Leonardo Valle
Dona de uma copa robusta, a tipuana é uma espécie de árvore boliviana plantada desde a década de 50 em diversos pontos da capital paulista. O que muita gente não sabe é da sua grande capacidade de absorver metais pesados presentes no ar, motivo pela qual ela é utilizada como biomarcador para a poluição da cidade há 30 anos, em um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Compostos químicos como zinco, cobre, alumínio, chumbo e enxofre são transportados junto com a seiva nos vasos da árvore e armazenados na sua madeira, mais precisamente em anéis que crescem todos os anos. Eles são monitorados periodicamente”, relata o pesquisador e pós-doutorando no Instituto de Botânica da USP, Giuliano Locosselli.
Essa capacidade de absorção, entretanto, não está restrita apenas a tipuana, sendo comum a todas as espécies, em maior ou menor grau. Assim, nas grandes cidades onde há maior emissão de poluentes por veículos, elas podem ajudar a melhorar a qualidade do ar.
“As árvores funcionam como um filtro. Como retiram substâncias da atmosfera para sobreviverem, levam consigo os elementos nocivos “, descreve Locosselli. “Nos nossos estudos, vemos que as que estão em bolsões de áreas verdes possuem 41% menos metais em suas cascas. Ou seja, quanto mais arborizada a região, melhor “, sintetiza.
Prevenção ao câncer
A bióloga Bruna Lara de Arantes é pesquisadora na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, em Piracicaba. Em sua tese de mestrado, em 2017, ela pesquisou a relação entre arborização, material particulado e casos de câncer de pulmão em idosos no município.
“A presença de árvores diminui a quantidade de material particulado no ar, poluente microscópico capaz de passar pela respiração humana sem ser filtrado”, contextualiza. Para encontrar os resultados, Arantes cruzou dados da Faculdade de Medicina sobre mortes de câncer de pulmão com os locais da cidade.
“Não podemos afirmar uma relação efetiva, mas o que vemos é uma tendência: mais mortes no centro, onde há baixíssima quantidade de espaços arborizados, em relação à periferia, onde há mais plantas nas calçadas, parques, praças e matas nativas”, revela.
“A baixa quantidade de áreas verdes no centro de São Paulo diz muito como ele foi ocupado no passado, sem planejamento. O oposto é visto nas capitais europeias como Berlim e Estocolmo, com grandes parques ao longo do município”, compara.
Árvores não bastam
Quando o assunto é a qualidade do ar, as árvores também são responsáveis por absorver o gás carbônico da atmosfera. “Com isso, ajudam a reduzir os efeitos do CO2 no aquecimento global”, pontua Locosselli.
Os benefícios desse tipo de vegetação para os cidadãos, contudo, não param por ai. “Elas transpiram água, melhorando a umidade do ar e a respiração na cidade. Sua concentração ajuda a baixar a temperatura local. Por fim, também melhoram o escoamento da água das chuvas, evitando enchentes”, lista.
Infelizmente, apenas plantar árvores não reduz o problema das grandes metrópoles como São Paulo. “Elas possuem um limite de absorção diário. Para completar, dados prévios de um estudo a ser lançado em breve mostram que a própria poluição também prejudica o seu organismo e funcionamento”, adianta o pesquisador. “O ideal é reduzir a emissão de poluentes, o que significa repensar a mobilidade das áreas urbanas, já que os veículos ainda são os principais emissores”, alerta Arantes.
Moradores podem colaborar plantando árvores, entretanto, devem fazê-lo com cautela. Isso porque existem contraindicações para calçadas e praças. “A espécie pau-ferro, por exemplo, tem galhos fracos que podem cair em dias de chuva. As raízes do ficus prejudicam a calçada, mas pode ser uma boa pedida para rotatórias”, informa a bióloga.
Para descobrir quais espécies são indicadas e os melhores locais de plantio, os moradores devem procurar a secretaria do meio ambiente da prefeitura de sua cidade. “Cada município tem indicações e legislações próprias. Alguns possuem viveiros e podem fornecer mudas aos moradores. Outros contam com programas de isenção de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana ou Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para moradores que plantam árvores. A dica é se informar”, ensina Arantes.
Crédito das imagens: filipefrazao – iStock e hallojulie – iStock