligentes. Mas há também uma tendência a “sacralizar” sua imagem, como se aqueles que conseguissem superar problemas estruturais à custa de sacrifícios fossem os heróis. Ambas as imagens são prejudiciais, porque afastam a noção de profissionalismo.
NET Educação – Os professores são ouvidos em alguma situação específica, como no caso de greves?
Fernanda – Nas greves, as fontes que predominam são os gestores e os sindicatos, que têm respaldo institucional para falar com a imprensa. Não é o caso dos professores que não representam o sindicato, mas que também deveriam ser ouvidos.
NET Educação – Quais as suas sugestões para que os professores se façam ouvir?
Fernanda – Precisaríamos do envolvimento não só dos professores, mas de jornalistas e gestores públicos. Para os professores, é importante conhecer a legislação atual, que não impede entrevistas. É verdade que muitos ainda recebem represálias. Nesse caso, é preciso procurar os canais de denúncia, como a própria imprensa, Ministério Público, ouvidoria, sindicatos, redes sociais, entre outros. O enfrentamento ainda é a melhor opção.
NET Educação – Qual o papel da internet nessa retomada do protagonismo dos professores?
Fernanda – Ela é um contraponto aos meios de comunicação tradicionais. Temos diversos casos de denúncias que foram ouvidas após serem divulgadas em blogs e redes sociais. Os professores devem se apropriar dessas ferramentas também. Para ficar com um exemplo, vimos o que aconteceu quando uma professora do Maranhão postou no Facebook a foto de um aluno com guarda-chuva dentro da sala de aula, por causa das péssimas condições do telhado, com goteiras. A primeira reação do gestor foi afastá-la. Com mensagens de apoio de todo o Brasil a situação foi revertida.
Após chuva, sala de aula do Colégio Guilherme Dourado, na cidade de Imperatriz
(Maranhão), ficou alagada e alunos tiveram que se proteger com guarda-chuvas
(Crédito: Uiliene Araújo/Arquivo Pessoal)
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