Leonardo Valle

Não é raro que os condomínios que possuem bicicletários se transformem em “cemitérios de bikes”, já que várias delas acabam sem uso, abandonadas pelos moradores. “As pessoas se mudam e deixam as bicicletas para trás. Os filhos também crescem e os modelos infantis se acumulam. Ou elas quebram e os donos preferem não arrumar”, lista o sócio-fundador e diretor do Instituto Aromeiazero, Murilo Casagrande.

Para acabar com o problema, a instituição orienta que os prédios e conjuntos residenciais façam uma campanha para que as bicicletas sejam reorganizadas e triadas.  “Elas podem ser doadas a uma organização. Outra ideia é distribuí-las entre os funcionários do condomínio, que podem usar o veículo no deslocamento ao trabalho”, sugere. 

Para iniciar a campanha, o primeiro passo é informar aos moradores que as bicicletas não identificadas serão doadas. “É importante estipular uma data-limite para quem não quer doar poder se manifestar. Após ser anunciada a ação, cada dono identifica a sua com etiquetas ou fitas”, orienta o especialista. “Após o término do período, separam-se as ‘esquecidas’ em outra área, para fazer a doação”, acrescenta. 

Rodinha Zero na escola EMEF Maria D’Alkimin, com bicicletas que foram doadas para o Instituto Aromeiazero (crédito: divulgação)

 

Estímulo e prevenção

Vale ainda os condôminos se organizarem para que novos cemitérios não se formem. “O bicicletário tem que ser um lugar vivo, onde as pessoas passem todos os dias por ali”, informa Casagrande.

Uma forma de evitar o problema é instalá-los em áreas mais acessíveis, iluminadas e próximas à saída. “Geralmente, as bicicletas ficam enfiadas no canto mais escuro da garagem, um lugar já esquecido e desestimulante”, aponta.

Segundo o diretor, bicicletários com modelos de gancho (bikes penduradas), são difíceis de operar por pessoas de menor estatura, como crianças. “Além disso, deixar materiais de oficina, bomba de ar de pé, bebedouro e até vestiário incentivam o uso”, destaca. 

Coleta de “magrelas”

O Instituto Aromeiazero atua em São Paulo recolhendo bicicletas de condomínios, sem custo para os moradores, para utilizá-las em projetos sociais. A organização promove um curso gratuito, o Viver de Bike, no qual os equipamentos recolhidos servem de material de aprendizado para aulas de mecânica voltadas para capacitar pessoas de baixa renda, principalmente mulheres. O objetivo é gerar renda ou aumentar a mobilidade a partir do uso desses veículos de duas rodas.

Já as infantis são utilizadas no Rodinha Zero, atividade que ensina crianças a pedalarem. “Outras são reformadas pelos alunos, alugadas para passeios e vendidas em um bazar”, complementa.

Instrutora orienta grupo de adolescentes da ONG Interferência, no Capão Redondo (crédito: divulgação)

 

Os projetos ocorrem desde 2011. “O primeiro começou com as bicicletas que estavam abandonadas no prédio onde eu morava”, revela Casagrande. “Já recolhemos 1198 bikes. Neste momento, precisamos de pelo menos mais 80 até o fim do ano, para nossos cursos”, ressalta.

O instituto também recebe doações de peças e acessórios que podem ser deixados no CDC Arena Radical, centro esportivo comunitário voltado para a prática de BMX e skate localizado na Vila Olímpia. “A bicicleta é chave para a saúde das pessoas, para as cidades e áreas rurais. São tantos os benefícios, que ela colabora com todos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU)”, declara Casagrande.

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Crédito da imagem principal: divulgação

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