Leonardo Valle

A produção de energia solar promete crescer consideravelmente no Brasil. Segundo um relatório da empresa Greener sobre o setor, havia 160 MWp instalados no país no final de 2017 [esta unidade de medida indica a potência máxima que os painéis fotovoltaicos podem fornecer]. “Este ano, entrará em operação integral a usina de Pirapora (MG), com 400 MWp. Este valor é maior do que toda a potência já instalada”, comemora o engenheiro e professor da Universidade de São Paulo (USP), Claudio Roberto de Freitas Pacheco. “Para completar, outras duas usinas do mesmo porte estão em construção”, acrescenta.

O meio ambiente é o principal beneficiado com o avanço da produção de energia solar, que pode ocorrer de duas formas. Na conversão fotovoltaica, painéis convertem os raios de sol diretamente em energia. Já na conversão térmica, os raios são utilizados para aquecer a água utilizada numa casa, por exemplo. Ambos não emitem gases do efeito estufa.

“Estes gases são apontados como causadores do aumento da temperatura média da atmosfera com consequências desastrosas, tais como: elevação do nível médio dos mares pelo derretimento do gelo das calotas polares, desertificação pelo aumento da taxa de evaporação da umidade do solo e outros”, justifica Pacheco.

Outra vantagem é que os impactos ambientais de uma usina de geração de energia solar são menores do que os causados por aquelas que utilizam água para gerar eletricidade. “Uma hidrelétrica implica o aparecimento de um reservatório que impacta a fauna e a flora, além do deslocamento de populações”, ressalta o engenheiro. “Uma usina fotovoltaica, por exemplo a de Pirapora, está localizada em uma área onde nada se planta, não há qualquer intervenção maior no terreno e não gera qualquer tipo de resíduo”, acrescenta.

Potencial pouco explorado

O potencial do Brasil em energia solar, contudo, ainda não é aproveitado. Segundo Pacheco, a média anual de irradiância solar sobre o território brasileiro é de 3,9 kWh/m² dia, considerada uma das maiores do mundo. “Em contrapartida, dados de 2017 de um estudo técnico solicitado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados apontou que apenas 0,05% da geração de eletricidade no nosso país provém de fontes solares, ficando atrás de outras fontes renováveis como eólica (6,7%) e biomassa (9,4%)”, aponta a coordenadora do curso de engenharia elétrica do Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande (MS), Marcela Onizuka.

O déficit é ainda maior quando o Brasil é comparado com países europeus, como a Alemanha. Mesmo tendo menos irradiação solar que o Brasil, os alemães já produzem 50% da sua energia a partir do sol. Lá, o barateamento dos sistemas residenciais, a adesão da população e políticas de incentivo por parte do governo ajudaram a puxar os números para cima.

“O país que sempre usou carvão e energia nuclear como fontes de energia elétrica repensou a maneira de produzi-la devido ao fato do carvão ser um grande emissor de CO2. Desde o Acordo de Paris (2015), o país se comprometeu a reduzir seus níveis”, contextualiza Onizuka.

Desafios do setor

Para Pacheco, o setor deslancharia no Brasil a partir do aumento na produção de painéis, que resultaria na diminuição de seu preço e possível maior adesão da população. Além disso, também é necessária a formação de pessoas capacitadas para montar os equipamentos.

“A instalação deve ser realizada por um engenheiro responsável, que emita uma anotação de responsabilidade técnica (ART), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA)”, orienta. “Montagens feitas por amadores têm levado a erros bizarros, como coletores de aquecimento de água que ficam na maior parte do tempo na sombra ou instalações fotovoltaicas autônomas que expõem usuários a riscos de choque elétrico”, adverte.

Segundo Onizuka, apesar de ainda custosa, a instalação dos painéis solares deve ser encarada como um investimento a longo prazo. “O consumo de eletricidade é uma demanda contínua. Portanto, depois que a montagem dos equipamentos se pagar com a economia de energia, começará a haver apenas o ganho”, defende.

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