Leonardo Valle

Seja no quintal de casa ou em hortas comunitárias, cada vez mais moradores de cidades têm demonstrado interesse em plantar. Para ajudar essas pessoas, foram surgindo, ao longo do país, as feiras de trocas de sementes.

“Poder produzir o próprio alimento é uma libertação social e ecológica. No primeiro caso, é possível ter acesso a um vegetal no quintal da sua casa, mesmo em momentos de crise econômica ou de dificuldades financeiras. Já ecologicamente, plantar diminui o consumo de produtos industrializados”, resume o coordenador da Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros, César “Sat” Barbosa.

As feiras de trocas também ajudam a preservar as sementes criolas, que não sofreram modificações genéticas. A necessidade de produção de alimentos em larga escala fez com que esse tipo de material fosse desaparecendo, sendo substituído pelas transgênicas.

“Por meio das feiras de sementes, conseguimos resgatar e fazer com que os materiais criolos voltem a circular na mão dos pequenos agricultores. Alguns são raros”, lembra Sat. “O mesmo vale para as sementes silvestres, que são nativas de áreas específicas, como do cerrado”, aponta.

Por fim, as feiras de troca são uma forma de estimular a economia criativa, que preza por formas de combater o consumo. “Depois do plantio, há o excedente de alimentos, que pode ser compartilhado e trocado. Esse é um dos princípios da agroecologia”, lembra Sat.

Plantas alimentícias

A jornalista Eliane Barros começou a frequentar as feirinhas para ter acesso a espécies que não eram encontradas nas lojas de jardinagem, como as plantas alimentícias não convencionais (PANCs). “Plantas como a beldroega, a bertalha e ora pro nobis são riquíssimas em nutrientes e foram sumindo do nosso dia a dia devido a industrialização”, denuncia. “As feiras ainda são oportunidades para conhecer o universo das plantas medicinais e ter contato com a biodiversidade brasileira, graças, sobretudo, ao papel fundamental exercido pelas comunidades camponesas, quilombolas e indígenas”, destaca.

Para compartilhar os conhecimentos que foi adquirindo sobre o tema, Barros criou o projeto “As sementeiras”. “As feiras nos mostram o quanto uma outra sociedade mais biodiversa, justa e solidária é possível e vem sendo construída pela soma de esforços. Esses espaços têm a potência de conectar pessoas e construir relações. É como disse Paulo Freire: ninguém se liberta sozinho, mas em comunhão com o outro”, ensina.

Feira virtual

Nem todas as cidades, porém, possuem as feiras de trocas de semente. Rosana Kunst sentiu isso na pele quando se mudou e deixou de participar da feira que acontecia em Porto Alegre (RS). Pensando em criar uma alternativa ao problema, ela e Thiago Locks elaboraram o site Sementeria. A iniciativa funciona como uma feira online, que conecta os “guardiões das sementes” com pessoas que desejam adquirir a espécie.

“O objetivo é facilitar a troca ou doação de sementes entre pessoas físicas, de forma totalmente gratuita. Não é permitida a comercialização desses materiais e nem o cadastro de plantas ilícitas no Brasil”, afirma. Para quem deseja adquirir sementes silvestres ou criolas, Sat deixa algumas dicas. “Cuidado apenas com o armazenamento, pois são delicadas. É recomendado conservá-las em cinzas ou em ambientes secos”, orienta.

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