Diversos municípios brasileiros adotaram leis e normas de incentivo aos telhados verdes desde 1999. As diferentes legislações abordam a iniciativa como compensação ambiental em construções; oferecem incentivos fiscais para quem a adota; obrigam sua utilização em prédios públicos ou garantem certificações para as construções que aderem à iniciativa.
Mas, afinal, o que são os telhados verdes? “É uma vegetação no topo de casas e prédios cujo solo será separado por uma estrutura. Esta pode ser alvenaria, concreto, metal ou outra ”, destaca o diretor do Broméliario do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ), Bruno Rezende Silva “Bromélio”.
A implantação pode ocorrer em edificações já construídas ou ainda projetadas. “Deve-se considerar se a estrutura física suporta o peso do telhado verde, que varia conforme o seu uso. Áreas de recreação com vegetação robusta exigem mais camada de solo para árvores adultas e raízes de plantas”, exemplifica a docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sylvana Melo dos Santos. “Por outro lado, telhados leves podem receber gramíneas, que necessitam de menos terra”, contrapõe.
Ainda é preciso impermeabilizar a laje contra infiltrações, nivelar os suportes e investir em camadas drenantes. “É importante pensar no local de armazenamento da água escoada dos telhados e nos dutos que irão conduzi-la”, completa Bromélio.
Bem-estar térmico
Segundo a paisagista especialista em preservação ambiental de cidades, Cecilia Polacow Herzog, estruturas semelhantes a telhados verdes já eram vistas na antiguidade.
“O modelo passou a se popularizar a partir da década de 80 em cidades como Berlim (Alemanha), na qual a medida foi aplicada em prédios públicos”, relata.
Tanto o usuário quanto a cidade se beneficiam de um telhado verde em atividade. Nas residências, sua vegetação barra o calor e deixa o interior fresco.
“Isso a torna uma boa opção para países de clima tropical, como o Brasil”, sugere Herzog, que é docente na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Também, o oposto é visto durante o clima frio, quando o teto verde impede que o calor do interior debande para fora. “Conforto térmico que também resulta em economia de energia”, pontua Bromélio.
Tecnologia ecológica
Já no âmbito macro, o telhado verde faz frente às ilhas de calor na cidade, provocadas pelo reflexo do sol no asfalto, além de prevenir enchentes.
“Uma vez que as plantas irão absorver a água que anteriormente correria para os esgotos. Pode ser um espaço para plantar e recuperar a mata nativa da região. Ainda, aumentar a polinização ao atrair pássaros e abelhas; pode garantir segurança alimentar e bem-estar psíquico”, lista ele.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, preconiza 12 m² de área verde por habitante na cidade.
Como desvantagem, os custos de instalação costumam ser mencionados em artigos acadêmicos sobre o assunto.
“Pode ser verdade em alguns casos, mas penso que a economia com manutenção do telhado e energia torna o modelo financeiramente melhor em longo prazo”, opina Bromélio.
Herzog concorda: “é comum casas com telhas convencionais terem goteiras”, aponta. “Quando plantadas espécies nativas da região, que são adaptadas ao clima local, nem irrigação é necessário”, ressalta.
Comunidade pioneira
Quem visita a comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro (RJ), pode conferir o primeiro ponto de transporte coletivo com telhado verde do município. A iniciativa é do arquiteto Guto Graciano em parceria com a chef de culinária orgânica, Graça dos Prazeres, e com apoio da associação de moradores.
“Ele foi instalado em 2014 e recebeu espécies medicinais orgânicas, plantadas por alunos da rede pública do local”, relembra Graciano.
O projeto foi declarado patrimônio cultural urbano de natureza imaterial da cidade pela Lei 6.555/2019. Além disso, serviu como a semente para o projeto de lei (PL) nº 1162/2019. Este dispõe a construção de telhados verdes em novas edificações e reformas de coberturas de habitações populares no município.
Paisagistas, arquitetos urbanistas, professores universitários, advogados, chefs de culinária, agrônomos e outros profissionais se uniram para viabilizar a proposta. “Se em larga escala nas favelas, podem gerar renda, complemento alimentar e subsistência aos moradores”, pontua Graciano.
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