Na última década, pelo menos quatro tendências vistas no ambiente escolar passaram a influenciar os currículos de pedagogia do país: a precarização do trabalho docente; o uso acentuado das tecnologias; a necessidade de combater discriminações de gênero e orientação sexual, assim como a de promover ações antirracistas. Tais desafios sociais impactam no chão da escola e exigem preparo e, consequentemente, formação continuada dos professores e professoras.
A seguir, confira quatro links que ajudam a explicar essas transformações no universo do trabalho docente e seu impacto na forma como a formação inicial e continuada é – ou deveria ser – oferecida pelas faculdades e universidades:
Podcast – Papo no pátio: A “uberização” do trabalho docente
O programa da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) discute a relação da precarização do trabalho docente com as políticas públicas de formação. A professora do Instituto de Aplicação (Cap) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Amanda Moreira, relaciona as reformas que vieram a partir de 2016 – como a trabalhista, lei do teto de gastos e lei da terceirização – com as educacionais, como a do ensino médio, Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e de formação dos professores.
“O discurso que paira é que a universidade não sabe formar professores, que é teórica demais. Para a concepção de educação do empresariado, o problema da formação de professores é que este não sabe executar propostas pedagógicas prontas. Não cabe ser profissional crítico e que elabore e construa conhecimento com seus alunos”, descreve ela. “Combina perfeitamente com as condições de trabalho. Se o professor não tempo para preparar as aulas, se sentirá contemplado com o material pronto”, conclui.
Artigo – A formação de professores e as tecnologias digitais
A publicação de autoria de Vanessa Frizon, Marcia Lazzari, Flavia Peruzzo e Flavia Tibolla defende que, uma vez que tecnologias digitais provocam mudanças na sociedade, a escola precisa ser redimensionada para atender às demandas atuais. “Isso passa, consequentemente, pela formação inicial dos futuros professores”, reforça o documento.
Segundo elas, o uso das tecnologias digitais deve continuar ocorrendo na formação continuada, uma vez que as tecnologias estão em constante avanço. “É de fundamental importância para que este possa acompanhar as mudanças que estão ocorrendo na sociedade de modo geral, evitando que a escola não se torne obsoleta”, assinala o texto.
Tese – A inserção de disciplinas de gênero em cursos de Pedagogia de Faculdades de Educação: caminhos e desafios em três universidades federais em Minas Gerais
Doutor em educação pela Universidade de São Paulo, (USP), Alexandre Gomes Soares faz uma revisão de estudos sobre a prevalência de preconceito de gênero e orientação sexual no ambiente escolar. Sua pesquisa também aponta que professores recém-formados possuem dificuldades em observar e intervir nessas situações de discriminação.
Segundo ele, a formação, que deveria acompanhar esse fenômeno, não o faz. O estudo ainda aponta que o tema da diversidade sexual fica quase que exclusivamente restrito à formação continuada, principalmente as oferecidas por universidades públicas e em formato EaD. Quando presente na formação inicial, restringe-se às disciplinas optativas.
Partindo da premissa que a formação do professor em diversidade ajuda a enfrentar discriminações e promover igualdade na escola, o pesquisador estudou como três cursos de pedagogia de universidades públicas de Minas Gerais passaram a oferecer a temática em seus currículos.
Artigo – Relações étnico-raciais na formação inicial de professores: um olhar para os cursos de pedagogia de Mato Grosso do Sul
Além do racismo estrutural, que também impacta as relações no chão da escola, o currículo escolar brasileiro historicamente refletiu saberes eurocêntricos e inferiorizou a cultura de povos afro-brasileiros e africanos. A mudança se deu após pressão do Movimento Negro Brasileiro, que culminou na Lei nº 10.693/03, tornando obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio.
Ao analisar a formação inicial de professores para as relações étnicas-raciais nos cursos de pedagogia em seis instituições de Mato Grosso do Sul, Jakellinny Gonçalves de Souza Rizzo e Eugenia Portela de Siqueira Marques encontraram avanços. “Todos os cursos oferecem disciplinas relacionadas à temática, intencionando potencializar os futuros professores para educarem na perspectiva da educação antirracista e democrática”, afirmam as autoras no artigo.
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