Leonardo Valle
Tão comuns no dia a dia da população, as rodovias causam problemas para as espécies da fauna brasileira, agravando o risco de extinção daquelas que já estão ameaçadas. Atualmente, o país possui aproximadamente 1,72 milhão de quilômetros de estradas, segundo dados de 2018 da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
“Diversos especialistas acreditam que a perda de animais por atropelamento em rodovias seja um dos principais impactos negativos para a fauna silvestre”, aponta a doutoranda da pós-graduação em ecologia aplicada da Universidade de São Paulo (USP) e sócia da ViaFAUNA Estudos Ambientais, Fernanda Abra.
Abra é pesquisadora da área de ecologia de estradas, com foco em atropelamento de mamíferos silvestres e suas implicações para a perda de biodiversidade, segurança humana e economia. Seu objetivo é adaptar as redes de estradas para minimizar seus efeitos sobre a vida selvagem. Em fevereiro de 2019, ela foi uma das ganhadoras do Future For Nature Awards, prêmio internacional que contempla iniciativas de jovens ativistas pela ecologia.
Qual o impacto das rodovias na fauna?
Fernanda Abra: São dois impactos diferentes: o atropelamento, que significa a perda de indivíduos da fauna, e o efeito barreira. Isso significa o desencorajamento dos animais em atravessar as rodovias por conta do tráfego, ruído, iluminação artificial etc. Ambos podem causar, inclusive, extinções locais.
É possível mitigar o problema?
Abra: Sim, é possível reduzir, mas não extinguir o problema. Enquanto uma rodovia estiver operando, o tráfego de veículos causará atropelamento de fauna. As medidas são diversas e com eficiências variáveis. As mais comuns e utilizadas em diversos países do mundo são as passagens de fauna em combinação de cercas condutoras, que apresentam excelente custo-benefício. Elas são estruturas construídas por baixo da rodovia por onde os animais podem atravessar em segurança. As cercas acompanham as passagens de fauna. Os animais são barrados pelas cercas quando querem atravessar e, depois, guiados até uma passagem segura.
As placas de sinalização são medidas eficientes para reduzir atropelamentos da fauna?
Abra: Não. Elas são ineficientes em rodovias, pois a mensagem de uma placa é inespecífica no tempo e no espaço, ou seja, quando o motorista lê a placa ele não sabe quando e onde o animal poderá atravessar. Assim, com o tempo, elas vão ficando desacreditadas. A literatura científica diz que as placas apresentam uma eficiência entre 0 e 3% na redução dos atropelamentos da fauna.
Há políticas públicas que olham para esse tema?
Abra: Os licenciamentos ambientais rodoviários prevêem em suas licenças prévias de instalação e operação algumas condicionantes específicas sobre o tema. Por exemplo, os órgãos ambientais podem pedir estudos específicos sobre atropelamento de fauna, solicitar medidas de mitigação em pontos estratégicos das rodovias, solicitar monitoramento de passagens de fauna etc. Além disso, atualmente está tramitando um projeto de lei federal que trata da obrigação de adoção de medidas mitigadoras de atropelamento de fauna em rodovias.
Quais animais costumam sofrer?
Abra: Eu posso falar especificamente sobre mamíferos de médio e grande porte. No Estado de São Paulo, as capivaras são os mamíferos mais atropelados. Tatu galinha, tatu peba, cachorro do mato e lebre também apresentam altos números de indivíduos atropelados. Essas espécies são comuns e possuem hábitos generalistas, porém também existe um alto número de indivíduos atropelados de espécies já ameaçadas de extinção, é o caso da onça-parda, lobo guará, jaguatirica, tamanduá-bandeira, entre outros.
As rodovias podem ameaçar animais em risco de extinção?
Abra: Certamente, diversos especialistas acreditam que a perda de indivíduos por atropelamento em rodovias seja um dos principais impactos negativos para a fauna silvestre.
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Crédito da imagem: Jeffrey Schreier – iStock