Leonardo Valle

Com um rebanho de aproximadamente 183 milhões de cabeças de gado de corte (Pesquisa Instituto Escolhas, 2020), a bovinocultura corresponde hoje a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Contudo, os resultados não levam em conta alguns fatores, como o montante de recursos recebidos pelo estado para a atividade se desenvolver, a quantidade de liberação de carbono do setor para a atmosfera e o consumo de água. Para analisar todas essas questões econômicas e ambientais, o Instituto Escolha lançou hoje (30/1) o estudo “Do pasto ao prato: subsídios e pegada ambiental da carne bovina”.

Segundo o levantamento, para cada quilo de carne produzido no Brasil, no período de 2008 a 2017, foram liberados 78 quilos de co2e/kg. Na região de Matopiba (Nordeste), a pegada de carbono alcança 183 quilos de co2e/kg, e 145 quilos de co2e/kg na Amazônia Legal. Em outros estados do país, a média foi de 23 quilos de co2/kg. Por sua vez, 64 litros de água é a pegada hídrica de cada quilo de carne bovina no país no mesmo período.

O levantamento ainda apontou que dos dois bilhões de toneladas de co2 emitidos na atmosfera no Brasil, entre 2008 e 2017, 290 milhões vieram do gado de corte. Ao analisar a pegada em diferentes tipos de pastos e manejos, o estudo mostrou que o desmatamento impacta a emissão de gás carbônico. Pastagens degradadas emitiram 1,83 tco2eq/ha/ano, contra zero das pastagens estáveis.

“Pastagens com manejo do gado removeram -4,63 tco2eq/ha/ano da atmosfera, assim como as de sistema integrado (lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta), com -6,23”, contou o pesquisador Roberto Strumpf.

Atualmente, o desmatamento pode ser realizado no Brasil com licença ambiental. “Como todo tipo de carbono é carbono, não fizemos a diferenciação se é proveniente de desmatamentos legais ou ilegais”, lembrou Strumpf. “Outros estudos do Instituto mostraram que não é necessário desmatar mais para conseguir uma boa produtividade”, acrescentou.

De acordo com a senadora Kátia Abreu, representante da bancada ruralista no Congresso, a questão do desmatamento barra na lei pétrea de propriedade privada. “O proprietário tem direito sobre a terra e a manejá-la como quiser, incluindo o desmatamento com licença ambiental. É um assunto que precisa ser discutido para se avançar”, sugeriu.

Abreu, porém, lembrou do interesse dos produtores por soluções sustentáveis. “Eles fazem isso não porque são bonzinhos, mas porque os estudos mostram que a adoção dessas medidas também dá lucro, além de que a sustentabilidade é um ativo importante para as empresas no mercado internacional”, enfatizou.

Estiveram presentes no lançamento (esq. para dir.) Petterson Molina, Kátia Abreu, o diretor executivo do Escolhas, Sergio Leitão, Bernard Appy e Roberto Strumpf (crédito: Leonardo Valle)

 

Sustentabilidade econômica

Em relação a área econômica, nos 10 anos analisados pelo estudo, os subsídios concedidos para a carne bovina foram de 123 bilhões de reais (ou 12,3 bilhões por ano). A pesquisa também considerou nessa conta incentivos, créditos rurais, renúncias fiscais, impostos, anistias e perdão de dívidas. Isso representou 9,7% do preço médio do quilo da carne bovina. Desses, 6,9% foram concedidos na esfera federal e 2,8% na estadual. “Ou seja, é o percentual de dinheiro público em cada quilo de carne que chegou ao prato do consumidor”, ilustrou o pesquisador do Instituto Escolhas, Petterson Molina.

Além disso, subsídios correspondem a 79% do que foi arrecadado em impostos na cadeia da carne bovina. “12,3 bilhões foram concedidos em subsídio e 15,1 bilhões foram arrecadados em impostos. Como os subsídios correspondem quase pela totalidade do que é arrecadado em impostos na cadeia da carne bovina, será o setor economicamente sustentável”, propõe o documento como ponto para reflexão.

Para o economista e diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), Bernard Appy, os dados sobre os impactos ambientais devem pautar políticas públicas para a carne. “Se o sistema emite co2, é necessário identificar essas externalidades negativas e combatê-las com uma maior tributação sobre a carne”, recomendou. “Entretanto, é preciso lembrar que necessitamos de uma reforma tributária geral, não somente no setor da carne ou da alimentação. Caso contrário, faremos apenas remendos em um sistema que já é complexo”, analisou.

“O levantamento dos dados sobre os subsídios da carne é importante porque podemos compará-los com a ajuda do governo para outros setores da alimentação”, disse Molina.

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