Leonardo Valle

O Brasil é o sexto maior consumidor de medicamentos do mundo, segundo ranking publicado em 2018 pela empresa IQVIA. Apesar de haver poucos dados sobre o destino dessas substâncias que “sobram” nas casas dos consumidores, estima-se que a maioria seja descartada incorretamente.

“Uma vez no ambiente, esses resíduos podem provocar alterações na reprodução de organismos, em seu crescimento e comportamento, gerando um desequilíbrio ecológico”, explica a bióloga e doutoranda em ecologia aplicada ao manejo e conservação de recursos naturais, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Gabrielle Rabelo Quadra.

Outro problema é a contaminação das águas. “Da mesma forma que as estações de tratamento de esgoto não apresentam tecnologia suficiente para remoção dos resíduos dos medicamentos, as de tratamento de água também não. Assim, muitos deles já foram encontrados em água potável”, revela.

Estudos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estimam que os medicamentos mais vendidos no Brasil acabem nas águas, seja por descarte incorreto ou por resíduos presentes na urina e fezes de usuários, que terminam nas estações de esgoto.

As concentrações são baixas para seres humanos, mas a hipótese é que eles possam prejudicar a fauna e a flora. Em Porto Alegre (RS), estudos da UFRGS identificaram antibióticos, anti-inflamatórios, betabloqueadores, corticoides e hormônios em amostras de água da região.

“No meu estudo, o antidiabético metformina tem sido encontrado em concentrações significativas”, conta Quadra.

Os hormônios são os maiores causadores de desequilíbrios na reprodução dos organismos e os antibióticos podem causar resistência bacteriana.

“Atualmente, não sabemos as consequências da ingestão a longo prazo das concentrações encontradas, mas elas podem existir”, acrescenta.

Postos de coleta

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece o descarte de medicamentos por meio da chamada “logística reversa”, que funciona com farmácias e drogarias recolhendo produtos vencidos. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também possui postos de coleta.

“A melhor maneira é levar os medicamentos fora de uso ou vencidos nas farmácias ou unidades de saúde. Algumas universidades também apresentam postos de coleta e incentivam o descarte consciente”, ensina a bióloga.

De acordo com Quadra, não se deve jogar esses produtos fora de uso ou vencidos no lixo comum ou vaso sanitário e pia. “Uma vez descartados em lixo comum, os resíduos dos medicamentos são encaminhados para aterros sanitários e podem contaminar águas subterrâneas”, pontua.

“Descartados no vaso sanitário ou pia, eles não são completamente removidos em estações de tratamento de esgoto, entrando nos nossos recursos hídricos”, reforça.

Para descobrir o posto de coleta mais perto da sua casa, é possível consultar a plataforma Descarte Consciente ou o site do eCycle. Após serem deixados nos postos de coletas, alguns medicamentos podem ir para aterros sanitários de forma correta, enquanto outros precisam ser incinerados.

“Infelizmente, nem todos as cidades brasileiras apresentam regulamentação municipal para o recolhimento desses produtos. Mas isso está crescendo”, diz a bióloga.

Em cidades como Juiz de Fora (MG), as farmácias precisam comprovar que estão fazendo o destino correto destes medicamentos. “A vigilância sanitária tem fiscalizado e as drogarias só conseguem renovar o alvará de funcionamento demonstrando que estão realizando a coleta e a destinação adequada. Infelizmente, não podemos falar por outras cidades no Brasil”, lamenta a docente do curso de farmácia da UFJF, Pâmela Souza Silva.

“Se a sua cidade ainda não apresenta um posto de coleta, cobre na prefeitura para que isso seja feito. Além disso, o consumo consciente de medicamentos também é importante”, finaliza Quadra.

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Crédito da imagem: Bumblee_Dee – iStock

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