Leonardo Valle

No dia 4 de abril de 1968, o pastor e ativista pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, Martin Luther King Jr., era assassinado. Ele ficou conhecido por lutar contra as políticas racistas e segregacionistas vigentes nos Estados Unidos na época com uma campanha pela não-violência. Seu discurso mais emblemático ocorreu durante uma marcha em Washington, em 1963, que reuniu 250 mil pessoas.

“Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter. De que os filhos de ex-escravos e de ex-donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da irmandade”, disse ele.

Cinquenta anos após a sua execução, seu legado ainda reverbera, principalmente no que diz respeito à cultura da paz. “Ele é considerado pacifista porque respondeu ao desagravo à injusta agressão sofrida pelos negros por meio de discursos voltados à construção de um pensamento crítico. Nunca por atos violentos”, diferencia a advogada, mestranda e pesquisadora de legislação antiracial pela Universidade de São Paulo (USP), Amarílis Costa.

“Ele defendia a chamada ‘desobediência civil’, ou seja, opor-se às leis de segregação racial então vigentes. O primeiro marco dessa estratégia foi Rosa Sparks que, em 1955, foi presa ao se recusar a ceder um acento de ônibus para um branco”, contextualiza a pesquisadora pelo Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora (Cecafro/PUC-SP), Marilia Romão Silva. “Mas, vale lembrar, contudo, que muitos dos protestos acabavam terminando em violência por parte da ação policial”, revela a historiadora.

Vida por um ideal

Segundo Silva, a pacificidade proposta pelo líder não pode ser confundida com “passividade”. Com seu discurso, ele conseguiu que brancos e negros saíssem, juntos, às ruas para lutar pelos direitos civis. “Como a marcha de Washington, na qual milhares de pessoas foram reunidas com o mesmo objetivo: luta por igualdade”, relembra.

Opinião semelhante possui Costa. Para ela, a maior herança de King foi ter dedicado sua vida para combater o racismo. “Seu legado foi o nível de comprometimento e profundidade com que tratou um ideal de igualdade. Ele viveu pela luta, por meio da luta e morreu por ela”, reforça.

Além disso, ambas enxergam paralelos entre a trajetória de King e da vereadora Marielle Franco, assassinada após denunciar crimes cometidos pela polícia militar nas favelas cariocas, cuja maior parte da população é negra. “Podemos analisar que o discurso ‘pacifista’ não é o suficiente para se isentar da violência reativa. Marielle também possuía ideais de luta contra a violência e, mesmo assim, foi assassinada cruelmente”, compara Silva.

Ainda de acordo Amarílis Costa, o fato de King ter desenvolvido uma estrutura de militância pacifista não pode ser utilizado para diminuir ou deslegitimar movimentos posteriores, como os ‘Panteras Negras’. “Estes muitas vezes iam para o confronto direto. Historicamente, são formas distintas e que possuem sua importância”, adverte.

Pontos a avançar

A batalha de Martin Luther King contribuiu para que o negro norte americano conquistasse o direito ao voto, coexistisse nos mesmos ambientes que o homem branco e ajudou no combate à Ku Klux Klan. Porém, para Costa, os direitos conquistados ainda não são plenos.

“A luta de King deu acesso à prerrogativa de cidadania ao negro americano. Mas, quando vemos movimentos como Black Lives Matter (vidas negras importam), sabemos que essa cidadania não foi conquistada de fato. Em outras palavras, a luta de King foi importante, mas ainda não acabou”, denuncia.

“Embora as leis de segregação tenham se extinguido, existe um legado refletido cruelmente na realidade dos negros, que sofrem diariamente com racismo estrutural, opressão policial e o encarceramento em massa”, assinala Silva.

Para a historiadora, outro ponto a avançar é na redistribuição econômica. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, os negros são maioria da população mais pobre. “Na época em que foi morto, Martin estava se voltando contra o poder econômico, usando a greve dos trabalhadores de saneamento e criticando as ações imperialistas dos EUA. Assim, foi um conjunto de fatores que resultou em sua morte”, finaliza.

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