As plantas medicinais fazem parte da cultura milenar do povo indígena Paiter Suruí. Contudo, o professor de biologia Alexandre Suruí percebeu que tais conhecimentos não mais faziam parte do dia a dia dos jovens da aldeia. Por esse motivo, ele teve a ideia de desenvolver o projeto “Plantas Medicinais do Povo Paiter: Resgatando os Conhecimentos Tradicionais” com os alunos do 2º ano do ensino médio da Escola Indígena Estadual Sertanista José do Carmo Santana, em Cacoal (RO). O objetivo era aliar o conteúdo curricular formal com os saberes da comunidade na qual a escola estava inserida.
“O currículo das escolas indígenas é específico e diferenciado, de acordo com a legislação brasileira, por isso, inserimos os conhecimentos dos Paiter Suruí como uma forma de fortalecer a nossa cultura. Pensando nisso, resolvi trabalhar as plantas medicinais conhecidas pelo meu povo”, justifica.
O docente propôs que os estudantes realizassem pesquisas com as pessoas da comunidade que retinham conhecimentos sobre as plantas medicinais. Para orientar o trabalho, o sabedor da aldeia foi contatado. “Foram realizadas aulas de campo, onde este sábio nos mostrou algumas plantas e os alunos pegaram mudas para plantarem no viveiro do nosso povoado”, relata. “A comunidade participou dando informações aos alunos sobre os conhecimentos que possuíam”, acrescenta.
Ao realizar o projeto, o professor trabalhou os conteúdos que faziam parte dos estudos da biologia, como plantas e doenças. “A proposta ajudou a resgatar os saberes sobre os remédios tradicionais que utilizávamos antes do contato com a sociedade não indígena. Esses conhecimentos não faziam parte da vivência dos alunos mais jovens, mas ainda são presentes na memória dos mais velhos. Porém, procuramos também orientar que, em determinadas situações e doenças, o médico deve ser consultado”, alerta.
Transmissão de conhecimentos
Segundo Suruí, o principal desafio do projeto foi a carência de internet na aldeia. “Para minhas aulas, preciso mostrar vídeos referentes aos conteúdos. Por isso, tenho que vir na cidade baixar os vídeos e salvá-los no pen drive”, destaca. “Os professores indígenas estão desenvolvendo bons projetos, mas a falta de internet dificulta muito o nosso trabalho”, lamenta.
Para os professores da cidade que queiram realizar projetos similares, Suruí deixa suas dicas. “O professor deve buscar apoio na comunidade sempre que for realizar alguma atividade que envolva os etnoconhecimentos do seu povo”, recomenda. “Os sabedores das aldeias são considerados como a nossa enciclopédia, onde buscamos o conhecimento a respeito da nossa cultura, devemos valorizar esses sábios”, assinala.
Já para os alunos, o principal ganho foi reconhecer que os conhecimentos da cultura Paiter Suruí também são ciência. “Eles merecem ser estudados igual aos outros conhecimentos da escola formal”, decreta.
O projeto de Alexandre Suruí foi um dos ganhadores do Prêmio Respostas para o Amanhã 2017, que tem coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).